Zeenix Lite: computador portátil de entrada da TecToy (Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 24 de junho de 2024 às 13h52.
Última atualização em 24 de junho de 2024 às 14h38.
Nos anos 1980 e 1990, era comum encontrar na casa da garotada pelo Brasil produtos da TecToy, uma das primeiras grandes empresas de jogos eletrônicos — a primeira feita por aqui, certamente. Entre os produtos de destaque estavam os videogames Master System e Mega Drive, feitos em parceria com a japonesa Sega.
O final do século, porém, trouxe também um período turbulento ao negócio brasileiro. A crise asiática de 1997 prejudicou a confiança em mercados emergentes, como o Brasil. O resultado foi um aumento na taxa de juros e impacto no poder de compra dos consumidores, e de capacidade de pagamento para as empresas.
Foi bem nesse período que gigantes como Mesbla, Arapuã e Mappin entraram em crise. Não foi diferente para a TecToy, que precisou pedir concordata (antiga recuperação judicial).
Diferente das parceiras do varejo, porém,a TecToy nunca fechou. Quando saiu da concordata, em 2001, procurou maneiras de manter e crescer seu faturamento. Apostou em outros tipos de eletrônicos e lançou, ao longo dos anos, produtos como telefones, DVDs, equipamentos de karaokê e até televisão. Em determinado momento, passou também a usar a fábrica para terceirizar a produção de equipamentos de terceiros. Mas, na prática mesmo, a empresa andava de lado.
Em 2018, precisou sair da bolsa de valores após 26 anos de seu IPO, com um prejuízo de 2,2 milhões de reais. Na ocasião, o cofundador e presidente da empresa deixou a operação, vendendo para um fundo de investidores, que cuida da companhia até hoje.
Nessa virada de chave, uma das apostas da companhia foi na nostalgia dos clientes. Relançou versões como o Atari, mas também apostou em smartphones, smartwatches e caixas de som.
Agora, porém, a empresa quer voltar a ser uma referência de videogames. A TecToy acaba de anunciar a criação de uma divisão gamer Zeenix com um computador gamer portátil, três periféricos para jogos, um joystick e dois jogos.
“Temos dedicado muito tempo, esforço e investimento em pesquisas e desenvolvimento de produtos”, diz Eddy Antonini, diretor de gaming products na Zeenix. “Como uma marca brasileira, que conhece bem o público local, podemos garantir que cada passo da Zeenix tem o propósito de atender as demandas e feedbacks da comunidade de jogadores do país, sempre com alta tecnologia e comprometimento”.
Inicialmente, a empresa lançará dois computadores portáteis. Um de entrada, que roda jogos em qualidade gráfica padrão, e outro premium, para rodar os games numa qualidade gráfica maior.
Para acompanhar o PC, a Zeenix também lançará um teclado e mouse gamer e um joystick que pode ser conectado por USB ou Bluetooth, com compatibilidade aos computadores da marca, ao Nintendo Switch e a dispositivos Android e iOS.
Esse será o retorno da marca ao setor de games após 13 anos.
Mas, para além dos equipamentos tecnológicos, a empresa também está lançando os primeiros dois jogos nessa nova fase. Um é um terror em que os jogadores deverão sobreviver contra um monstro e solucionar quebra-cabeças e coletar chaves para escaparem ilesos. No outro, em formato de pixels, o protagonista deve salvar uma terra distante de uma praga que consome memórias e ameaça a história do mundo e das línguas.
A empresa não divulgou a meta de faturamento com a nova linha.
Criada em 1987, a TecToy é fruto de um trabalho do argentino Daniel Dazcal, que trabalhava no Brasil prestando consultoria na área de eletrônicos. Nesse trabalho, ele identificou um gap no mercado de jogos, ainda muito analógicos por aqui, enquanto que os videogames começavam a ganhar representatividade em mercados como os Estados Unidos.
Dois anos depois, lançou seu primeiro grande sucesso, o videogame Master System, numa parceria com a japonesa Sega. Já no primeiro ano com o produto, a Tectoy faturou 66 milhões de dólares e vendas na casa das 280.000 unidades.
Na mesma época, lançou o Mega Drive, um sucessor do Master System, já produzido no polo industrial de Manaus. Dois anos depois, a Nintendo chegou oficialmente ao país. Foi a primeira concorrente oficial da TecToy, que começou, então, a olhar para novos produtos. Um deles foi o provedor de internet.
A crise financeira de 1997 no sudeste asiático fez a economia de praticamente todos os países em desenvolvimento balançar. A taxa de juros aumentou, redes de varejo entraram em crise e o poder de consumo despencou. Como resultado, a Tectoy foi afetada, teve dificuldade de pagar as contas e entrou em concordata (antiga recuperação judicial).
Para se ter uma ideia, em 1997 a TecToy teve uma queda de 32% na receita em relação ao ano anterior. Com a crise, a empresa saiu de algumas frentes de negócio, foi para uma fábrica menor em Manaus, simplificou a cadeia de produção e fechou centenas de vagas de emprego.
Foi nesse cenário que a empresa entrou nos anos 2000.
Com a crise, a empresa redesenhou seu posicionamento. Para tentar recuperar o fôlego, aventurou-se no ramo de DVDs, equipamentos de karaoke, tablets e receptores de TV digital. Também lançou alguns jogos para dispositivos móveis, os celulares.
Em 2009, chegou a lançar um console próprio, Zeebo, sem mídia física e com um preço reduzido. O produto, porém, vendeu 30.000 unidades, enquanto que a empresa esperava comercializar 600.000. A empreitada durou dois anos.
Depois, foi a vez de apostar em tablets, que chegaram a representar quase 40% do faturamento da empresa em 2013. Entre as apostas estavam tablets temáticos infantis, como o tablet da Galinha Pintadinha.
Nos últimos anos, voltou a apostar em produtos como uma versão atualizada do Atari.