Marfrig: um ano antes, a companhia registrou um prejuízo de 1,3 bilhão de reais (Paulo Whitaker/Reuters)
Reuters
Publicado em 19 de fevereiro de 2020 às 20h08.
A Marfrig, maior produtora de hambúrguer do mundo, reverteu resultado negativo bilionário sofrido no quarto trimestre de 2018 e registrou um lucro modesto no final do ano passado, impulsionada por fortes vendas na América do Norte e demanda acelerada na China.
A companhia, que também é uma das maiores produtoras de carne bovina do mundo, teve lucro líquido de 27 milhões de reais nos três últimos meses de 2019, ante prejuízo de 1,3 bilhão de reais apurado um ano antes, período em que a empresa sofreu um incêndio em uma de suas fábricas no Brasil e problemas de exportação para a Ásia a partir da América do Sul.
A empresa, rival da JBS em uma série de produtos, teve lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de 1,6 bilhão de reais, salto de 70,5% no comparativo anual. A margem no período passou de 8,2% para 11,4%.
No quarto trimestre, o custo de produtos vendidos da Marfrig foi de 12,14 bilhões de reais, 18,9% superior ao mesmo período do ano anterior, "explicado pelo maior volume de vendas em ambas as operações e maior custo de gado, principalmente no Brasil e Uruguai".
"Em 2019, houve movimento forte por parte da China que criou demanda grande pela carne (bovina) na América do Sul", disse o presidente-executivo da Marfrig, Eduardo Miron, em comentários sobre os resultados. "Em 2020, os preços do boi começam a voltar para um patamar mais razoável...as exportações continuarão fortes", acrescentou o executivo.
A Marfrig superou suas estimativas de desempenho em 2019, com faturamento de 49,9 bilhões de reais ante previsão de 47 bilhões a 49 bilhões de reais, e margem Ebitda ajustada de 9,6% ante projeção de entre 8,7% e 9,5%.
Para 2020, a empresa decidiu não fornecer mais projeções ao mercado. "A empresa era nova e ninguém sabia o que esperar dela. Agora todo mundo já sabe onde está pisando e o que esperar. Não existe necessidade para um 'guidance' neste cenário", disse o diretor financeiro, Marco Spada, referindo-se à reestruturação vivida pela Marfrig.
Apesar disso, Miron comentou que as mudanças promovidas pelo governo federal na economia "tendem a ajudar no consumo" doméstico e que a Marfrig está "otimista sobre a economia" este ano. "Talvez não seja tão bom quanto se espera, mas será melhor que em 2019", disse o executivo.
A quarto trimestre também foi marcado pela conclusão do aumento da participação da Marfrig na norte-americana National Beef, quarta maior empresa de carne bovina dos EUA. A fatia do grupo brasileiro passou a ser de 81,7% e Miron afirmou que não está avaliando nenhuma outra aquisição para os próximos meses.
A Marfrig terminou 2019 com 13 de suas 18 fábricas na América do Sul habilitadas a embarcar carne bovina para a China. Miron comentou que o impacto da epidemia de coronavírus pode acabar fomentando a demanda por carne bovina no país asiático diante de possíveis mudanças de hábitos de consumo da população após as epidemias de peste suína africana e de gripe aviária.
O executivo, porém, afirmou que o novo coronavírus acabou gerando atrasos nos negócios com a China neste ano, devido ao prolongamento do feriado do Ano Novo Lunar por Pequim, como medida para conter a disseminação da doença.
"Eles estenderam o feriado e com isso todos estão voltando um pouco mais tarde. As operações estão demorando um pouco mais para serem retomadas", disse Miron. "As pessoas precisam comer. A demanda está lá, mas agora existe um consumo de estoque", acrescentou.
No quarto trimestre, a receita da operação da América do Sul da Marfrig, que além do Brasil inclui Argentina, Uruguai e Chile, foi a principal beneficiária do aumento de exportações para a China. A unidade viu a receita líquida disparar 34,3% no período, a 4,6 bilhões de reais, impulsionada por preços e volumes de exportações maiores, além da desvalorização do real ante o dólar.
Nos negócios na América do Norte, a Marfrig conseguiu alta de 10,2% na receita líquida da região, para 2,3 bilhões de dólares(9,6 bilhões de reais). O desempenho foi apoiado por preços mais altos e demanda maior nos Estados Unidos.
A companhia fechou 2019 com relação dívida líquida sobre Ebitda em reais de 2,77 vezes e de 2,74 vezes em dólares.