Danos casados pelo incêndio que atingiu a refinaria Getúlio Vargas: as restrições à produção pioram sua perspectiva de lucro porque o governo faz com que a Petrobras venda abaixo do custo (Sindipetro-PR/SC/Divulgação via Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2014 às 13h54.
Rio de Janeiro - Dois incêndios em refinarias da Petrobras em cinco semanas estão escurecendo sua perspectiva de lucros porque a produtora estatal de petróleo poderia se ver obrigada a desacelerar a produção de combustível e a aumentar importações revendidas a preços subsidiados.
A Petrobras, a petrolífera mais endividada do mundo, teve suas estimativas de lucros por ação para 2014 reduzidas em 5,8 por cento pelos analistas nas últimas quatro semanas, a maior diminuição entre as 11 companhias de petróleo mais valiosas do mundo, segundo dados compilados pela Bloomberg.
A produtora, que não expande suas atividades de refino no Brasil desde a década de 1980 e que no ano passado utilizou as unidades quase em capacidade completa, está sendo pressionada pelos sindicatos, que consideram que os incêndios foram causados pela tensão entre instalações velhas e número insuficiente de operários.
As restrições à produção pioram sua perspectiva de lucro porque o governo faz com que a Petrobras venda combustível a preços abaixo dos custos das importações, com o objetivo de manter a inflação abaixo do limite máximo de 6,5 por cento da sua meta.
“Em certa medida, as refinarias trabalhando na máxima capacidade diminuíram o impacto negativo da venda de gasolina a preços relativamente baixos no Brasil”, disse Nick Robinson, diretor de ações brasileiras na Aberdeen Asset Management Plc, com sede no Reino Unido, que gerencia cerca de US$ 15 bilhões em ações de empresas latino-americanas e possui ações da Petrobras.
“Qualquer redução na capacidade de refino disponível para eles é obviamente algo negativo”.
A Petrobras não quis comentar sobre sua capacidade de refino nem sobre suas estimativas de lucros em resposta por e-mail a perguntas.
O uso de 92 por cento da capacidade das refinarias, em média, no ano passado ficou em sintonia com as unidades de melhor desempenho dos EUA, disse a Petrobras em um documento regulatório do dia 7 de janeiro, sem dar os nomes das refinarias norte-americanas. A produção aumentou 8 por cento em relação a 2012, para 2,03 barris diários.
Moeda desvalorizada
Uma possível extensão da desvalorização de 7,7 por cento do real brasileiro registrada nos últimos três meses, que torna mais caras as compras no exterior em moeda local, e qualquer aumento no preço da gasolina dos EUA poderiam exacerbar as perdas com importações neste ano, disse Robinson.
A produção de combustível quase na capacidade máxima ajudou a companhia com sede no Rio de Janeiro a registrar US$ 5,7 bilhões em lucros para sua divisão de fornecimento no ano passado até setembro, recuperando-se de perdas de cerca de US$ 9 bilhões um ano atrás, causadas principalmente pelas importações.
A empresa não detalha quanto a divisão perde somente com as importações de combustível.
A principal diferença em relação às refinarias dos EUA é que elas estavam preparadas para funcionar nesse nível de capacidade por vários anos e não sofreram a mesma pressão que as unidades da Petrobras, onde houve uma mudança repentina, disse Michael Wojciechowski, da Wood Mackenzie Ltd.
A produtora de petróleo bruto, controlada pelo governo com uma participação majoritária com direito a voto, procurou a aprovação do seu conselho para implementar aumentos automáticos dos preços do combustível que ela vende aos distribuidores, para diminuir uma brecha com os preços internacionais.
No dia 29 de novembro, o conselho, dirigido pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega, permitiu que a empresa aumentasse os preços da gasolina e do diesel em 4 por cento e 8 por cento respectivamente, mas manteve a fórmula privada.
Embora a Petrobras esteja passando por dificuldades por causa do impacto das importações de combustível, suas ações operadas em São Paulo poderiam se recuperar devido às suas reservas de petróleo bruto e às suas perspectivas de produção, disse Robinson da Aberdeen.
Potencial de crescimento
“Eles estão operando a níveis em que é difícil antever uma grande queda”, disse ele. “Levando em conta os ativos que eles já possuem e o potencial de crescimento, quando as coisas se normalizarem um pouco provavelmente haverá um crescimento razoável”.
Contudo, a incerteza em relação aos preços do combustível continuará afetando a Petrobras, segundo Marco Tavares, presidente do conselho da empresa de pesquisa Gas Energy, com sede no Rio de Janeiro.
“O que preocupa é a forma em que o mercado brasileiro está sendo administrado, com subsídios à gasolina e ao diesel”, disse Tavares em entrevista por telefone. “A Petrobras tem uma perda muito importante por causa das importações”.