Zeinal Bava, presidente da Portugal Telecom: executivo é conhecido como "Zeus" na companhia (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2013 às 16h45.
Lisboa - Conhecido como "Zeus" na Portugal Telecom por ter sido responsável pela reviravolta da empresa que enfrentava dificuldades em meio a uma crise econômica, Zeinal Bava descobrirá que é uma divindade menor no cenário global, enquanto tenta construir uma campeã de telecomunicações no mundo lusófono e além dele.
Mas o ex-executivo de banco de investimento de 47 anos, que se tornará presidente-executivo da empresa fruto da fusão entre Portugal Telecom e a operadora brasileira Oi, está acostumado a olhar para baixo.
Enquanto estudava engenharia em Londres e administração em Lisboa, o filho de mercadores nascido em Moçambique trabalhou como vendedor de biscoitos e camisetas antes de sua rápida ascensão no mercado bancário e posteriormente na Portugal Telecom, na qual entrou em 1999 e saiu no início deste ano para assumir a Oi.
Com um histórico de conquistar clientes, cortar custos e fechar bons acordos, Bava parece bem qualificado para a liderança da indústria e para reanimar uma Oi com baixo desempenho em um mercado de crescimento forte como o brasileiro, que parece maduro para consolidações.
"Nunca ouvi ninguém criticá-lo", disse o presidente da consultoria brasileira Teleco, Eduardo Tude. "Os fatores positivos são a experiência dele e o trabalho que fez na Portugal Telecom, além da visão que tem do setor." Mas Bava estará competindo com pesos-pesados da indústria de telecomunicações, incluindo seu amigo pessoal, o bilionário mexicano Carlos Slim, dono da América Móvil e, por sua vez, da Claro, assim como a espanhola Telefónica, dona da Vivo.
Embora a Oi seja a maior operadora de telefonia fixa do Brasil, está atrás de Vivo e TIM Participações, da Telecom Italia, e da Claro no mercado de telefonia móvel, e está perdendo clientes.
Com a Telefónica ampliando seu controle na Telecom Italia, muitos analistas esperam uma venda da TIM Participações. Com a fusão com a Portugal Telecom, a Oi pretende reduzir custos e se colocar em uma posição melhor para levantar capital com o objetivo de participar de quaisquer movimentos de consolidação e melhorar seu desempenho.
O trabalho de Bava na Portugal Telecom sugere que ele é a pessoa certa para a posição.
"Messi das Telecomunicações"
Depois de entrar na ex-estatal de telefonia portuguesa como diretor financeiro, Bava tornou-se presidente-executivo em 2008 de um grande negócio de telefonia fixa que perdia consumidores.
Depois de cinco anos, e apesar da prolongada recessão em Portugal e resgates bancários internacionais a Lisboa, o número de assinantes da Portugal Telecom subiu 14 por cento depois que Bava liderou a estratégia de vender em um só pacote os serviços de telefonia fixa, TV paga, Internet e celular.
As receitas operacionais que tiveram fortes quedas durante a crise financeira global agora se recuperaram aos níveis de 2008, e os custos operacionais mudaram pouco apesar da expansão da rede.
O controle de custos --que inclui uma adaptação inovadora de um software israelense inicialmente desenhado para fins militares-- combina particularmente bem com a fusão de Portugal Telecom e Oi, já que os analistas ainda estão céticos quanto à meta de 5,5 bilhões de reais em sinergias.
Bava também realizou bons negócios, expandindo a presença da Portugal Telecom no mercado brasileiro e em Angola, e fechou uma lucrativa venda da participação da empresa portuguesa na Vivo para a Telefónica em 2010.
De acordo com ex-colegas, ele costuma se envolver em todos os aspectos do negócio, até mesmo respondendo a clientes e oferecendo produtos porta a porta --uma atitute que ele continuou a adotar no Brasil, para a surpresa da equipe de vendas da Oi.
"Ele pode ser duro, mas não eleva a voz frequentemente. Não tolera incompetência, mas tolera os erros que vêm das tentativas", disse um colaborador de longa data que não quis ser identificado.
Depois de receber três vezes o prêmio de melhor CEO de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações na Europa pela revista Institutional Investor, incluindo o deste ano, Bava ganhou outro apelido --o de "Messi das telecomunicações--, em referência ao jogador de futebol argentino Lionel Messi, que recebeu uma série de prêmios do esporte.
Mas não foram só boas notícias na Portugal Telecom sob a gestão de Bava, já que a dívida da empresa subiu e o preço das ações da empresa caiu quase pela metade.
"É difícil culpar Bava por esses impactos na maior parte das vezes externos, mas talvez ele precisasse ter reduzido a dívida da empresa em vez de pagar dividendos. Mas manteve os acionistas felizes", disse um especialista do setor que falou sob condição de anonimato.
Um colega de longa data de Bava disse que seu histórico cosmopolita é um grande ativo ao tratar com líderes globais da indústria.
Criado em uma família muçulmana sunita e com ascendência indiana, Bava é casado com uma portuguesa católica, e em sua carreira bancária atuou no Warburg Dillon Read, Deutsche Morgan Grenfell e, posteriormente, no Merrill Lynch.
Ele fica mais confortável falando inglês, com um sotaque britânico típico dos frequentadores da City londrina, do que português, que fala fluentemente mas misturando termos e expressões em inglês.
"Ele pensa em inglês, sua abordagem é mais anglo-saxã. Mas, na verdade, ele é muito cosmopolita, um cidadão do mundo, e isso o ajuda em sua tarefa de crescer internacionalmente", disse o colega.