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Intervenção traz dúvidas em momento de otimismo para a Petrobras

O pedido do presidente Jair Bolsonaro para Petrobras segurar preços derrubou ações da petroleira e trouxe dúvidas sobre a agenda liberal do governo

PETROBRAS: petroleira vive leva de desinvestimentos que inclui a TAG e a operação no Uruguai  (Germano Lüders/Exame)

PETROBRAS: petroleira vive leva de desinvestimentos que inclui a TAG e a operação no Uruguai (Germano Lüders/Exame)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 12 de abril de 2019 às 12h11.

Última atualização em 12 de abril de 2019 às 14h33.

O pedido do presidente Jair Bolsonaro para a Petrobras segurar um reajuste nos preços do óleo diesel em meio a pressões dos caminhoneiros traz más recordações para o mercado financeiro e ameaça o bom momento da petroleira. A companhia havia anunciado ontem que aumentaria o combustível em 5,7% a partir de hoje, mas a elevação foi suspensa seguindo um pedido de Bolsonaro, que ficou com medo da reação dos motoristas de caminhão.

A manobra preocupa porque, em primeiro lugar, demonstra a fragilidade política do governo, na avaliação de Álvaro Frasson, analista da corretora Necton. “O momento político está conturbado e parece que Bolsonaro quer evitar maiores problemas agora”, diz Frasson. Até as 12h desta sexta-feira as ações estavam em queda de 4,6%.

É a segunda vez que o governo Bolsonaro mexe na política de preços da Petrobras em meio às pressões dos caminhoneiros. No final de março, a petroleira anunciou que os ajustes nos preços do diesel seriam feitos em periodicidade mínima de 15 dias. Antes, os preços podiam ser alterados até diariamente, de acordo com as oscilações do petróleo no mercado internacional.

A periodicidade não é vista pelo mercado como um problema. No ano passado, ainda na gestão anterior da petroleira, o então diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, indicou que mesmo reajustes mensais poderiam ser empregados sem prejudicar as contas da empresa. Mas os aumentos têm que acontecer, porque o petróleo segue em trajetória de alta. Só neste ano, o barril do óleo tipo WTI, negociado nos Estados Unidos, já subiu 41%. Nesta semana, um levante na Líbia levou ao barril para mais de 70 dólares com receio de uma nova ameaça à produção global.

“A grande questão é se estamos falando agora de uma decisão temporária de motivação política ou alguma coisa que implica em mudança na maneira como o governo encara a liberdade operacional da Petrobras. E isso depende muito da reação dos apoiadores da nova política de preços da Petrobras e da agenda liberal”, Thiago Duarte e Pedro Soares, analistas do banco de investimentos BTG Pactual, escreveram em relatório a clientes hoje.

Mudança de rota? 

A petroleira vinha num momento de recuperação que se consolidou em boas notícias nos últimos dias. Na terça-feira, a União fechou um acordo com a petroleira para pagar 9 bilhões de dólares na revisão do contrato da cessão onerosa do Pré-Sal . O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou que o valor deve ser usado para ampliar a exploração da área.

Na sexta passada, a companhia anunciou a venda de 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG) para a franco-belga Engie e o fundo canadense CDPQ por 8,6 bilhões de dólares. Em outra frente, segundo o jornal O Globo, a Petrobras vai negociar com o governo do Uruguai sua saída do país, devolvendo as concessões de duas distribuidoras de gás natural e de 89 postos deficitários no país.

As ações da companhia estavam em alta de 20% este ano, até a madrugada desta sexta-feira. Desde o início do processo de melhorias de gestão da petroleira, em 2016, seu valor de mercado mais que quintuplicou, para 406 bilhões de dólares. Apenas nesta manhã, a empresa perdeu quase 20 bilhões de valor. Investidores já deixaram bem claro que Petrobras preferem. A ver como o governo responderá.

“É mais fácil ser liberal na teoria do que na prática”, afirma Celso Toledo, economista da consultoria LCA e colunista de EXAME.

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