(Mercado Livre/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 2 de setembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 2 de setembro de 2020 às 20h16.
Apenas no segundo trimestre, o Mercado Livre vendeu 5 bilhões de dólares, mais do que o dobro do que no mesmo período do ano passado. Foram 178,5 milhões de itens - desses, 157,7 milhões passaram pela divisão de logística da companhia, o Mercado Envios.
Criado em 2013, há alguns anos o Mercado Envios gerenciava apenas a tecnologia para o pagamentos de envios para a logística. Por meio do Mercado Envios, os vendedores pagavam pelo frete e imprimiam uma etiqueta para envio pelos Correios.
Nos últimos anos, a empresa avançou para ter uma malha logística nas estradas, entrega de última milha, diversos centros de distribuição e de cross docking e centenas de pontos físicos para depósito de produtos. Mais de 50% dos produtos já saem do armazém de um centro do Mercado Livre. A última etapa é fazer todo o serviço logístico para o vendedor, da gestão de estoque, preparo dos pedidos, envio e entrega. Esse serviço é chamado de fulfillment e já é usado em 20% das vendas.
"Hoje nossa malha consegue atender toda nossa demanda, que explodiu na pandemia, e estamos com uma velocidade de entrega fora de série, com pico histórico na satisfação do cliente", diz Leandro Bassoi, diretor de Mercado Envios em entrevista à EXAME.
Com o desenvolvimento da malha logística própria, o Mercado Livre diminui sua dependência dos Correios. "Diminuir a dependência é importante não só para o Meli, mas também para os Correios. Quando um parceiro é muito grande dentro do negócio do outro, começam a aparecer situações não desejáveis para nenhum dos dois lados", afirma Bassoi. "Estamos buscando uma série de parceiros, para manter todos saudáveis e que todos os lados ganhem dinheiro."
Para o diretor, embora as grandes varejistas tenham investido para criar sua malha própria, essa não é a realidade da maior parte dos lojistas. Oito a cada dez varejistas online de pequeno e médio porte dependem dos Correios como fonte principal dos fretes aos clientes. Com a greve dos Correios, esses varejistas podem ficar desassistidos. Para o Mercado Envios, é uma oportunidade para conquistar ainda mais clientes para o seu serviço.
Outros varejistas também ganham com a paralisação. Segundo os dados do Bling, um negócio de tecnologia dedicado a sistemas de gestão para microempreendedores, pequenas e médias empresas com vendas online, quem mais ganhou negócios no primeiro dia de paralisação foram transportadoras particulares. Pela ordem, ganharam a paulistana Intelipost (28% de aumento em relação ao período anterior à greve), Total Express (25%), Mandaê (16%), Mercado Envios, braço de logística da gigante do e-commerce Mercado Livre (9%) e B2W, dona das marcas Americanas e Submarino (1%).
"Nessa pandemia o Mercado Livre conseguiu cumprir um papel muito importante e ajudou vendedores a continuar girando a roda, vendendo, para que as pessoas pudessem ficar em casa", diz o diretor.
Para o futuro, a meta é continuar investindo cada vez mais. A companhia prevê investir 4 bilhões de reais este ano no Brasil, grande parte na área logística. Recentemente inaugurou o seu novo centro de distribuição na Bahia e irá abrir um outro na região Sul, anunciado recentemente. Para o ano que vem, prevê abrir ainda outros centros, tanto para fulfillment dos vendedores quanto para o crossdocking. No Brasil, a companhia abriu 18 centros de sortimento apenas no segundo trimestre, com mais de 35 aberturas no ano.
Nos últimos meses, o Mercado Livre contratou cerca de 6.200 funcionários. Destes, quase metade irão para a logística - 2.500 ficarão nos centros de distribuição e 430 nos centros de cross docking. Até o fim do ano, serão outros 5.000 funcionários, parte relevante para o Mercado Envios.
O Mercado Livre nasceu digital, como uma empresa de marketplace puro, e não tem nenhum plano para abrir unidades físicas. Suas rivais como Magazine Luiza, Via Varejo e B2W usam a estrutura de suas lojas físicas para facilitar e baratear a logística. Clientes podem retirar seus pedidos nas lojas, na modalidade clique e retire, e as lojas servem como pequenos centros de distribuição para envio de compras virtuais.
Para o Mercado Livre, essa solução não é a ideal. "Na nossa visão, entregar os produtos na casa do consumidor, com uma entrega bem executada e com velocidade, é uma experiência melhor do que a retirada da compra em um ponto físico", diz Bassoi.
A visão é compartilhada com o restante da diretoria. Fernando Yunes, que em maio assumiu o cargo de vice-presidente sênior do Mercado Livre, disse em entrevista à EXAME que "vemos que, na logística, os vencedores no mundo não têm rede de lojas".
O Mercado Livre garante sua presença física através de parcerias. Recentemente, lançou o projeto Agências Mercado Livre, que conta com 1.300 parceiros e lojistas que funcionam como ponto de entrega para vendedores. São livrarias, padarias e outros pontos de venda com acesso para a rua e que recebem os produtos de vendedores no Mercado Livre. Todos os dias, uma carreta passa nesses locais e recolhe as encomendas para, então, realizar a entrega pela malha logística da varejista.
Para esses pontos, a vantagem é receber mais visitas frequentes e para o vendedor, facilita o trabalho de depositar as encomendas. Essas lojas ainda não estão sendo usadas para enviar os produtos para as casas dos consumidores no Brasil - no México, essa já é uma opção.
Para cuidar de toda logística para entrega no Brasil, a empresa dispõe de frotas parceiras de todos os tamanhos. São centenas de caminhões nas estradas e milhares de pequenos veículos que fazem as entregas de última milha.
Em uma campanha, o Mercado Livre irá etiquetar 60 carretas com o seu logo e identidade visual. "São parceiros com contratos longos e que realizam um grande volume de entregas para nós, por isso decidimos dar a nossa identidade aos caminhões deles", afirma Bassoi. A ideia é chegar a 150 caminhões etiquetados.
Uma das modalidades de entrega mais rápidas é a modalidade Flex, lançada inicialmente apenas para a grande São Paulo. São motoristas de moto que fazem a entrega no mesmo dia.
Ouça também o podcast EXAME Agora sobre as estratégias dos e-commerces para driblar a greve dos Correios: