Os brinquedos eróticos geram mais de US$ 20 bilhões por ano no mundo, e projeta-se que as vendas chegarão a quase US$ 30 bilhões até 2020 (Bartek71/Thinkstock)
Ligia Tuon
Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 22h31.
Última atualização em 5 de abril de 2021 às 16h50.
Polly Rodriguez, uma empreendedora de brinquedos eróticos, não aguenta mais os olhares estranhos dos banqueiros.
Sua loja virtual, Unbound, vende vibradores coloridos, pulseiras que servem de algemas e outros produtos íntimos para mulheres. Apesar de esgotar o estoque, Rodriguez disse que teve dificuldades para encontrar um banco disposto a lhe conceder um empréstimo para pequenas empresas. Ela culpa o nervosismo do setor financeiro quando o assunto é sexo.
É por isso que ela vê as moedas digitais como um motivo de esperança.
“Ao receber o rótulo de empresa para adultos, na prática você entra numa lista negra”, disse Rodriguez. “Ao adotar a codificação e eliminar o juízo moral e subjetivo, tudo muda.”
Bancos e empresas de cartões de crédito podem ser inflexíveis com empresas para adultos, embora elas possam gerar muito dinheiro. Os brinquedos eróticos geram mais de US$ 20 bilhões por ano no mundo, e projeta-se que as vendas chegarão a quase US$ 30 bilhões até 2020, segundo a empresa de pesquisa de mercado Technavio, com sede em Londres. Mesmo assim, as instituições financeiras consideram que as companhias que vendem brinquedos eróticos são muito arriscadas e as incluem na mesma categoria que os serviços de acompanhantes e os sites de pornografia, que às vezes beiram a ilegalidade.
As empresas de cartões de crédito também receiam os estornos, que acontecem quando o titular de um cartão afirma que uma transação é fraudulenta. Por exemplo, um homem usa o cartão para assistir pornografia e depois nega ter feito a compra quando a esposa descobre o pagamento, e a empresa do cartão acaba ficando no prejuízo.
A possibilidade de se livrar dessas complicações faz com que algumas empresas para o público adulto comemorem a febre das moedas digitais, como bitcoin e ethereum, e o surgimento dos tokens para pagamentos digitais, que poderiam ajudá-las a driblar intermediários céticos e permitir que os clientes realizem pagamentos diretos.
Xavi Clos, diretor de produção da BaDoink VR, uma produtora de pornografia com realidade virtual, disse que os tokens têm grande potencial no setor de entretenimento para adultos porque são uma forma direta e anônima de aceitar pagamentos. O problema, disse ele, é que “ainda não existe nada pronto para o uso comercial real”. Os custos das transações continuam altos demais e a infraestrutura, sujeita a ataques de hackers e congelamentos, ainda precisa melhorar.
Se o uso de criptomoedas e tokens digitais se popularizasse no setor dedicado ao público adulto, disse Rodriguez, da Unbound, “eu não teria que passar tanto tempo me preocupando com a possibilidade de que minha conta bancária seja fechada. O fato de termos tão pouca disposição para conversar sobre a saúde e o bem-estar sexual de forma boa e saudável faz com que esse setor fique relegado às sombras. E isso não é bom para ninguém”.