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Itaú e Bradesco se armam com R$ 7 bi contra inadimplência que está por vir

Histórico da carteira de crédito do sistema financeiro com atraso superior a 90 dias mostra que o percentual atual está aquém do observado em 2015 e 2016

Candido Bracher, presidente do Itaú: a demanda por crédito novo de pessoas jurídicas deve ser maior do que a de pessoas físicas (Itaú BBA/Divulgação)

Candido Bracher, presidente do Itaú: a demanda por crédito novo de pessoas jurídicas deve ser maior do que a de pessoas físicas (Itaú BBA/Divulgação)

NF

Natália Flach

Publicado em 5 de maio de 2020 às 13h00.

Última atualização em 5 de maio de 2020 às 18h13.

A crise do novo coronavírus fez com que o Bradesco e o Itaú Unibanco aumentassem em 7 bilhões de reais a proteção contra calotes e, consequentemente, tivessem recuo de 43% do lucro líquido para 7,4 bilhões de reais. Com esse resultado, os maiores bancos do país atingiram a menor rentabilidade das últimas duas décadas. Mas, diferentemente do que aconteceu com o Bradesco no dia da divulgação do seu balanço, quando os investidores penalizaram as ações do banco comandado por Octavio de Lazari, os papéis do Itaú subiram 3,70% nesta terça-feira.

O quadro é certamente delicado, mas "o verdadeiro impacto da inadimplência ainda não começou", afirma um relatório do BTG Pactual distribuído para clientes. De fato, no primeiro trimestre, a inadimplência de 90 dias no Bradesco aumentou 0,4 ponto percentual para 3,7%, enquanto no Itaú se manteve estável em 2,4%. Com a deterioração do cenário macroeconômico - por causa do desemprego e do fechamento de centenas de empresas -, o atraso no pagamento das dívidas deve aumentar concomitantemente à queda na demanda por novos empréstimos. "Acho que a demanda [por crédito novo] de pessoas jurídicas deve ser maior do que a de pessoas físicas, então, pode ser que a carteira de empresas cresça um pouco", afirma Candido Bracher, presidente do Itaú, em teleconferência com jornalistas.

Olhando o histórico da carteira de crédito do sistema financeiro nacional - que inclui operações contratadas no segmento de crédito livre e no segmento de crédito direcionado - com pelo menos uma parcela com atraso superior a 90 dias dá para perceber que o percentual atual está bem aquém da inadimplência entre 2015 e 2016, quando o Brasil passou por uma crise econômica.

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Fonte: BC

De acordo com um estudo realizado pelo Banco Central, o endividamento das empresas brasileiras alcança 3,1 trilhões de reais, enquanto a dívida das companhias afetadas pela pandemia (direta e indiretamente) pode chegar a 893 bilhões de reais. Nesse grupo de 1,6 milhão de empresas e cerca de 10 milhões de funcionários, a maior parte da exposição vem dos setores de eletricidade e gás, manufatura e comércio.

Para avaliar o impacto que a deterioração da qualidade dos ativos teria no balanço dos bancos, o estudo rebaixou a classificação de crédito dessas companhias afetadas e de seus funcionários de dois a três níveis. O resultado é a exigência de uma provisão adicional de 395 bilhões de reais, que representa o maior impacto já indicado por um teste de estresse. É bom lembrar que o sistema financeiro possui mais de 250 bilhões de reais em reservas contra perdas e que os bancos têm trabalhado para renegociar as dívidas.

"O exercício mostra que os bancos estão bem capitalizados para absorver esse impacto em seus balanços. O lucro líquido agregado de 119 bilhões de reais (ROE de 16,5%) em 2019 certamente ajuda, embora o regulador acredite que a capacidade de originar novos empréstimos possa ser afetada. De acordo com o BC, considerando os níveis de rentabilidade de crises anteriores, levaria até três anos para o sistema restaurar sua capacidade de empréstimo", escrevem Eduardo Rosman e Thomas Peredo, analistas do BTG.

Segundo Bracher, o Itaú aumentou em quatro vezes o volume de novas concessões no início da crise, por causa da demanda de grandes empresas, que hoje representam cerca de 30% da carteira de crédito do banco. Mas depois houve um arrefecimento e o total voltou ao patamar histórico. "O que vemos é que, nos próximos meses, pessoas físicas e empresas vão precisar rolar empréstimos mais do que contrair novos", diz o presidente do Itaú.

Ao todo, o Itaú já repactuou 850.000 contratos para pessoas físicas (empréstimo pessoal, cheque especial, crédito imobiliário, cartão de crédito Itaucard e financiamento de veículos) e para empresas (capital de giro e financiamento de veículos e máquinas). Aumentou a carência para 120 dias para pessoas físicas e 180 dias para empresas. 

Já o Bradesco deve anunciar, nesta semana, a decisão de prorrogar parcelas de dívida de pessoas físicas e de pequenas e médias empresas (PMEs) por mais 60 dias. Atualmente, o banco já oferece essa possibilidade por dois meses para linhas de crédito pessoal sem garantia, crédito parcelado, parcelamento de cheque especial e microcrédito – no caso de pessoa física – e de capital de giro sem garantia, giro fácil ou empresarial, CDC e microcrédito para PMEs.

Com isso, a nova prorrogação começaria em junho. “Teremos todo o mês de maio para conversar com os clientes e entender a situação financeira atual deles. Não adianta dar prazo de 60 dias para uma pessoa que ficou desempregada, ela precisa reorganizar a vida dela. Por isso, estamos estudando a possibilidade de juntar todas as dívidas dela [no banco] e dar de quatro a seis meses de carência”, disse Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, em teleconferência com jornalistas, na quinta-feira passada. “A conversa vai ser mais caso a caso agora.”

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