GARÇOM EM SÃO PAULO: 19% dos bares compram Heineken por conta própria, por falhas na entrega da rede própria / REUTERS/ Nacho Doce (Nacho Doce)
Lucas Amorim
Publicado em 8 de janeiro de 2020 às 11h53.
Última atualização em 14 de janeiro de 2020 às 09h08.
São Paulo — Para os analistas do banco Credit Suisse, visitar bares é coisa séria. O banco divulgou nesta terça-feira a segunda versão de um relatório divulgado pela primeira vez em janeiro de 2019, com o objetivo de medir a força das cervejarias em bairros nobres e sobretudo em regiões mais afastadas de São Paulo.
A equipe visitou 115 bares de 40 bairros — é uma pequena mostra dentro dos 15.000 bares paulistanos, mas que reproduz a distribuição populacional e de renda da maior cidade do país. E descobriu que a maior cervejaria do país, a Ambev, segue imbatível na distribuição, sobretudo entre os bares mais populares. Assim como em 2019, a Skol é a marca mais vendida em bares de 10 das 11 regiões de São Paulo — a exceção é o abonado Itaim, onde a Heineken lidera.
As cervejas da Ambev foram encontradas em 97% dos bares, ante 84% do ano passado, com 100% de penetração na periferia. As cervejas de sua maior concorrente no Brasil, a holandesa Heineken, por sua vez, foram encontradas em 85% dos estabelecimentos (mas apenas 66% destes são atendidos diretamente pela Heineken, ante 60% de 2019). O Grupo Petrópolis, dono da Itaipava, também ganhou volume — atende 68% dos bares, ante 55% do ano passado.
A Heineken travou recentemente disputa judicial com a Coca-Cola, historicamente responsável pela distribuição de suas cervejas no Brasil. Os holandeses anunciaram em 2017 o rompimento do contrato, mas uma decisão judicial do fim do ano passado determinou que o contrato seguirá em vigor até 2022. Hoje, a Coca é responsável por distribuir as marcas Heineken, Amstel, Kaiser e Bavaria, enquanto a rede própria distribui Schin, Devassa e Eisenbahn. A salada traz dificuldades na ponta.
Além disso, a Heineken sofre com um excesso de demanda. No fim de 2019 a companhia anunciou investimentos para dobrar sua capacidade de produção no Brasil. Como medida emergencial, segundo EXAME apurou, a companhia parou de fabricar algumas linhas de sua marca Eisenbahn, para focar as categorias de maior volume.
Nos últimos 12 meses o Brasil passou de quarto para maior mercado em volume da marca Heineken no mundo, o que acentuou falhas logísticas — uma oportunidade que, como mostra o Credit Suisse, pode ser explorada pela Ambev.
Segundo o relatório, 19% dos bares pesquisados compram as cervejas da Heineken de outros distribuidores que não a Coca, e 39% deles têm problemas de distribuição com a marca Heineken.
Na disputa pelo nicho de mercado que mais cresce no Brasil, o de cervejas premium, a incursão do Credit Suisse mostrou que a Ambev segue com desafios pela frente. Apenas 55% dos bares visitados vende Skol Puro Malte, a versão mais refinada da principal marca da Ambev, enquanto 88% vendem a Skol tradicional. “A percepção dos donos de bares é que a Skol Puro Malte ainda não ganhou suficiente tração entre os consumidores”, escrevem os analistas Antonio Gonzalez e Marcella Recchia, do Credit.
A Ambev tem uma vantagem competitiva, segundo o Credit, ao ter uma arquitetura de preços mais consistente, com suas marcas premium, como Stella Artois e Corona, de fato oferecidas como produtos de ponta em pontos de venda selecionados. A marca Heineken, por sua vez, é posicionada em todos os segmentos, até o popular, com as latas.
No preço por litro, a cerveja mais cara pesquisada é a Corona long neck, com média de 33,8 reais por litro (algo como 11 reais a long neck), seguida de Stella Artois long nick (29 reais o litro) e Heineken long nick (26 reais o litro). Na base estão Itaipava litrão (média de 10 reais o litro), Schin lata (10,7 reais), Antárctica e Brahma litrão (11 reais).