Fátima Pissarra, CEO da Mynd: marketing de influência para as massas (Mynd/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 22 de março de 2024 às 13h08.
Última atualização em 3 de abril de 2024 às 14h12.
A empreendedora Fátima Pissarra, fundadora da agência de marketing de influência Mynd, quer provar que a inteligência artificial também pode ser útil para agilizar a vida de influenciadores digitais às voltas com a falta de tempo para montar uma publi em meio à correria do dia a dia.
A Mynd é uma das pioneiras no Brasil na consultoria sobre o que faz sentido falar nas redes sociais — e o que é melhor evitar — na hora de buscar engajamento de qualidade.
Fundada em 2017, a empresa por um lado assessora grandes empresas na hora de definir o conteúdo de campanhas para redes sociais, bem como a encontrar os influenciadores corretos para a mensagem a ser passada. Na lista estão nomes como Unilever e Mondelez.
Por outro, conta com um casting de mais de 400 influenciadores nacionais e estrangeiros. Para essa turma, a empresa faz a gestão da carreira, bem como ajuda a fazer o match com empresas dispostas a associar a marca à imagem do influenciador.
O portfólio da Mynd inclui nomes alçados à fama por causa das redes sociais, como Lore Improta, além de artistas com uma presença digital azeitada, como os cantores Pabllo Vittar e Luisa Sonza.
O Brasil é um lugar perfeito para um negócio como o da Mynd. O país é o recordista mundial em influenciadores digitais no Instagram: são 500.000 criadores de conteúdo com mais de 10.000 seguidores na rede, segundo a Nielsen.
No cômputo de todas as redes sociais, há algo como 10 milhões de brasileiros criando conteúdo online, um contingente só abaixo do visto nos Estados Unidos.
“A minha visão é a de que todo mundo pode ser um influenciador em algum tema que domine”, diz Pissarra, que é formada em jornalismo, com especialização em marketing e psicologia. Pissarra foi uma das primeiras CEOs da Billboard Brasil. Em 2012, entrou no marketing de influência numa época em que Facebook e Instagram ainda engatinhavam no Brasil.
“A remuneração média de um influenciador no Brasil hoje é de 2.500 reais, acima do salário mínimo (de 1.412 reais em 2024)”, diz ela. “Para uma mulher dona de casa com conhecimentos apurados de cuidados de beleza, por exemplo, virar uma influenciadora digital é um caminho rápido para expandir a renda.”
Em função da terra fértil por onde atua, a Mynd cresce numa rapidez digna de unicórnio. Com apenas sete anos de vida, a empresa espera receitas de 500 milhões de reais em 2024, uma alta de 35% sobre o resultado do ano passado: 370 milhões de reais.
Uma das apostas para o ano é a automação de boa parte do trabalho de produção de conteúdo online. Em evento para o mercado publicitário no fim de fevereiro, a empresa lançou três tecnologias que, em maior ou menor grau, usam IA.
O primeiro deles é o Mynd Monitor Intelligence, uma ferramenta com mais de 300 contas de personalidades muito influentes nas redes sociais. Um robô virtual mapeia o que essa turma está falando em tempo real e que está virando um trending topic. O objetivo é alertar as marcas sobre os assuntos em alta e, assim, dar alguma ideia para elas entrarem nessas conversas.
O mapeamento de assuntos em alta dá espaço para a segunda ferramenta da Mynd lançada recentemente. O software Buzz Lab cria conteúdos derivados dessas conversas e, assim, com chances de viralizarem no meio de conversas que estão bombando.
“As marcas não querem mais produzir um conteúdo completamente desconectado com o que as pessoas estão falando naquele momento”, diz ela. “Isso não gera mais o mesmo engajamento de antigamente.”
Em paralelo às ferramentas voltadas para empresas, a Mynd também aposta em tecnologia para facilitar o dia a dia dos influenciadores.
O AI Squad, criado pela empresa de inteligência artificial AKA Stars e adotada na plataforma da Mynd, é uma automação do processo de criação de conteúdo com base num modelo próprio de linguagem em larga escala, conhecidos pela sigla LLM (large language models).
São essas bases de bilhões de dados agregados que, estimuladas por algoritmos, conseguem formular respostas elaboradas. E, em alguns casos, estabelecer conexões entre fatos com uma precisão igual ou superior à do cérebro humano. A função do AI Squad é resolver boa parte do trabalho, digamos, mais braçal de um influenciador digital.
"O AI Squad é a primeira plataforma do mundo a oferecer os influenciadores de uma forma mais eficiente, viabilizando esse formato e otimizando o budget das marcas", diz Fátima.
"Basta o creator gravar de 2 a 5 minutos de conteúdo para que um boneco seu seja criado. Isso vai facilitar muito a entrega das publicidades, já que será possível produzir vídeos de maneira mais prática e rápida e conteúdos mais ‘a toque de caixa’. Pretendemos usar essa tecnologia para otimizar o tempo dos influenciadores quando o deadline for curto e quando a marca quiser recorrência de conteúdo."
Entre os sócios de Pissarra estão a cantora Preta Gil e os empresários Marcus Buaiz e Carlos Scappini. Empresário com trajetória extensa em negócios da economia criativa, Buaiz associou-se à Mynd no ano passado. Nos planos do empresário está a internacionalização da empresa, bem como uma eventual abertura de capital.
Até recentemente, a Mynd também comercializava espaços de mídia em canais informativos nascidos na internet, numa parceria com a agência de veículos digitais Banca Digital encerrada oficialmente nesta semana, de acordo com informação do portal Leo Dias confirmada pela EXAME.
A partir de agora, a Banca Digital passa a ser uma empresa 100% independente comercialmente e irá negociar diretamente com clientes, sejam eles marcas, agências ou parceiros, segundo nota enviada pela assessoria de imprensa da Mynd.
Na lista de perfis ligados à Banca Digital esteve o site de fofoca Choquei, alvo de controvérsia no fim do ano passado ao repercutir um suposto affair do humorista Whindersson Nunes com uma fã.
A repercussão do caso levou a um processo de linchamento virtual contra a jovem, que cometeu suicídio, e contra o próprio perfil da Choquei, apontado como indutor da tragédia.
De acordo com a Mynd, a parceria comercial da Banca Digital com o Choquei havia sido encerrada há dois anos, antes da controvérsia ao redor do humorista Whindersson Nunes, e que nunca possuiu controle sobre o conteúdo editorial publicado nos perfis jornalísticos cuja monetização havia sido intermediada pela Banca Digital.