MasterCard: aliança com Itaú deveria estar operacional já no ano passado, mas segue parada, à espera do aval do Cade (Adam Berry/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2016 às 15h28.
São Paulo - A bandeira de cartões internacional MasterCard espera operacionalizar ainda este ano a joint venture que fechou com o Itaú Unibanco para gerir um novo arranjo de pagamentos. A aliança deveria estar operacional já no ano passado, mas segue parada, à espera do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que considerou o negócio "complexo" em meados de novembro último.
Desde então, MasterCard e Itaú já tiveram duas reuniões com a equipe técnica do órgão para explicar a parceria, segundo o presidente da bandeira, João Pedro Paro. Além das eficiências econômicas a serem geradas pela operação, o Cade solicitou mais detalhes quanto aos eventuais benefícios que trará para cada instituição e ainda como a joint venture resguardará o sigilo de informações de clientes do banco e a ingerência sobre questões que podem afetar seus concorrentes.
"A análise do Cade não foi uma surpresa, mas uma leitura de mercado. É a função do Cade. Não atrapalha nem beneficia. Faz parte do processo", avalia ele, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a primeira após a decisão do regulador.
A expectativa é de que até a metade do ano, conforme Paro, o Cade se posicione a respeito. Ele lembra, contudo, que o prazo está a cargo do regulador. Com a prorrogação, o órgão ganhou mais tempo para avaliar o caso, que, no total, é de 330 dias. A associação das duas empresas foi notificada em 18 de setembro de 2015. Foi a segunda vez que MasterCard e Itaú pedem a bênção do órgão para a formação da aliança. O primeiro pedido, cujo modelo foi alvo de críticas pelo mercado, foi arquivado por solicitação das próprias empresas.
Segundo o presidente da MasterCard, do ponto de vista de tecnologia, está tudo pronto para que o novo arranjo de pagamentos em parceria com o Itaú saia do papel. Entretanto, explica ele, os processos foram paralisados até que o órgão antitruste se posicione. Sobre se a parceria resultará no ressurgimento da Credicard, adquirida pelo Itaú, em 2013, Paro diz que nenhuma discussão ganhará corpo nem investimento será feito até que o Cade dê o seu aval. "Não vale a pena", justifica ele.
A joint venture terá prazo de 20 anos e foi vista, na opinião de analistas e especialistas do mercado, como uma ofensiva à bandeira Elo, de Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Recentemente, a marca passou a ser aceita internacionalmente por meio de uma parceria com a americana Discover. Além do ressurgimento da Credicard, a nova marca pode reforçar, ou até mesmo substituir, a bandeira do Itaú, a Hiper (ex-Hipercard).
O novo arranjo será controlado pela MasterCard, que responderá pela gestão do arranjo, processamento das transações e suporte tecnológico, reforçando sua operação no Brasil, que é a segunda em escala global da bandeira. Já o Itaú terá direitos de veto e aprovação e fará os serviços de emissão e adquirência, que credencia lojistas para a captura de transações com cartões, do negócio.
Para o presidente da MasterCard, o fato de o mercado de cartões já ser consolidado no Brasil exige uma melhor leitura de associações no segmento. Lembra, porém, que esse cuidado tem sido tomado em todo o mundo. Sobre o desempenho neste ano, o executivo acredita que a base mais fraca de 2015 pode ajudar em termos de desempenho, embora a crise também "atrapalhe" a área, atingida pela queda nas vendas do varejo. Paro não vê redução na base de cartões emitidos por conta disso, mas espera um mercado mais seletivo em meio à elevação da inadimplência. Garante, contudo, que os calotes seguem "dentro do controle".