Agentes da PF: a Petrobras tem dependido da venda de títulos no exterior para obter financiamento em uma proporção maior (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2014 às 14h14.
São Paulo - A intensificação das investigações sobre corrupção na Petrobras ameaça afetar a capacidade da companhia de financiar o maior plano de investimento de petróleo do mundo.
No dia 13 de novembro a Petrobras adiou a divulgação de seu balanço não auditado do terceiro trimestre para até 12 de dezembro, um mês depois que o previsto, por causa da investigação sobre supostos pagamentos de suborno na estatal.
Sem resultados auditados a companhia provavelmente não terá acesso aos mercados internacionais de dívida, segundo o Bank of America Corp.
Os custos de financiamento da empresa baseados em títulos benchmark da Petrobras atingiram a máxima dos últimos 14 meses na semana passada depois que a polícia prendeu funcionários de empresas construtoras acusadas de formar um cartel para obter contratos com o governo, incluindo R$ 59 bilhões (US$ 23 bilhões) em pedidos da estatal do petróleo.
Apesar de a Petrobras poder se voltar ao BNDES em busca de financiamento no curto prazo, os recursos podem não ser suficientes para cobrir os US$ 12,1 bilhões por ano que a empresa diz precisar, segundo Omar Zeolla, analista de crédito corporativo do Oppenheimer Co.
Os mercados de dívida “devem ficar fechados para eles sem a apresentação dos resultados auditados”, diz Zeolla, em um e-mail.
“Eles podem depender de mais verbas do BNDES no curto prazo, mas terão que ir aos mercados para continuar financiando o plano de investimentos”.
A Petrobras tem dependido da venda de títulos no exterior para obter financiamento em uma proporção maior do que qualquer outra empresa em mercados emergentes nos últimos três anos, levantando US$ 44,5 bilhões desde 2011.
Vendas de dívidas
A assessoria de imprensa da Petrobras não respondeu a telefonemas ou e-mail em busca de comentários sobre seus planos de emissão de dívida.
O diretor financeiro da empresa, Almir Barbassa, disse no dia 17 de novembro que a Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro, pode financiar suas operações durante pelo menos seis meses sem ter de emitir mais dívida.
Em um e-mail, a assessoria de imprensa do BNDES não quis comentar se o banco fornecerá financiamento à Petrobras.
A petrolífera disse em fevereiro que estava planejando adicionar uma média de US$ 12,1 bilhões em dívidas por ano, entre 2014 e 2018, e que não estava “estudando uma nova venda de ações”.
A empresa vendeu pelo menos US$ 9 bilhões em dívidas no exterior por ano desde 2011, mostram dados compilados pela Bloomberg. A companhia emitiu US$ 13,6 bilhões em notas neste ano, maior total desde 2006, pelo menos.
A Petrobras está estudando uma forma de recuperar os prejuízos revelados por uma série de investigações de corrupção e pode ter que reduzir o valor de alguns ativos nos quais a corrupção inflou os custos, disse Barbassa.
A empresa está passando por um “processo doloroso”, disse a presidente Maria das Graças Foster no mesmo dia.
Empréstimos do BNDES
O BNDES, que tem sede no Rio de Janeiro, emprestou R$ 520,3 milhões à Petrobras no primeiro semestre de 2014, segundo dados do site do BNDES.
A empresa tomou pelo menos R$ 11,6 bilhões emprestados no banco em 2013, maior valor desde 2002 e mais de 10 vezes o montante de 2011.
“Sem resultados auditados, nós consideramos que o acesso aos mercados internacionais de dívida seria difícil”, disseram Frank McGann e Vicente Falanga Neto, analistas do Bank of America Corp., em um relatório, no dia 18 de novembro.
O montante de US$ 3,5 bilhões em dívidas da Petrobras com vencimento em 2023 caiu 3,3 por cento neste mês, mais de seis vezes o declínio médio das dívidas corporativas dos mercados emergentes, mostram dados compilados pela Bloomberg.
Os rendimentos das notas subiram para 6,2 por cento no dia 17 de novembro, nível mais alto desde 5 de setembro de 2013.
‘Desprevenido’
“A reação negativa que vemos nas dívidas pode em grande parte ser atribuída ao atraso”, disse Ryan McGrail, analista da Loomis Sayles Co., por telefone, de Boston.
“Nenhum detentor de dívida gosta de escutar que as finanças estão atrasadas e que temos que pensar em possíveis correções”.
O atraso na divulgação ocorre após os preços do petróleo caírem 28 por cento desde junho, atingindo o valor mínimo dos últimos quatro anos, o que ameaça prejudicar a receita.
“Esse tipo de notícia não é bom para o mercado”, disse Brigitte Posch, chefe de dívidas de mercados emergentes da Babson Capital Management LLC em Londres, onde gerencia cerca de US$ 1,8 bilhão. “Os preços baixos do petróleo não ajudam”.