Sidnei Piva, presidente do Grupo Itapemirim: "teremos os diferenciais que as companhias aéreas esqueceram" (Grupo Itapemirim/Divulgação)
Gabriel Aguiar
Publicado em 2 de junho de 2021 às 12h52.
Última atualização em 2 de junho de 2021 às 13h16.
A Itapemirim Transportes Aéreos – companhia aérea do Grupo Itapemirim – voará pela primeira vez no fim deste mês. Só que os planos são ambiciosos e, para os próximos 12 meses, a novata promete ter 35 destinos e 50 aeronaves. Mais que isso: já mira na liderança do segmento doméstico e terá voos para a Europa em 2023. “Nosso objetivo é 40% do mercado”, diz Sidnei Piva, presidente do conglomerado.
Por enquanto, a estreante voará somente com o Airbus A320 ceo (modelo de geração anterior), sempre na configuração de 162 assentos. E esse era exatamente o modelo de negócios da finada Avianca Brasil, que pediu recuperação judicial em dezembro de 2018 e teve falência decretada há quase um ano. Como principais diferenciais, a ITA apostará em serviços de bordo premium e intermodalidade com ônibus.
“Costumo brincar que o mercado é como uma corrida de Fórmula 1. Ninguém quer acabar como último. Todo mundo quer ganhar. Somos um time novo, mas sempre quisemos o pódio. E, se o empresário já espera ser terceiro, é medíocre. Não dá certo. Sou competitivo e não aceito isso. Vamos buscar a liderança e, em quanto tempo, depende da equipe”, afirma Tiago Senna, vice-presidente do Grupo Itapemirim.
Nos últimos meses, o mercado da aviação comercial teve algumas mudanças, com destaque para a Azul, que conquistou a primeira posição em meio à pandemia, com 37,5% de participação neste ano. Já a Gol, que antes ficava à frente, caiu para a segunda colocação e teve 29,9%, enquanto a Latam Brasil fechou o acumulado com 27%. Nos melhores anos (2017 e 2018), a Avianca Brasil teve até 11% do mercado .
“Eles querem preencher o espaço deixado pela Avianca Brasil. Só que o mercado não se constrói do dia para a noite. E, apesar da ideia interessante de integração entre rodoviário e aeroportuário, nunca vi em nenhum outro lugar. Pode ser algo que dará supercerto, como também pode não fazer nenhum sentido. É uma aposta”, diz Thiago Nykiel, CEO da Infraway Engenharia, especialista em infraestrutura e aviação.
Em entrevista à Exame, os executivos da Itapemirim – além de Piva e Senna, estava presente Adalberto Bogsan, recém-contratado como CEO da companhia aérea – não revelaram quais serão as medidas para conquistar a liderança e qual é o prazo estimado para esse feito. Mas garantiram que, até ano que vem, todas as estratégias do conglomerado serão para fortalecer a empresa e criar rotas internacionais.
“É o objetivo, mas não temos prazo definido. Temos que ver como o mercado vai reagir e, por isso, não adianta dizer uma data hoje. Não adianta a gente sair abrindo um monte de frentes [de negócios] e de linhas, mas com aviões voando vazios. Nós somos muito ‘pé no chão’, ainda mais no início da empresa, já que dependemos da captação de passageiros. Tem toda uma estruturação até lá”, afirma Bogsan.
De acordo com Thiago Nykiel, a principal disputa da Itapemirim será contra Gol e Latam – por conta do porte das aeronaves e também da malha aérea focada em “aeroportos troncais” (como são chamados os pontos principais, que servem de hub às companhias) –, reforçando que a Azul precisou de 14 anos para conquistar a liderança. E sob circunstâncias de pandemia que enfraqueceram a concorrência.
“Grande ponto é que o transporte aéreo é muito competitivo. É Complicado. Não existe fórmula pronta. Para ser eficiente como as principais rivais, tem que vencer em ganho de escala e com a capacidade das rotas. É um desafio gigante. Quando perguntam se é possível, temos que lembrar que tudo é possível. Mas é improvável, considerando que as empresas já fazem um ótimo serviço”, afirma o especialista.
Para Sidnei Piva, essa será uma competição saudável, mas, para se destacar no mercado, a Itapemirim Transportes Aéreos oferecerá diferenciais que “as companhias esqueceram, como valores humanos no atendimento e o conforto” – as aeronaves terão 18 assentos menos que a capacidade máxima para dar mais espaço a bordo. Além disso, não haverá custo para despachar bagagem e escolher a poltrona.
“Primeiro passo é conectar os modais do grupo. Obviamente que, quando começamos o planejamento, só fara sentido dependendo de como o nosso mercado deverá reagir em relação a pandemia, vacinação e procedimentos sanitários. É um exercício de análise de consumo para fazer essa interligação de forma racional onde houver resultados financeiros”, diz Tiago Senna, vice-presidente do Grupo Itapemirim.
Segundo Sidnei Piva, todos os planos colocados em prática agora já estão traçados desde 2016 (apenas um ano antes de o conglomerado tentar comprar a Passaredo, rebatizada Voepass em 2019, e que não deu certo). E, anteriormente, o executivo já tinha confirmado a intenção de voar dez diferentes rotas à Europa. Só que a companhia aérea não revela por onde começará a operação internacional em 2023.
Neste momento, a estreante adotou a estratégia de oferecer passagens aéreas para oito destinos com preços até 65% menores que a concorrência, inclusive para datas comemorativas, como Natal e Ano Novo. Tanto que, de acordo com Tiago Senna, houve 12 milhões de acessos simultâneos ao site no dia de inauguração das vendas – mas não revelou resultados, considerados “informações estratégicas”.
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