Christophe de Margerie, presidente da Total, tinha 63 anos (Philippe Wojazer/Files/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2014 às 12h46.
Moscou - A morte em um acidente aéreo em Moscou de Christophe de Margerie, presidente da maior empresa francesa, a multinacional do petróleo Total, provocou uma grande comoção na França, ao mesmo tempo em que o presidente russo, Vladimir Putin, prestou uma homenagem a um "verdadeiro amigo" do país.
O avião privado do empresário, um jato Falcon-50, bateu na segunda-feira à noite, no momento da decolagem, em uma máquina de limpeza de neve no aeroporto de Vnoukovo.
A tragédia matou os três tripulantes e o executivo de 63 anos, presidente da maior empresa francesa em termos de lucro e volume de negócios e a segunda por capitalização na Bolsa.
Segundo o comitê de investigação russo, o acidente aconteceu por uma negligência criminosa da direção do aeroporto moscovita. Os investigadores indicaram que o condutor da máquina limpa-neve estava embriagado, mas o advogado deste negou a informação.
"Não se trata de um trágico concurso de circunstâncias e sim de uma negligência criminal de funcionários que falharam na tarefa de coordenar corretamente seus empregados", indicou o comitê.
O comunicado oficial acrescenta que alguns membros da direção do Vnoukovo que tentaram dificultar a investigação serão suspensos de suas funções.
Depois de tomar conhecimento do acidente, o presidente francês, François Hollande, elogiou o talento de Margerie e recordou que ele colocou a Total "entre as primeiríssimas empresas do mundo", enquanto o primeiro-ministro Manuel Valls disse que a França perde "um grande capitão da indústria e um patriota".
Margerie, presidente da Total desde 2010, era um "verdadeiro amigo de nosso país" e personagem de uma "frutífera cooperação entre Rússia e França", afirmou o presidente russo Vladimir Putin.
Segundo o jornal russo Vedomosti, Margerie retornava a Paris depois de uma reunião com o primeiro-ministro Dmitri Medvedev sobre investimentos estrangeiros na Rússia.
O francês, com bons contatos entre as autoridades russas, defendia investimentos no país, em um momento de tensão provocado pelas sanções ocidentais a Moscou motivada pelo conflito ucraniano.
Margerie considerava as sanções inúteis e defendia um "diálogo construtivo" com a Rússia.
Gigante mundial
Presente em 130 países de todos os continentes, a Total registrou em 2013 um volume de negócios de 189,5 bilhões de euros (US$ 245 bilhões), tem 100.000 funcionários e é a maior empresa francesa pela dimensão de suas atividades.
O grupo é o quinto maior do setor de petróleo e gás com cotação na Bolsa, em termos de capitalização.
"A Total deve seguir seu caminho após a morte de seu presidente", afirmou o secretário-geral do grupo, Jean Jacques Guilbaud.
Margerie morreu sem ter designado um sucessor, mas estava cercado por assessores capazes de assumir o cargo, segundo fontes da empresa.
Nascido em 6 de agosto de 1951, Christophe de Margerie cresceu em uma família de diplomatas e dirigentes empresariais. Era casado e tinha três filhos.
Conhecido como o "Grande Bigode", por seu espesso bigode branco, se tornou presidente da Total há quatro anos, após uma vida de trabalho na gigante do petróleo, onde foi promovido diversas vezes até entrar para o comitê de direção em 1992, antes de virar diretor-geral para o Oriente Médio três anos depois.
Em 1999, após a fusão da Total com o grupo belga Petrofina, Margerie chegou à diretoria de Exploração e Produção, a mais importante da empresa.
Neste momento, Margerie entrou para o comitê executivo do grupo, cuja direção geral assumiu em 14 de fevereiro de 2007, no lugar de Thierry Desmarest, até chegar à presidência, em maio de 2010. Em 2012 foi reeleito até 2015.
Sob seu comando, a Total acelerou nos últimos anos os investimentos em exploração para cumprir os objetivos ambiciosos de crescimento da produção petroleira, ao mesmo tempo que abria mão de outras atividades.
Mas a imagem do grupo foi afetada por várias catástrofes, como o naufrágio na costa francesa do petroleiro "Erika" em 1999 e a explosão da filial de AZF em 2001 em Toulouse, sul da França, ou seu envolvimento no escândalo "petróleo por alimentos" no Iraque.
A imagem da Total também sofreu na França, onde a população reclama que o grupo não paga impostos no próprio país - donde é deficitário -, apesar dos grande lucro global.