Guido Mantega classificou as fraudes como "profissionais", "competentes" e "muito bem feitas" (Antonio Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2011 às 09h18.
Brasília - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu ontem em defesa do Banco Central (BC) e afirmou que a instituição não tinha conhecimento das fraudes no Panamericano quando deu autorização para que parte do banco fosse adquirida pela Caixa, em julho de 2010.
"Certamente, se o BC deu esta autorização, o departamento competente não tinha suspeita de coisa nenhuma", disse, em resposta a deputados que cobraram uma explicação do governo durante audiência na Câmara. "Eu acho difícil que o BC soubesse, porque, se tivesse sabido, teria cometido uma infração de não ter avisado", argumentou.
O Estado revelou ontem que o Banco Central já tinha indícios de irregularidades na instituição quando aprovou a venda de parte do banco para a Caixa. Em depoimento à Polícia Federal, no dia 16 de setembro deste ano, o vice-presidente de Finanças do Panamericano, Márcio Percival, afirmou que a segunda e última parcela da compra (R$ 232 milhões) só foi efetuada após essa aprovação do BC. O negócio total custou aos cofres do banco público R$ 739 milhões.
O BC afirma que só aprovou a operação em novembro daquele ano. As irregularidades ocorreram nas carteiras de crédito cedidas para outras instituições financeiras e levaram à falência o Panamericano.
Mantega classificou as fraudes como "profissionais", "competentes" e "muito bem feitas". Por isso, não foi detectada antes. Ele disse que a Caixa contratou consultorias internacionais para fazer diligências no banco antes de fechar a compra. "É que a fraude era profissional, competente. Escapou a todos e ela só se revelou depois", disse.
Mantega destacou que, apesar da quebra do Panamericano, a Caixa e o governo não tiveram prejuízo. "Agora, é bom esclarecer que não há dinheiro público nessa história e não há perda nessa história."
Ele lembrou que as transações atingidas pelas fraudes estavam com cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Por isso, o Panamericano foi reconstituído e saneado. "O governo não pôs um tostão. A Caixa não perdeu um tostão na transação."
Ele garantiu também que não houve pressão do governo para que a Caixa adquirisse parte do Panamericano. "Foi uma decisão da Caixa, que interessava à Caixa, assim como o Votorantim foi comprado pelo Banco do Brasil", disse.
Convite. O deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP) informou, durante a audiência pública, que convidará os presidentes do Banco Central, Alexandre Tombini, e da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, para prestarem esclarecimentos a respeito da transação. "Considerando as informações trazidas pela Agência Estado e pelo jornal O Estado de S. Paulo, sobre a sombria operação, que supostamente gerou um milionário prejuízo para o País, vamos trazer os presidentes do BC e da Caixa."
Pauderney Avelino (DEM-AM)foi outro deputado que se manifestou sobre o assunto . "Esse negócio é muito obscuro. Não dá para entender para quê a Caixa foi comprar o Panamericano. A impressão é de que foi para salvar o patrimônio do Silvio Santos (que era o dono da instituição até a descoberta das fraudes), já que o banco estava quebrado", disse.
Avelino tem uma ação popular na Justiça pedindo a anulação do negócio. Além disso, o deputado tenta, por meio de requerimento na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara, ter acesso ao inquérito da Polícia Federal que investiga as fraudes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.