Latam: empresa está com boa parte da operação parada por causa da pandemia do coronavírus (Ivan Alvarado/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 4 de junho de 2020 às 16h37.
A Latam prevê que sairá desta crise com uma operação um terço menor e poderá demitir pelo menos 700 pilotos no Brasil. Em reunião realizada na quarta-feira com o Sindicato Nacional dos Aeronautas, a empresa apresentou cenários de demanda e estimou que seria preciso encolher permanentemente o quadro de pilotos em 34% para ajustar à previsão de demanda para 2022.
No caso dos comissários, seria necessário um corte de 41% para adequar à realidade de demanda estimada para 2022, o que equivleria a 2.058 comissários a menos. Hoje são 4.965.
Hoje a companhia tem 2.043 pilotos, mas prevê que vai precisar de apenas 1.043 desses profissionais no início de 2022.
Para os próximos três meses, a previsão de demanda da companhia considera um excedente de 1.711 pilotos, ou 84% do quadro atual. Mas é muito pouco provável que os cortes cheguem a esse patamar.
Os números constam de uma apresentação gravada feita pelo Sindicato para os seus associados.
Segundo o sindicato, as empresas aéreas devem manter algum excedente devido aos custos e ao tempo que se gasta para integrar um novo piloto, que pode chegar a até 4 meses, considerando todos os exames e treinamentos obrigatórios.
Nas próximas semanas, Latam e sindicato devem discutir qual será o excedente adequado que permita à companhia alguma flexibilidade para retomar rapidamente as atividades caso a demanda volte de forma mais acentuada do que o previsto.
Segundo o presidente do SNA Ondino Dutra, a empresa estaria disposta a discutir a possibilidade de manutenção de todo o excedente, mas isso implicaria em sacrifícios por parte de todo o grupo, pois cada pilotos acabaria voando um volume muito pequeno de horas.
Dentre as propostas que o sindicato propõe é que a empresa abra programas de saída voluntária, como licença não remunerada e PDV, e que ofereça uma “garantia de retorno”, com uma proposta para recontratar, mais pra frente, os mesmos funcionários que forem dispensados agora.
Além dos cortes, segundo o presidente do SNA, a empresa também quer colocar na mesa de negociação alterações na convenção coletiva de trabalho e também um novo modelo de remuneração.
Há duas semanas, a matriz chilena entrou com pedido de recuperação judicial nos EUA, dentro do chamado Capítulo 11 da lei americana. A operação brasileira, que representa cerca de 50% de todo o grupo Latam, ficou de fora da recuperação judicial nos EUA, mas o cenário de uma recuperação judicial no Brasil não está descartado.
– Entendemos que a situação é grave. Mas entendemos por outro lado que ajustes permanentes não se justificam. Temos que fazer ajustes temporários para que ninguém perca seus empregos –, diz Dutra.
Procurada, a Latam diz que "segue em negociação com o sindicato" e não confirmou os números.
O presidente da Azul, John Rodgerson, gravou ontem um vídeo para funcionários afirmando que “decisões difíceis” deverão ser tomadas nos próximos dias para garantir a sobrevivência da empresa.
Rodgerson prevê que até o fim do ano a empresa estará operando cerca de 500 voos por dia, número que representa a metade da capacidade da companha.
– Infelizmente a retomada está sendo muito mais devagar do que foi previsto. Estamos com mais ou menos 150 voos por dia em junho e tentando aumentar a capacidade para 250 em julho, mas a nossa capacidade como empresa é quase 1.000 voos por dia. Vamos ter que tomar decisões difíceis pois não podemos ter queda de receita pela metade e um custo que não caiu. Vamos trabalhar com os sindicatos. A intenção é manter o maior numero de empregos possível –, disse Rodgerson.
O SNA deve se reunir com representantes da Gol nesta quinta-feira para iniciar uma negociação sobre possíveis demissões.