São Paulo - As investigações da Operação Lava Jato já levaram duas empresas a pedirem recuperação judicial.
Agora, as negociações com os títulos de dívida da Cimento Tupi AS no exterior mostram o risco de que ela seja a próxima a seguir no mesmo caminho.
Os títulos em dólar da empresa que somam US$ 185 milhões e 2018 tiveram queda no seu valor de 70 por cento neste ano, puxados principalmente pela contaminação indireta de acusações de pagamento de propina em troca de contratos de construtoras com a Petrobras.
A 27 centavos de dólar, o valor dos papéis indica que credores estão se preparando para um eventual default da Tupi no pagamento de juros previsto para o dia 11 de maio, de acordo com a Galloway Gestora de Recursos e a Bulltick LLC.
O caso da Tupi é um símbolo do dano indireto causado pela investigação em um momento em que a economia do Brasil passa por dificuldades.
Após o início da Operação Lava Jato, a Galvão Engenharia SA e a OAS SA deixaram de pagar juros de títulos de dívida e entraram com pedido de recuperação judicial por alegada dificuldade de acesso a crédito.
“Podemos definitivamente ver um cenário de contágio no Brasil quando se trata de empresas de construção civil e segmentos relacionados a ela”, disse Patrik Kauffman, gerente de recursos da Solitaire Aquila Ltd., Zurique.
Cesar Lage, diretor financeiro da Tupi, não respondeu a mensagem telefônica e a e-mail pedindo comentários sobre a queda no preço dos títulos e sobre o pagamento previsto para os cupom da dívida.
‘Tempestade perfeita’
A Tupi, que tem sede no Rio de Janeiro, tinha R$ 9,4 milhões (US$ 3,18 milhões) em caixa e equivalentes de caixa em dezembro, segundo dados da empresa.
A Fitch Ratings reduziu o rating da Tupi para CCC, oito níveis abaixo de junk (grau especulativo), no dia 20 de março, mencionando os baixos níveis de caixa da companhia.
“Houve uma tempestade perfeita no cenário do crédito no Brasil após” a investigação da Petrobras, disse Jay Djemal, analista da Fitch, de Chicago. “Elas têm uma grande restrição da capacidade de refinanciamento por meio de um número diversificado de fontes”.
Empréstimos para o setor da construção em geral secaram depois que a Petrobras proibiu 27 empreiteiras citadas na Lava Jato de apresentarem ofertas para novos contratos.
No início deste mês, o Grupo Schahin, que tem operações nos setores de construção, engenharia e petróleo e gás, também procurou proteção contra credores para 28 de suas empresas no Brasil.
Os US$ 651 milhões em bonds com vencimento em 2022 e emitidos por uma de suas unidades financeiras despencaram cerca de 45 por cento neste ano, para 44,5 centavos de dólar.
Perspectiva de crescimento
A Schahin, a Galvão Engenharia e a OAS negaram as acusações contra elas.
Os bonds da Tupi agora têm um yield 60,55 pontos porcentuais maior do que os títulos do Tesouro dos EUA -- bastante acima do limite dos títulos considerados na faixa “distressed”, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“O mercado já está dizendo à empresa o que fazer”, que é reestruturar, disse Ulisses de Oliveira, gestor de portfólio da Galloway Gestora de Recursos em São Paulo, por e-mail.
O que agrava ainda mais a falta de financiamento de empresas como a Tupi é a contração esperada para a economia do Brasil, que deverá ser a maior em 25 anos.
“Essa empresa definitivamente pode ser vista como outra vítima dos principais problemas pelos quais o Brasil está passando”, disse Klaus Spielkamp, chefe de vendas de renda fixa da Bulltick LLC, de Miami.
-
1. Os deputados da CPI das Petrobras que mais ganharam das empresas da Lava Jato nas eleições
zoom_out_map
1/17 (Petrobras/Divulgação)
São Paulo - Dos 27 escolhidos para participar da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da
Petrobras, ao menos 13 tiveram parte de suas campanhas eleitorais financiadas por empresas investigadas no âmbito da
Operação Lava Jato, que apura esquema de
corrupção na estatal. Juntas,
Odebrecht,
Galvão Engenharia, Engevix,
Andrade Gutierrez,
UTC,
OAS e Toyo Setal doaram mais de 3,5 milhões de reais aos deputados federais que vão atuar na CPI que foi instalada nesta quinta-feira. Quase metade desse valor foi doado apenas para os deputados Hugo Motta (PMDB-PB) e Luiz Sérgio (PT-RJ), respectivamente presidente e relator da comissão. O aparente paradoxo gerou um debate acalorado no primeiro dia de trabalhos da CPI. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP)
apresentou uma questão de ordem pedindo a destituição dos parlamentares que receberam doações das empresas investigadas. O pedido foi
rejeitado pela Câmara. "Não podemos criminalizar quem recebeu o financiamento legal para suas campanhas", disse o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ). Esta é a terceira vez que o
Congresso instala uma CPI para investigar o esquema de corrupção na Petrobras. O objetivo, desta vez, é apurar as irregularidades ocorridas entre 2005 e 2015. Os trabalhos devem durar 120 dias, com a possibilidade de prorrogação de mais 60 dias. Veja, nas fotos, o ranking dos deputados da CPI das Petrobras que mais ganharam das empresas da Lava Jato nas eleições, segundo levantamento de EXAME.com com base nos dados divulgados pelas campanhas dos parlamentares.
