Cristiane Mörs, diretora de Vendas e Marketing da Laghetto: "Desde julho, todos nossos finais de semana são de ocupação máxima" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 21 de outubro de 2024 às 12h48.
Última atualização em 21 de outubro de 2024 às 13h45.
Quando o Airbus A320 da Azul tocou o solo do Aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre na manhã desta segunda-feira, 21, pousava por ali não só 174 passageiros, mas também a esperança de melhores momentos para empresários e empreendedores do setor de turismo do Rio Grande do Sul.
Há cinco meses, desde que as águas do Guaíba inundaram boa parte de Porto Alegre com uma enchente histórica, uma das principais portas de entrada do estado estava fora de operação. Quem quisesse chegar em solo gaúcho voando, precisava usar algum aeroporto do interior do Rio Grande do Sul — sujeito a fechamentos constantes — ou descer em Santa Catarina e percorrer pelo menos seis horas de estrada até chegar aos pampas.
A dificuldade de chegar no Estado repeliu os turistas. Cidades cujo turismo é a principal vocação econômica, como é o caso de Gramado, na serra gaúcha, sentiram o sumiço das pessoas na pele — ou, para ser mais literal, no bolso. Ainda mais no inverno, uma das principais datas de circulação na região, conhecida por suas baixas temperaturas.
"O turismo representa 86% da economia de Gramado”, disse o secretário de Turismo da cidade, Ricardo Reginato, em entrevista recente à EXAME. “Ou seja, podemos dizer que ele é responsável pela existência da cidade, que lá no passado escolheu ter uma matriz econômica baseada no turismo".
O turismo da cidade é baseado no mercado nacional. Mas, sem o aeroporto, o foco passou a ser regional. Em julho de 2023, o mercado de São Paulo representou 30% da movimentação, atrás apenas dos gaúchos e na frente dos catarinenses. Em 2024, a ordem se inverteu. Os catarinenses foram 28% e os paulistas passaram a representar apenas 19%.
“Fomos trabalhando com público regional, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, e alguns corajosos que vinham de carro de São Paulo”, diz Cristiane Mörs, diretora de Vendas e Marketing da Laghetto, a principal rede hoteleira de Gramado. “Julho foi muito bom, superou as expectativas, mas sempre focado no fim de semana, porque é o turista que só tem o fim de semana para viajar”.
Pelo menos era até agora. Com a retomada do aeroporto, voltam ao estado os turistas que optam por passar férias na cidade — e estão dispostos a passar mais dias (e gastar mais dinheiro) por ali.
“Quando foi anunciada a data de abertura do aeroporto, as vendas cresceram muito”, afirma Cristiane. “Em novembro, já temos vendido algo em torno de 75% da nossa ocupação, o que é muito bom, porque é um mês ainda sem muitas datas comemorativas”.
Mesmo sem datas comemorativas, Gramado já celebra o Natal Luz, principal evento da cidade. A abertura foi agora em outubro, e os festejos vão até meados de janeiro. É a data mais estratégica do ano para os moradores e empresários da cidade. A volta do aeroporto deve ajudar.
“Já vendemos 60% da nossa ocupação para dezembro, e os números devem crescer ao longo do mês de novembro”, afirma a executiva. “Devemos chegar em dezembro com 85% a 90% da nossa ocupação, um resultado que se equipara ou até melhor do que ano passado”.
Como a Laghetto é a parceira oficial do evento, consegue também descontos nos ingressos, o que acaba por ser um atrativo. Mas o clima de esperança está em toda a rede hoteleira da cidade.
“Pessoal do setor estava muito assustado, apreensivo. Hoje é um grande marco para nós. As pessoas vão ficar mais tranquilas a partir de hoje, com a volta do aeroporto”.
A volta do aeroporto é um sopro de esperança para os gramadenses. "Só faltava ele. Tínhamos tudo para oferecer, menos a conectividade", afirma o secretário.
Desde o final de maio, tudo já estava funcionando em Gramado. Na época, foi feita uma convocatória para que o empresário local retomasse as atividades ao final do mês.
"No fim do mês já tínhamos 85% da cadeia de turismo funcionando na cidade. Apenas não abriram aqueles que sofreram danos estruturais ou aqueles que tinham mais de uma unidade. Desde então, operamos integralmente, com fluxo ou sem fluxo", explica. Hoje, sem o aeroporto, a ocupação dos leitos hoteleiros da cidade flutuam entre 40% e 45% aos fins de semana, com 30% em dias de semana.
"Em maio estávamos vindo com uma projeção maior do que a do ano passado. Mas os meses de maio até setembro foram quase que um hiato: parece que não existiu", diz Ricardo Reginato.
No mês de julho dos 26 mil leitos hoteleiros, apenas 55% foram ocupados. O prejuízo na atividade econômica estimado, por causa das enchentes, já superam a marca de R$ 1 bilhão. Mas, com a volta do Aeroporto Salgado Filho, a expectativa da pasta é que a ocupação fique entre 30% e 70% até o fim do ano.
A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.