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Mesbla: o que aconteceu com uma das maiores lojas do Brasil dos anos 1980

Rede de lojas de departamento já dominou o varejo brasileiro nos anos 1980, mas enfrentou a hiperinflação, a chegada dos shoppings e a crise dos anos 1990

Mesbla: rede chegou 180 lojas e empregava 28.000 pessoas (Rogério Carneiro)

Mesbla: rede chegou 180 lojas e empregava 28.000 pessoas (Rogério Carneiro)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 2 de novembro de 2024 às 08h02.

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Durante boa parte do século passado, entrar em uma loja da Mesbla era como estar em um verdadeiro universo do consumo.

Fundada em 1912, a rede de lojas de departamento se consolidou como uma das maiores do país ao oferecer praticamente tudo o que um consumidor poderia imaginar. Das megalojas com decoração caprichada e vitrine sempre renovada, às campanhas estreladas por artistas, a Mesbla era ponto de referência em várias cidades e o destino favorito de consumidores em busca de variedade e qualidade.

No entanto, a marca que chegou a dominar o mercado, com 180 lojas e mais de 28.000 funcionários, viveu uma reviravolta dramática nos anos 1990. Com a popularização dos shopping centers e das lojas especializadas, e diante das dificuldades impostas pela hiperinflação e pela entrada de novos concorrentes, a Mesbla enfrentou uma série de crises financeiras que culminaram em sua falência em 1999.

Em 2022, tentou voltar ao mercado, agora como um e-commerce. Ainda que distante de seu brilho de antigamente, a marca continua sendo um símbolo da história do varejo brasileiro.

Qual é a história da Mesbla

A história da Mesbla começou em 1912, quando a francesa Mestre & Blatgé abriu uma filial no centro do Rio de Janeiro. Originalmente focada no comércio de máquinas e equipamentos importados, a loja era apenas uma pequena parte de uma rede global. Tudo mudou em 1924, quando o francês Louis La Saigne, então gerente da unidade carioca, decidiu transformar a loja em uma empresa independente, criando a Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre et Blatgé.

Em 1939, a empresa mudou de nome para Mesbla, uma combinação das sílabas das palavras “Mestre” e “Blatgé”. A ideia foi de uma secretária de La Saigne e veio em meio à Segunda Guerra Mundial, num período de tensões entre países.

O novo nome simplificado marcava o início de uma identidade brasileira, e a Mesbla logo se expandiu pelo país.

Qual foi o auge da Mesbla

O auge da Mesbla veio nas décadas de 1970 e 1980. Nesse período, a rede já tinha 180 lojas, empregava 28.000 pessoas e operava megalojas que ocupavam áreas de até 3.000 metros quadrados.

Nas vitrines, expunham-se de roupas a utensílios domésticos, eletrônicos, eletrodomésticos e até automóveis, além de acessórios para o lar.

Os funcionários costumavam dizer que na Mesbla só não se vendiam caixões: de barcos e aviões a artigos de moda e cama, mesa e banho, a rede oferecia produtos para todas as necessidades.

As campanhas publicitárias foram uma marca do sucesso da rede. A Mesbla foi uma das primeiras varejistas a investir pesado em catálogos coloridos e anúncios em televisão. Os comerciais, que contavam com celebridades da época, como Regina Casé, Andréa Beltrão e Diogo Vilela, eram exibidos em horário nobre e ajudavam a manter a marca no topo das mais lembradas pelos consumidores.

Em 1986, o auge da rede foi reconhecido com o título de “Melhor Empresa do Brasil” pela EXAME, graças a sua inovação e liderança no setor. O presidente da empresa, André De Botton, ganhou destaque entre a elite empresarial e foi eleito, duas vezes, o Varejista Estrangeiro do Ano pela National Retail Federation, uma das maiores associações de varejo do mundo.

Por que a Mesbla fechou

Apesar do sucesso, a Mesbla começou a enfrentar dificuldades nos anos 1990, em um período de mudanças significativas no mercado de consumo.

A entrada de novas redes especializadas, que focavam em produtos específicos com organização mais eficiente, tornava as megalojas da Mesbla cada vez menos atrativas. Ao mesmo tempo, o avanço dos shopping centers no Brasil oferecia mais praticidade ao consumidor, com lojas menores e de marcas variadas em um só lugar.

Em 1989, os gestores da Mesbla, temendo uma escalada da inflação, adotaram uma estratégia arriscada e começaram a estocar mercadorias em grandes quantidades. Com a chegada do Plano Real, em 1994, a estabilização da economia colocou em xeque a estratégia de estocagem, que agora pesava no caixa da empresa.

Além disso, a Mesbla enfrentava problemas internos que dificultavam a adaptação às novas exigências do mercado. Com uma diretoria inchada – eram cerca de 40 executivos tomando decisões –, a companhia viu suas ações se tornarem lentas. Para tentar competir com as novas redes, a Mesbla lançou marcas próprias e até criou um cartão de crédito exclusivo, mas a resposta veio tarde demais.

LEIA TAMBÉM: Mesbla, Mappin, Arapuã e Jumbo Eletro: o que aconteceu com as grandes lojas que bombaram nos anos 80

A falência e o retorno como e-commerce

Em 1997, a Mesbla, já com dívidas de mais de R$ 1 bilhão, entrou em processo de concordata. No mesmo ano, a empresa foi adquirida pelo empresário Ricardo Mansur, que também controlava o Mappin. Mansur planejava unir as operações das duas redes e relançar a Mesbla com foco em consumidores de renda mais baixa, mas os problemas financeiros só se agravaram, e a falência foi decretada em 1999. O que restou foi vendido em liquidações, para cobrir parte dos salários atrasados de seus 750 funcionários.

Em 2009, a marca ensaiou um retorno como loja online, mas o projeto não se concretizou. Finalmente, em 2022, a Mesbla voltou oficialmente ao mercado, agora como um marketplace no formato de e-commerce. Embora o novo modelo seja bastante diferente das grandes lojas de departamento de antigamente, a marca tenta resgatar o prestígio de outrora, mantendo o nome vivo no imaginário de quem testemunhou a era de ouro do varejo brasileiro.

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