Braskem: a questão central é o preço do insumo (João Mulsa/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2014 às 14h44.
São Paulo - A Petrobras e a petroquímica Braskem encontram-se novamente em um impasse sobre o contrato de renovação de fornecimento de nafta, principal matéria-prima para a produção de resinas termoplásticas.
A questão central é o preço do insumo, situação que vem se arrastando desde o ano passado, informou uma fonte a par do assunto.
O imbróglio colocará em risco um projeto avaliado em R$ 380 milhões para ser instalado no Rio Grande do Sul. Idealizado pela polonesa Synthos, esse empreendimento depende de butadieno fornecido pela Braskem, insumo utilizado na produção de borracha sintética.
O avanço desse projeto foi interrompido no fim do mês passado. À época, a Braskem deveria dar sinal positivo de que teria condições de viabilizar no longo prazo o fornecimento de matéria-prima, conforme os termos acertados inicialmente entre as partes.
Essa sinalização não aconteceu e agora a Synthos aguarda o desfecho do impasse para retomar o investimento.
"Não temos um prazo para começar, mas cada mês que passa é uma perda para o Brasil, para a Braskem e para a Synthos", disse o presidente do grupo europeu, Tomasz Kalwat, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
O projeto estava previsto para entrar em operação em 2017 e resultaria na geração de 120 empregos diretos.
Kalwat alertou que a Synthos não poderá aguardar a solução por tempo indeterminado. O investimento está sustentado por uma série de acordos formatados pela empresa.
A companhia já negociou, por exemplo, as condições de viabilidade do empreendimento com o governo gaúcho e com as futuras clientes Pirelli e Michelin. O aval da Braskem é o único entrave para o avanço do projeto.
A petroquímica, contudo, sinalizou que não pode assumir compromisso de longo prazo enquanto não concluir negociação com a Petrobras a respeito da nafta utilizada nas centrais petroquímicas. A estatal detém 36.1% da Braskem.
Impasse
As negociações entre a Petrobras e Braskem sobre o preço da nafta se arrastam desde 2013. Diante da dificuldade das duas empresas de chegar a um consenso, foi assinado em fevereiro um aditivo por um período de seis meses. O prazo se encerra nas próximas semanas.
O aditivo resultou na manutenção das condições do contrato entre as duas, válido entre 2009 e 2014, mas não mostrou avanço em relação às condições de fornecimento nos próximos anos.
Pelo contrário, a Petrobras mantém a intenção de repassar à Braskem o custo decorrente das operações de importação de nafta, enquanto a petroquímica alega que a cadeia química não tem condições de absorver preços mais altos.
Estima-se que o impacto sobre o preço seria de aproximadamente 5%, o suficiente para eliminar a margem de lucro de alguns participantes da cadeia química, sobretudo segmentos que enfrentam a concorrência da indústria americana abastecida pelo gás de xisto.
Procurada, a Braskem informou que está "empenhada" em encontrar uma solução para o tema junto com a estatal.
"A Braskem continua trabalhando para que as negociações sigam na direção de um resultado positivo que garanta a competitividade da indústria química e petroquímica brasileira", destacou em nota. A Petrobras não comentou o assunto.
Segundo fontes, o problema teve origem há dois anos, quando a Petrobras decidiu usar parte da nafta fornecida à petroquímica na composição da gasolina. Para atender a Braskem, a solução foi a importação da nafta.
Agora, a Petrobras tenta repassar à Braskem o custo decorrente dessa importação. O contrato entre as partes é avaliado em cerca de US$ 6 bilhões por ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.