Suzano: oportunidade de criar um player poderoso em um setor crescente, diz Marcelo Bacci, CFO (Sergio Zacchi/Suzano/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 8 de julho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 8 de julho de 2020 às 14h08.
A Suzano, de papel e celulose, chamou a atenção do mercado após se tornar a terceira empresa mais endividada da bolsa brasileira, a B3, no primeiro trimestre, atrás apenas de Petrobras e Vale. Apesar da dívida bruta de 75,6 bilhões de reais, a Suzano garante que suas contas estão controladas e que, caso fosse preciso, teria fácil acesso ao mercado de capitais para se financiar.
"Para empresas exportadoras, o mercado de capitais tem muita liquidez atualmente. Pela nossa característica, de companhia com investment grade, temos bastante acesso aos mercados, principalmente internacionais", afirma Marcelo Bacci, diretor financeiro da Suzano, em entrevista à EXAME.
O executivo ressalta, porém, que neste momento a companhia não tem intenção alguma de ir a mercado. Além disso, desde antes da pandemia a Suzano vem reduzindo estoques e, com isso, a necessidade de capital de giro, que geralmente obriga empresas a buscar novas linhas de crédito.
Com a escalada do novo coronavírus, Bacci relata que houve crescimento da demanda por celulose, matéria-prima para a produção de papéis sanitários - chamados tissue. Metade da demanda da companhia vem do segmento. "As exportações estão com ritmo normal desde o início da pandemia."
Para fazer frente à pandemia, a Suzano reduziu a previsão de investimentos em 2020, de 4,4 bilhões para 4,2 bilhões de reais, e não deve pagar dividendos neste ano. Além disso, a companhia está estudando a venda de ativos não operacionais.
"Com 80% da nossa receita em dólar, conseguimos manter uma boa geração de caixa", assegura Bacci.
A pandemia trouxe de volta uma velha conhecida do brasileiro, a dívida. Segundo reportagem da revista EXAME desta quinzena, somente as companhias listadas na B3 acumulam dívidas de mais de 1 trilhão de reais no primeiro trimestre.
O diretor financeiro da Suzano afirma, entretanto, que nem sempre o endividamento é negativo. "Quando um setor é intensivo em capital, a dívida não é necessariamente ruim."
O executivo explica que a Suzano consegue um custo baixo de captação e, com isso, o retorno para o investidor acaba sendo maior do que a taxa da dívida. Além disso, uma parte dos juros pagos é recuperada com a dedução de impostos.
"Por essa combinação de fatores, em setores intensivos em capital acaba sendo mais vantajoso pagar investimentos, em parte, com a emissão de dívidas."
Segundo Bacci, a maior parte da dívida atual da companhia se deve à compra da concorrente Fibria há cerca de um ano e meio. A transação consumiu quase 9 bilhões de dólares.
Adicionalmente, a valorização de quase 40% do dólar desde janeiro fez com que a dívida bruta da Suzano subisse 17% em relação há um ano.
"Nossa dívida está acima do ideal, mas 90% dela tem prazo médio de 7 anos. A mais longa tem quase 30 anos para vencer, com um custo médio baixo, de 4,7% ao ano."
Conforme o executivo, a companhia está "preparada" para pagar sua dívida com o fluxo de caixa que a Suzano gera. "Não temos plano mirabolante para reduzir o endividamento. Somos o produtor de celulose com custo mais baixo do mundo e, mesmo com os preços atuais da commodity, conseguimos ser competitivos."