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Mercado aposta em aceleração dos negócios de fusão e aquisição em 2021

Mesmo assim, segundo analistas, o ambiente ainda será de volatilidade, maior participação de dinheiro especulativo nas transações e poucas empresas estrangeiras

Empresas: o ano que vem deve continuar marcado também pela concentração dos negócios entre as empresas locais (Germano Lüders/Exame)

Empresas: o ano que vem deve continuar marcado também pela concentração dos negócios entre as empresas locais (Germano Lüders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 15h22.

Última atualização em 29 de dezembro de 2020 às 15h51.

As perspectivas para as operações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) são positivas no ano que vem, com o início da imunização da população contra a covid-19 e a normalização da atividade econômica. Mesmo assim, segundo analistas, o ambiente ainda será de volatilidade, maior participação de dinheiro especulativo nas transações e poucas empresas estrangeiras. Ao mesmo tempo, os segmentos de saúde, varejo eletrônico, tecnologia, educação e agronegócio, que saíram na frente ou até ganharam terreno em meio à pandemia, devem continuar liderando o cenário de negócios.

O sócio de corporate finance advisory da consultoria Deloitte, Reinaldo Grasson, afirma que as empresas que contam com operações de M&A entre suas estratégias já se preparam para uma retomada, que deve se consolidar em 2022. Para isso, querem entender como setores e empresas vão sobreviver à possibilidade de inflação mais elevada, oscilação do câmbio e outros fatores macroeconômicos desafiadores que devem persistir no próximo ano.

"O investidor de M&A busca visibilidade, de como a cadeia de negócios envolvida na operação vai se comportar no ambiente ainda desafiador do ano que vem", diz Grasson. Para ele, ao contrário do meio deste ano, quando era impossível fazer planos, com a chegada da vacina, o fim da pandemia é questão de tempo. "Por isso, a leitura é: quais são as empresas que vão chegar ao fim do processo e como vão chegar no fim do ano que vem para operar nos anos seguintes."

O sócio-fundador da G5 Capital, Corrado Varoli, afirma que as empresas demonstram necessidade de crescer olhando além de 2021, com aquisições fazendo parte dessa estratégia. "Quando acontecia uma crise, a tendência era não fazer nada e quem fez isso se deu mal", diz. "A experiência de 2020 mudou a cabeça do empresariado brasileiro, no sentido de que, para sobreviver, é preciso olhar para frente. Por isso, vamos ter mais M&A e ofertas de ações no ano que vem."

Para Ronaldo Xavier, que também é sócio de financial advisory da Deloitte, a crise exigiu de muitas empresas o entendimento da necessidade de venda de parte da operação. Ou a saída de segmentos que não estavam relacionados diretamente ao negócio principal.

Grasson afirma que algumas empresas, entretanto, não sentiram o impacto da crise e, portanto, não presenciaram queda no valor de seus ativos. As empresas do agronegócio, por exemplo, viram alta nessas avaliações durante crise, assim como as de educação a distância. Especificamente no agro, além de ser um segmento resiliente, é visto como reserva de valor, pelo fato de envolver em alguns casos grandes propriedades.

Mercado local

O ano que vem deve continuar marcado também pela concentração dos negócios entre as empresas locais. "O mercado brasileiro está tão dinâmico, com tantas oportunidades, que as famílias não precisam olhar fora do Brasil. As oportunidades estão aqui", diz Varoli, da G5 Capital. Ele diz que os estrangeiros devem esperar um pouco mais os desdobramentos macroeconômicos no País para ingressarem com mais força. No entanto, ele vê grandes multinacionais fazendo negócios. "A tendência é que as multinacionais voltem a investir, já que, além de problemas, existem oportunidades e elas estão acostumadas com desafios."

Xavier, da Deloitte, afirma que este ano a representatividade de companhias estrangeiras nas transações de M&A caiu para cerca de 5%, de uma média de 25% a 30% há três anos. "Já vinha em queda e a pandemia claramente acentuou o quadro", diz. "Mas há ainda negócios sendo feitos em setores de capital intensivo como telecom e energia."

Dados da consultoria PwC mostram que, de janeiro a outubro, foram anunciadas 802 transações, aumento de 13% em relação ao mesmo período do ano passado. A média para o período nos últimos cinco anos foi de 574 operações. Em 2019, o total de transações em todo o ano foi de 912. O setor de TI se manteve na liderança, com 305 transações.

Riscos

Rodolfo Spielmann, chefe para a América Latina do Canada Pension Plan, fundo de pensão de servidores do Canadá com mais de US$ 34 bilhões canadenses sob gestão, diz que o cenário para investimentos no Brasil é positivo, na medida em que a vacina tornou-se uma realidade globalmente. "Estamos no meio de um filme que começou como de terror e, agora, passou a ser de suspense", diz.

Mas, segundo ele, o País deveria adotar ações para mostrar que está comprometido com uma agenda de responsabilidade em seus gastos e com a vacina. "Podemos ver cenário positivo para a economia, mesmo sem o auxílio emergencial, desde que haja encaminhamento das reformas."

Spielmann se diz otimista. Para ele, os investimentos no Brasil interessam ao fundo à medida que a estratégia montada é de médio e longo prazos. "Olhamos para a maturidade da equipe econômica e da classe política em manter equilíbrio econômico. Existe convicção no País de que a inflação não é boa, então estamos curados disso."

Segundo ele, é preciso haver convicção de não voltar às receitas populistas. "Essa preocupação existe. A situação de gasto extraordinário com a covid passou e 2021 é um momento de ajuste e voltar à situação fiscal equilibrada", acrescenta.

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