Alessio Mainardi, da Zucchetti ao centro, e Nahim Silva, Rafael Figueiredo, Rodrigo Figueiredo e Bruno Kawakami, da D4Sign: essa é a maior entre as oito aquisições da italiana no Brasil (Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 3 de outubro de 2024 às 10h00.
Na pandemia, além de todas as questões financeiras e de saúde relacionadas às restrições sanitárias, empresas tiveram um desafio extra. De um dia para o outro, como fazer clientes, funcionários e fornecedores assinarem contratos, se não era possível encontrar outras pessoas?
A alternativa foi apostar nas assinaturas digitais, que ganharam fôlego durante o período.
Para se ter uma ideia, esse mercado, globalmente, valia US$ 1,5 bilhão em 2019. Dois anos depois, já na pandemia, o número praticamente triplicou, para US$ 4,5 bilhões. As empresas que já estavam no setor, claro, surfaram na onda.
Uma delas foi a paulista D4Sign, uma plataforma de assinatura eletrônica e digital de armazenamento e gestão de documentos. Criada em 2015, e seguindo uma toada de crescimento de 50% ao ano, a empresa viu a demanda explodir durante a pandemia. Não à toa, cresceu 400% em 2020.
Hoje em dia, segue crescendo nos patamares pré-pandêmicos. Pelo menos até agora.
Isso porque a empresa acaba de ser comprada pela bilionária multinacional italiana Zucchetti com objetivo de crescer de tamanho e expandir, inclusive, para fora do Brasil.
O grupo italiano de tecnologia e software de gestão empresarial é um gigante com 8.000 funcionários pelo mundo e um faturamento na casa dos 2 bilhões de euros — 12 bilhões de reais, na cotação atual. No Brasil, está presente há 15 anos, com sede em Florianópolis.
A empresa italiana pagou 180 milhões de reais pelo negócio brasileiro de assinaturas digitais. É, portanto, a maior aquisição da história da Zucchetti no Brasil — a empresa já fez outras sete aquisições por aqui e tem, como uma das estratégias de crescimento, a compra de operações.
Os quatro sócios da D4Sign continuarão na operação, agora como executivos da Zucchetti.
A D4Sign nasceu em 2015, quando falar de assinatura digital ainda era um desafio no Brasil.
“Na época, existiam pouquíssimos players explorando como achávamos que fazia sentido. Precisa ter uma segurança muito forte no processo de assinatura. Ninguém explorava isso da forma adequada”, diz Rafael Figueiredo, que é sócio do negócio junto de Rodrigo Figueiredo, Nahim Silva e Bruno Kawakami.
Figueiredo, que vinha da área jurídica de outras empresas, decidiu que montaria um negócio de assinatura eletrônica com todos os respaldos e seguranças necessários.
“Fizemos acontecer com o próprio caixa. Investimos 20.000 reais, começamos a trabalhar”, afirma. “Gerando caixa, fomos contratando pessoas, melhorando o produto”.
Hoje em dia, a D4Sign é uma das principais empresas de assinaturas eletrônicas do país, com cerca de 35.000 clientes ativos. Também fornece outros serviços, como gestão documental e, mais recentemente, uma inteligência artificial que resume os pontos principais dos documentos para agilizar a leitura do cliente.
Com o boom do negócio durante a pandemia, a D4Sign começou a ser procurada por vários fundos e empresas que queriam entender melhor o modelo do negócio e, eventualmente, aportar na operação.
“Recebemos várias propostas, mas nenhuma que fizesse sentido para gente”, diz Figueiredo. “Então, contratamos uma consultoria (a Pipeline Capital) que nos ajudou nesse processo de venda. Eles entraram em contato com a Zucchetti, vimos que tinha uma sinergia e a negociação avançou”.
A Zucchetti é uma multinacional italiana com atuação no Brasil há 15 anos. O país, inclusive, é o segundo maior da companhia — presente em 15 nações — em termos de clientes e funcionários. Só perde para a sede, Itália.
A empresa tem três verticais de negócios: ERP para indústria, varejo e HRTech — que foi consolidada com a aquisição da Elofy em 2021.
As aquisições, aliás, são uma das principais estratégias da empresa para crescer internamente. A compra da D4Sign é a oitava em solo brasileiro, e mais uma deve acontecer até o final do ano.
“Quando a consultoria da D4Sign nos procurou e eu bati o olho, entendi que era um nome forte no mercado e do qual já conhecíamos as características do produto, porque a Zucchetti era cliente da empresa”, diz o CEO da italiana no Brasil, Alessio Mainardi.
Aí, foi o movimento de junção de sinergia.
“A D4, apesar de ser a principal empresa brasileira de assinatura digital, tem uma grande chance de crescer no mercado, inclusive internacional”, diz Mainardi. “Além disso, existe uma possibilidade de trabalhar em conjunto em cima da nossa base de clientes. E trabalhar revenda, 3.000 revendedores da Zucchetti que querem mais produtos para levar ao mercado”.
A modalidade de faturamento continuará como era antes da aquisição, a partir de uma recorrência, cujo preço mensal varia conforme a quantidade de assinaturas que cada empresa queira processar num mês. Isso permite que o negócio atenda desde PMEs até grandes companhias.
“Queremos manter o crescimento muito significativo. É uma empresa que cresce 40% ao ano”, diz o CEO. “Vamos construir, em cima disso, alguns objetivos secundários, que pode ser uma expansão internacional, ou aumentar o market share, mas isso vamos construir a quatro mãos”.