Computador da Lenovo: empresa chinesa virou a segunda maior fabricante de PCs no Brasil (David Paul Morris/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2013 às 18h13.
São Paulo - A chinesa Lenovo quer tomar da Positivo Informática em 2014 a liderança do mercado brasileiro de computadores pessoais, que vem perdendo espaço para tablets e smartphones, mas analistas mostram cautela quanto à chance de isso ocorrer, diante da agressividade da brasileira no varejo.
Segundo dados da empresa de pesquisa IDC citados pela Lenovo, a empresa chinesa virou a segunda maior fabricante de PCs no Brasil, ampliando sua fatia de mercado, de 7 por cento para 9,7 por cento do primeiro para o segundo trimestre.
A empresa ficou atrás apenas da Positivo, cujos dados mais recentes apontam fatia de 15,1 por cento nos três primeiros meses do ano. A Lenovo diz ter ultrapassado Acer e Samsung no ranking do segundo trimestre.
No primeiro trimestre de 2012, a participação da Positivo era de 12 por cento, segundo comunicado da companhia brasileira, que não quis divulgar qual é sua fatia atual no mercado nacional nem se manifestar para esta reportagem.
"Queremos o primeiro lugar (...). A meta é buscar isso já no ano que vem", disse à Reuters o novo diretor operacional da Lenovo no Brasil, Richard Gurney, que assumiu o cargo neste mês.
Para o executivo, o avanço da Lenovo no mercado brasileiro pode ser atribuído à compra da brasileira CCE no ano passado, em uma operação de até 700 milhões de reais. A compra foi feita depois que a própria Positivo recusou uma oferta de compra feita pela Lenovo em 2008.
Gurney citou ainda como motivos para o avanço a ampliação da fábrica da Lenovo em Itu (SP) e a estratégia de diversificação de produtos, acompanhando a tendência global dos consumidores migrarem dos PCs para tablets e smartphones.
"Entendemos que o mercado de PC está em transformação e que temos oportunidade de entrar no mundo de tablets, smartphones e smart TVs", afirmou o executivo.
A venda de PCs no Brasil teve queda anual de 10 por cento no segundo trimestre, segundo dados da IDC, para 3,6 milhões de unidades. A receita, no entanto, subiu 1,2 por cento no período, para 5,7 bilhões de reais, impulsionada por aumento de preços. Para este ano, a expectativa é de queda do 9 por cento ante os 15,5 milhões de PCs vendidos em 2012.
Segundo o analista da IDC Brasil, Pedro Hagge, além da base de PCs no país já ser grande, os dispositivos portáteis acabam canibalizando a venda de computadores. "Não que os tablets sejam substitutos, mas o usuário tende a demorar mais para renovar o computador", explicou.
Para a Lenovo crescer em smartphones e tablets, que representam atualmente em torno de 15 e 25 por cento, respectivamente, de suas vendas totais no Brasil, a companhia negocia parcerias com operadoras de telefonia para venda de aparelhos, que passarão a ser produzidos no país no início de 2014.
Improvável
Para analistas, contudo, é improvável que a empresa chinesa consiga tirar o lugar da Positivo de líder no mercado de computadores no país no curto prazo. A empresa brasileira detém a liderança do setor desde 2005.
Essa é a opinião do analista da consultoria Gartner, Dave Glenn, para quem a Positivo tem sido tão agressiva quanto a Lenovo no mercado de PCs. Além disso, ele lembrou que a Positivo também tem apostado na diversificação para ganhar mercado.
"Marcas tradicionais internacionais como Dell e HP continuarão perdendo market share enquanto marcas locais e vendedores de aparelhos sem marca, assim como gigantes dos mercados emergentes como Lenovo e Samsung, continuam a ampliar competitividade", disse Glenn.
Para o analista do Santander, Valder Nogueira, a Positivo deixou de ser uma empresa de PCs para ser também de dispositivos, e que os desafios são justamente a diversificação. Ele lembrou que, no mercado de PCs, a Positivo ainda tem espaço para avançar no segmento corporativo.
"Eu estaria mais preocupado com a Samsung", disse Nogueira, lembrando que a empresa sul-coreana, por vender de televisores a smartphones, tem maior poder frente aos varejistas. Para o analista, a recente alta do dólar e o arrefecimento do consumo no Brasil são problemas mais relevantes para a Positivo enfrentar neste momento.
Já para Hagge, da IDC Brasil, as multinacionais têm ganhado mais espaço no mercado brasileiro, principalmente as empresas asiáticas, que realizam grandes investimentos e aquisições no mercado local.
"A tendência é que elas continuem ganhando participação. Até porque, das nacionais, a Itautec saiu do mercado . De nacional expressiva só tem uma (a Positivo). É difícil lutar sozinho", disse.
Dólar Volátil
A volatilidade do câmbio tem prejudicado todas as fabricantes de computadores com atuação no país, tanto locais como multinacionais, pois ambas importam componentes.
Até agora, a Lenovo não viu necessidade de reajustar preços aos clientes, mas não descarta essa possibilidade caso a volatilidade continue, disse Gurney.
"Não tem sido fácil. Estamos segurando ao máximo o impacto para o consumidor", declarou. "Se o dólar permanecer em 2,25 real conseguiremos evitar uma situação pior em termos de preço", completou.
A recomendação dos analistas do Santander para os investidores é ficar fora das ações de empresas do setor de computadores por enquanto, devido à volatilidade do câmbio.
Segundo o IDC a queda nas vendas de PCs do Brasil prevista para este ano deve ser revertida em 2014. "Esperamos que no próximo ano volte a uma normalidade, porque é ano de Copa do Mundo, deve haver muitas promoções de televisores, o que acaba se refletindo nos computadores", disse Hagge.
As ações da Positivo acumulam queda de 24 por cento este ano. O papel não faz parte do Ibovespa, que acumulou desvalorização até a sexta-feira passada de 12 por cento.