Clean Medical: na pandemia, empresa de São Paulo alugou 900 ventiladores pulmonares que atenderam 30 mil pacientes graves de covid-19 (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 23 de janeiro de 2024 às 15h42.
Última atualização em 23 de janeiro de 2024 às 15h57.
A inflação médica do Brasil é uma das maiores do mundo — e segue um problema sem solução.
Os dados mais recentes, de junho do ano passado, indicam alta de 15,1% dos custos médicos e hospitalares no Brasil em 12 meses, de acordo com o IESS, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar.
O indicador sobe num ritmo de dois dígitos no Brasil desde junho de 2021, logo após o período mais agudo da pandemia.
Para ter uma comparação, nos Estados Unidos o dado mais recente, de dezembro do ano passado, indica alta de 3,5% em custos médicos em 12 meses.
Na conta da escalada dos preços da saúde brasileira estão fatores como os custos de importação de tecnologia e de insumos importados, além de pressões internas como o envelhecimento da população brasileira.
Os números servem de alerta para a sociedade como um todo — e, também, de oportunidade para empreendedores com soluções capazes de reduzir os custos.
Os paulistanos Lucas Meneguetti e Renato Abreu servem de exemplo de quem pode trazer alguma resposta a esse problema estrutural da saúde brasileira.
Os dois fundaram negócios de importação e locação de equipamentos hospitalares. Com uma carteira relevante de clientes, que incluem grifes como Albert Einstein, Sírio-Libanês e Rede D'Or, anunciam ao mercado um processo de aquisição nesta terça-feira, 23.
A Clean Medical, de Meneguetti, adquiriu a Agile Med, de Abreu. A transação ocorreu em dois momentos: 49% foram adquiridos em junho do ano passado e o restante do capital comprado em dezembro.
Com a aquisição, a Clean Medical vira o principal nome do mercado de locação de equipamentos para hospitais, com um parque de 10 mil aparelhos e 500 clientes nas cinco regiões.
Um dos objetivos da compra é aumentar a atuação da Clean Medical em São Paulo, estado onde a Agile Med opera.
A expectativa para 2024 é de um faturamento de R$ 90 milhões para o consolidado das duas empresas.
Via de regra o cliente da Clean é a rede hospitalar de grande porte interessada num backup para picos repentinos de demanda.
Na pandemia, a empresa foi uma das principais fornecedoras brasileiras de equipamentos hospitalares para pacientes de covid-19 internados em UTI.
Na ocasião, a empresa alugou 900 ventiladores pulmonares utilizados no tratamento de 30 mil pacientes, nas contas da empresa.
"A Agile Med tem muito a acrescentar ao nosso modelo de negócio, pois somos uma das poucas empresas com parque de equipamentos multimarcas, atendendo a qualquer demanda dos hospitais no modelo white label", diz Meneguetti.
"Para os próximos três anos, esperamos ampliar ainda mais a nossa presença geográfica, dobrando o número de clientes e também a receita."
O mercado de locação de equipamentos para hospitais está em ascensão. Na pandemia, o aluguel de equipamentos hospitalares rendeu mais de R$ 7 bilhões no Brasil, segundo dados da Analoc, a associação brasileira das empresas de locação de máquinas e ferramentas.
Desde então, o interesse continuou alto em razão de muitas empresas terem visto o aluguel de equipamentos como um meio de aliviar a pressão por custos de manutenção e, assim, garantir saúde financeira de hospitais.
"Atendemos muitas redes menores de hospitais filantrópicos ou, então, administrados por organizações sociais de saúde", diz Meneguetti. "Para eles, alugar sai mais barato porque garantimos a manutenção dos equipamentos."
A empresa foi fundada em 2010, por Julio Meneguetti, pai do atual CEO, e vem numa escalada de crescimento desde então.
A Agile Med, por sua vez, foi criada em dezembro de 2011.
"Em 2018 nos tornamos importadores e crescemos de uma forma muito acelerada, ao ponto de triplicar o faturamento em três anos", diz Abreu, que seguirá na operação da Clean Medical.
"Com a consolidação na área de prestadores de saúde com hospitais sendo adquiridos por grandes redes no Brasil, somado a entrada de fundos de investimentos em nosso setor, enxergamos ser o momento certo para uma venda ou fusão, pois éramos uma empresa regionalizada e com contratos de exclusividade com alguns fabricantes. Recebemos o contato sobre o interesse da Clean Medical no M&A e a negociação aconteceu de forma rápida e direta."
A aquisição da Agile ocorre dois anos após um aporte de R$ 80 milhões na Clean Medical por parte da GEF Capital Partners, gestora de private equity com operação no Brasil, Índia e Estados Unidos.
No portfólio da GEF estão negócios com alguma pegada social ou com soluções para o aquecimento global.
Na lista estão nomes como a Lar Plásticos, uma empresa de reciclagem, e a HCC, um negócio de energia solar.