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Marfrig e BRF negociam fusão que criaria gigante de R$ 76 bilhões

Pelo plano, a BRF teria 85% da nova empresa, enquanto o Marfrig ficaria com os 15% restantes

Fábrica da BRF: x (Germano Lüders/Exame)

Fábrica da BRF: x (Germano Lüders/Exame)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 30 de maio de 2019 às 18h48.

Última atualização em 31 de maio de 2019 às 14h22.

As fabricantes de alimentos Marfrig e BRF anunciaram após o fechamento do mercado desta quinta-feira que estão em conversas para uma possível fusão, que criaria um gigante de 76 bilhões de reais de faturamento anual. Pelo plano, a BRF teria 85% da nova empresa, enquanto o Marfrig ficaria com os 15% restantes. 

Por meio de fatos relevantes, ambas anunciaram que seus conselhos de administração aprovaram a assinatura de um memorando que prevê um período de exclusividade de 90 dias, prorrogáveis por outros 30, o que pode preceder a consolidação dos ativos das companhias em uma nova sociedade.

De um lado, a BRF vem de uma grande reviravolta, com a chega de Pedro Parente à presidência do conselho, em abril de 2018, como nome de consenso para pacificar uma companhia com acionistas em pé de guerra. Parente, ex-presidente da Petrobras, tinha a missão de elaborar um plano de reestruturação da empresa, após os desdobramentos catastróficos da Operação Carne Fraca, da greve dos caminhoneiros e de uma sucessão de erros de gestão. Parente assumiu com o desafio de melhorar a eficiência da companhia, lançando produtos de maior valor agregado, ao mesmo tempo em que reaproximava a empresa dos produtores rurais.

Em um ano, a empresa fez muito, mas segue nas cordas. Parente anunciou um plano de vender 5 bilhões de reais em ativos. Vendeu operações na Argentina, Tailândia, Várzea Grande (MT) e suas fábricas de processamento de alimentos e abate de aves na Europa. Acabou arrecadando 4,1 bilhões de reais com todas as operações, mas segue com endividamento elevado, de 5,6 vezes a geração de caixa no primeiro trimestre.

Os resultados operacionais, que estavam ruins, pioraram. Em 2017 a BRF teve o primeiro prejuízo de sua história, de 1,1 bilhão de reais. Em 2018, dona das marcas Sadia e Perdigão anunciou prejuízo de 4,5 bilhões de reais em 2018 e margem operacional de 7,6%, queda de 1 ponto porcentual, abaixo da previsão de analistas.

Segundo EXAME apurou, Parente tem dito a executivos próximos que se surpreendeu com a complexidade da cadeia de negócios da BRF. Com a união com o Marfrig, o que era complexo fica ainda mais. “Até hoje a BRF tem dificuldades de unir equipes e portfólio de Sadia e Perdigão, que se juntaram há dez anos. Não faz sentido, antes de arrumar a casa, partir para um novo negócio complexo”, diz um analista próximo às empresas.

O Marfrig, por sua vez, passou por um redirecionamento estratégico para se focar em carne bovina. Em junho de 2018, adquiriu o controle da norte-americana National Beef, e se tornou a a segunda maior empresa de carne bovina do mundo, atrás da JBS. Em dezembro, comprou o controle da QuickFood, líder na produção de alimentos derivados de carne bovina na Argentina. Ainda comprou da BRF uma fábrica de processados em Várzea Grande, no Mato Grosso.

Em novembro, vendeu sua subsidiária Keystone, com foco em processamento de carne de frango. A empresa vinha em recuperação. Em 2018, lucrou 1,4 bilhão de reais, revertendo prejuízo de 483 milhões de reais no ano anterior. Agora, deve unir suas operações com uma companhia que tem tudo o que ela tratou de vender nos últimos anos -- sem que consiga ganhar dinheiro com esses negócios. 

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