Carlos Slim: mexicanos indignados com a promessa de Trump de intensificar deportações e construir um muro às custas do México começaram a considerar a ideia de que talvez Slim seja exatamente o que o país precisa (Edgard Garrido/Reuters)
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2017 às 16h55.
São Paulo/Cidade do México - Em 15 de junho de 2015, um dia antes de Donald Trump lançar sua campanha à presidência dos EUA, a fortuna pessoal de Carlos Slim totalizava pouco menos de US$ 67 bilhões.
Hoje, ela está em torno de US$ 51 bilhões.
Ninguém na face da Terra perdeu mais durante a ascensão de Trump — pelo menos em termos de dinheiro — que o magnata mexicano das telecomunicações.
Ele caiu para a sexta posição no Bloomberg Billionaires Index, embora já tenha ocupado o primeiro lugar.
Alguns dos motivos da queda, é claro, têm pouco a ver com a política dos EUA, mas grande parte dela se resume a isso: o discurso duro de Trump em relação ao México derrubou o peso, reduzindo o valor em dólares dos ativos locais de Slim no processo.
No entanto, há outro elemento, completamente inesperado, na saga de Slim. As mesmas forças que estão encolhendo sua fortuna também estão, estranhamente, aumentando sua popularidade em seu país natal — a ponto de que agora ele é mencionado como um candidato desejável na eleição presidencial do próximo ano.
Depois que Slim se reuniu com Trump em uma visita em dezembro, mexicanos indignados com a promessa de Trump de intensificar deportações e construir um muro na fronteira às custas do México começaram a considerar a ideia de que talvez o magnata de 77 anos seja exatamente o que o país precisa.
Uma pesquisa realizada pelo jornal El Universal em janeiro mostrou que Slim era considerado o mexicano mais apto para enfrentar Trump, ultrapassando o populista Andrés Manuel López Obrador, inicialmente o candidato favorito.
Seus pedidos de que a economia mexicana se volte a si mesma, assim como seu enorme patrimônio e sua posição desafiante em relação a Trump, repercutiram entre os mexicanos.
E, embora tenha sido duramente criticado em seu país natal por suas práticas empresariais implacáveis, Slim se tornou politicamente palatável à medida que as contas de celulares se tornaram mais baratas por causa de uma guerra de preços e repressão regulatória.
Sua candidatura pode ser improvável — ele disse à Bloomberg TV em dezembro que “nunca” se candidataria a um cargo —, mas os mexicanos estão esperançosos.
“Slim disse que não estava interessado”, disse David Crow, analista político do Centro de Investigación y Docencia Económicas na Cidade do México.
“Ninguém realmente acredita nisso nem quer acreditar. Ele é mais Trump do que Trump. Ele é semelhante, porque é um nome do setor privado, mas ele é incrivelmente rico e supera em muito Trump nesse quesito.”
De fato, Slim, que há pouco tempo, em 2013, era a pessoa mais rica do mundo, tem um patrimônio 17 vezes maior que os atuais US$ 3 bilhões de Trump.
Quanto à sua recente popularidade, um porta-voz disse que a queda de preço das contas de celular para os mexicanos não é necessariamente o motivo.
“Felizmente, o povo mexicano começou a perceber que ele é um homem de negócios honesto, inteligente e de princípios que ajudou muita gente”, disse Arturo Elías Ayub, da Cidade do México.