-
2. 1º - Luiz Sérgio (PT-RJ)
zoom_out_map
2/17 (Divulgação)
O relator da CPI da Petrobras recebeu R$ 2.429.512,5 em doações nas eleições passadas. As empreiteiras da Lava Jato foram responsáveis por 40% deste total.
-
3. 2º - Edio Lopes (PMDB-RR)
zoom_out_map
3/17 (Divulgação/ Facebook Edio Lopes)
O deputado Edio Lopes recebeu R$ 2,4 milhões em doações nas eleições de 2014. As empreiteiras da Lava Jato foram responsáveis por 28% desse total.
-
4. 3º - Hugo Motta (PMDB-PB)
zoom_out_map
4/17 (Reprodução/Flickr/PMDB Nacional)
Aos 25 anos, Hugo Motta é o presidente da CPI da Petrobras. Nas eleições de 2014, ele recebeu R$ 742.259,17 em doações.As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 0,07% deste total.
-
5. 4º - Júlio Delgado (PSB-MG)
zoom_out_map
5/17 (Câmara dos Deputados/Arquivo)
O deputado Júlio Delgado ganhou R$ 1,7 milhão em doações de campanha no ano passado. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 21% deste montante.
-
6. 5. Antônio Imbassahy (PSDB-BA)
zoom_out_map
6/17 (Gustavo Lima/Câmara dos Deputados/Reprodução)
-
7. 6. Cacá Leão (PP-BA)
zoom_out_map
7/17 (Divulgação/ Cacá Leão/Divulgação)
O deputado Cacá Leão recebeu mais de 2 milhões de reais em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 14% deste montante.
-
8. 7. Paulinho da Força (PDT-SP)
zoom_out_map
8/17 (Antonio Cruz/ABr)
O deputado Paulo Pereira da Silva recebeu mais de 2,8 milhões de reais em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 8% deste total.
-
9. 8. Onyx Lorenzoni (DEM-RS)
zoom_out_map
9/17 (Divulgação/ Onyx Lorenzoni)
O deputado Onyx Lorenzoni recebeu pouco mais de 2 milhões de reais em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por quase 10% deste total.
-
10. 9. João Carlos Bacelar (PR-BA)
zoom_out_map
10/17 (Renato Araújo/ Agência Câmara)
O deputado João Carlos Bacelar recebeu pouco mais de 382 mil reais em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 27% deste total.
-
11. 10. Félix Mendonça Júnior (PDT-BA)
zoom_out_map
11/17 (Divulgação/ Facebook Félix Mendonça Júnior)
O deputado Félix Mendonça Júnior recebeu R$ 1,2 milhão em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 1,8% deste total.
-
12. 11. Afonso Florence (PT-BA)
zoom_out_map
12/17 (Agência Brasil)
O deputado Afonso Florence recebeu R$ 549,3 mil em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 2,9% deste total.
-
13. 12 - Paulo Magalhães (PSD-BA)
zoom_out_map
13/17 (Divulgação/ Renato Araujo)
O deputado Paulo Magalhães recebeu R$ 398.2 mil em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 1,3% deste total.
-
14. 13 - Bruno Covas (PSDB-SP)
zoom_out_map
14/17 (Divulgação)
O deputado Bruno Covas recebeu R$ 3,5 milhões em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 0,07% deste total.
-
15. 14. Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP)
zoom_out_map
15/17 (Larissa Ponce/Câmara dos Deputados/Reprodução)
O deputado Arnaldo Faria de Sá recebeu R$ 1,9 milhão em doações de campanha nas eleições passadas. As empreiteiras investigadas na Lava Jato foram responsáveis por 0,12% deste total.
-
16. 15. Marcelo Squassoni (PRB - SP)
zoom_out_map
16/17 (Divulgação/Facebook)
-
17. Veja agora quais são as 9 CPIs que podem começar no Congresso ainda este mês
zoom_out_map
17/17 (Ueslei Marcelino/Reuters)