Walter Barbosa, executivo da Mercedes: vacina deve ajudar, mas retomada deve ser lenta (Mercedes-Benz/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 18 de novembro de 2020 às 13h28.
Última atualização em 19 de novembro de 2020 às 19h53.
Embora a Mercedes-Benz esteja otimista com a retomada do mercado de ônibus no Brasil, onde a marca é líder há 64 anos consecutivos, 2021 ainda terá importantes desafios. Para a montadora, a vacina do novo coronavírus deve ser crucial para a retomada da confiança dos passageiros, mas a recuperação das vendas poderá vir mais lenta do que o ideal.
"Quando a vacina vier, o processo de recuperação do mercado de ônibus deve ser acelerado, com os passageiros ganhando mais confiança para retomar suas atividades normais. Mas mesmo assim não devemos voltar ao patamar de 2019", afirma Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes do Brasil, em entrevista à EXAME.
A montadora projeta vendas de 13.500 a 13.700 unidades para o mercado total em 2020. No ano passado, o país emplacou quase 21.000 ônibus.
Neste ambiente, a Mercedes deve encerrar 2020 com cerca de 50% de participação de mercado, com liderança em todos os segmentos. "Mesmo em um ano tão difícil, vamos ser mais uma vez líderes, o que é uma grande conquista."
De acordo com o executivo, o segmento que deve ter o melhor desempenho é o de fretamento, diante da atividade aquecida principalmente no agronegócio e na mineração: as empresas que fretam ônibus para funcionários estão investindo na renovação em meio às medidas de distanciamento social.
Segundo Barbosa, enquanto o mercado total de ônibus recuou 35% até outubro, fretamento cresceu 24%. "Aproveitamos uma oportunidade no segmento, que não vai perdurar para sempre."
Recentemente, em entrevista exclusiva à EXAME, a Marcopolo falou sobre o crescimento das vendas no segmento de fretamento através da marca Volare, diante da alta demanda principalmente no setor de mineração.
O cenário coincide com o lançamento do novo chassi de ônibus da Mercedes, desenvolvido especialmente para fretamento. "Esse projeto já vinha sendo trabalhado, convergindo em um bom momento para o segmento."
Com a taxa básica de juros, a Selic, no menor nível da história, os financiamentos de veículos costumam ficar mais atraentes. No entanto, o segmento de pesados só tem renovação com demanda firme. Segundo Barbosa, como o fretamento está crescendo, a taxa de juros baixa favorece as compras. Por outro lado, em segmentos como rodoviário e urbano, isso não é suficiente.
"A renovação no setor como um todo vai demorar. Os clientes só vão voltar às compras quando o número de passageiros voltar a crescer de forma vigorosa. O juro pode ser zero, mas não adianta."
O segmento urbano, que responde por 50% dos emplacamentos totais no país, deve ser o primeiro a se recuperar com uma economia mais forte, avalia Barbosa. Até lá, a montadora terá que arcar com aumento expressivo de custos. O principal deles é o preço do aço, que subiu praticamente 10%, segundo o executivo.
Além disso, a alta de mais de 40% do dólar no ano pressiona os custos de matérias-primas. "Se não fosse a pandemia, a valorização do dólar seria uma oportunidade de exportar, mas o mundo inteiro está vivendo uma crise econômica."
Neste cenário, a Mercedes relata dificuldades de repassar custos, diferentemente das montadoras de carros de passeio, que vêm aplicando reajustes médios de 10%. "Os segmentos de transportes não têm conseguido repassar custos. O cliente não está obtendo receita para arcar com os aumentos."