Construção de imóveis: lançamentos e as vendas neste mercado devem crescer na ordem de 20% a 30% no país em 2019 (iStock/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de março de 2019 às 08h16.
O início de recuperação da economia e o vácuo deixado por grandes empresas atingidas pela crise abriram caminho para incorporadoras de médio porte na cidade de São Paulo. Nomes como Vitacon, You e Setin, que trabalham com imóveis de médio e alto padrões e têm planos agressivos de expansão, deram nova cara à concorrência no setor.
A Vitacon, do empresário Alexandre Frankel, pretende lançar empreendimentos imobiliários com valor geral de vendas (VGV) estimado em R$ 2,3 bilhões em 2019, 87% a mais do que no ano passado. Se confirmado, esse volume será equivalente à metade do realizado no último ano pela Cyrela, líder nacional em residenciais de alto padrão. "Estamos em um momento muito especial", afirma Frankel. "Em vez da tempestade, temos agora o céu perfeito". Ele cita, como fatores que influenciam essa perspectiva, inflação e juros em patamares moderados e aumento na confiança do consumidor.
Outro fator favorável, segundo ele, é a concorrência menor, já que pelo menos sete grandes empresas saíram de cena devido a problemas financeiros. Alavancadas antes da crise, entraram em recuperação judicial, estão endividadas ou têm controladores em dificuldades por conta do envolvimento na Operação Lava Jato. "O mercado está muito menos concorrido", diz Frankel.
Outra incorporadora que está ganhando corpo é a You, do empresário Abrão Muszkat, ex-sócio da Even. Para este ano, a projeção é de lançar empreendimentos com VGV estimado entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões, quase o dobro do ano passado, quando chegaram a R$ 500 milhões. O principal projeto são duas torres em Pinheiros, reunindo apartamentos residenciais, quartos de hotel, consultórios e clínica médica.
Para sustentar o crescimento, a You receberá uma injeção de R$ 100 milhões este ano e prepara sua abertura de capital para 2021. Além disso, Muszkat acaba de vender 30% de participação na incorporadora para o fundo Insight, do empresário do setor de tecnologia Alberto Leite. O sócio ajudará a You a ser uma companhia mais digital.
A Setin também está ganhando tração, com empreendimentos que devem somar R$ 650 milhões em valor geral de vendas em 2019, ante R$ 500 milhões em 2018. "Quero chegar a R$ 1 bilhão no ano que vem", diz o dono, Antônio Setin.
A Setin firmou parceria com a incorporadora amazonense Capital para criação de uma nova empresa em São Paulo, chamada Mundo Apto. O foco será o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), segmento imobiliário que mais cresceu nos últimos anos, chegando a representar dois terços dos lançamentos e das vendas no País. A meta para 2019 é de lançar cinco projetos, começando em maio.
A criação da Mundo Apto acirrará ainda mais a concorrência no MCMV, que já atraiu pesos pesados como Cyrela, Eztec e RNI. Desde o ano passado, essas companhias passaram a desenvolver projetos dentro do programa habitacional, atraídas pelos financiamentos do FGTS com juros menores do que no restante do mercado.
O crescimento das construtoras menores também está relacionado à inflexão no setor residencial de médio e alto padrão. Os lançamentos e as vendas neste mercado devem crescer na ordem de 20% a 30% no país em 2019 frente a 2018, de acordo com projeção da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Durante a crise, o setor foi muito impactado pelos distratos e pelos juros altos dos financiamentos. Entretanto, desde o ano passado, os negócios têm voltado a esquentar graças à estabilização da economia e da política, aumentando a confiança de empresários e consumidores para fechar negócios. "Estamos muito animados com o mercado", diz José Carlos Martins, presidente da CBIC.
Enrico Trotta, analista de construção civil do Itaú BBA, afirma que os juros dos financiamentos para residenciais de médio e alto padrões caíram para cerca de 9% ao ano, porque os bancos estão mais agressivos e planejam continuar crescendo nessa área. Ele também diz que o estoque de imóveis disponíveis para venda está abaixo da média histórica, o que abre espaço para o início de novos projetos, apesar do alto desemprego. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.