São Paulo - Nos meses seguintes à eclosão do maior escândalo de subornos do Brasil, os investidores fugiram de empresas ligadas às supostas propinas. Trata-se de uma atitude muito precipitada, segundo a HSBC Holdings Plc e a Mizuho Securities USA.
A Odebrecht Offshore Drilling e a Queiroz Galvão Oil Gás Constellation são um exemplo disso. Os títulos dessas empresas caíram pelo menos 27 por cento desde 13 de novembro, quando a Polícia Federal disse que encontrou “fortes evidências” de que pelo menos sete construtoras, incluindo as empresas-mãe das duas fornecedoras a plataformas de petróleo, formaram um cartel para ganhar contratos públicos.
Para John Haugh, da Mizuho, os bonds agora são considerados uma “compra” porque os termos que os governam provavelmente defenderão os emissores de qualquer punição que as empresas-mãe possam enfrentar caso sejam consideradas culpadas por subornar a Petrobras, a empresa petrolífera controlada pelo Estado.
Além de o dinheiro para pagar essas notas ser separado em uma conta caução, os contratos de frete de longo prazo com a Petrobras que garantem a dívida só podem ser encerrados em caso de as plataformas não serem entregues a tempo ou estarem com defeito.
“Esses bonds foram vendidos em grande quantidade e apresentam um ponto de entrada atrativo”, disse Haugh, estrategista corporativo para América Latina, por telefone, de Nova York. “Os contratos de frete que garantem os bonds não podem ser renegociados antes de expirarem”.
A Odebrecht Offshore Drilling disse que suas notas têm um pacote sólido de garantias, incluindo os navios-sonda, assim como recebíveis de contratos de longo prazo.
A empresa-mãe Odebrecht SA, que tem sede em Salvador, Bahia, encaminhou as perguntas à unidade. Em um comunicado de 30 de dezembro, a Odebrecht disse que todos seus contratos com a Petrobras foram obtidos em processos concorrenciais sob a legislação estabelecida.
Banidas pela Petrobras
A assessoria de imprensa da Queiroz Galvão Oil Gás, que tem sede no Rio de Janeiro, preferiu não comentar as acusações e os prejuízos dos bonds. Sua empresa-mãe, a Queiroz Galvão SA, que encaminhou os pedidos de comentário para a unidade, disse em um comunicado, no dia 14 de novembro, que todos os seus contratos estão dentro da lei.
Desde o final de dezembro a Petrobras proibiu mais de 20 construtoras, incluindo a Odebrecht e a Queiroz Galvão, de realizarem ofertas para obterem contratos enquanto não for divulgado o resultado de uma investigação que deixou o mercado financeiro nervoso e provocou pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Os títulos da Odebrecht Offshore Drilling da emissão de US$ 1,275 bilhão para 2022 caíram 27 por cento desde 13 de novembro, para 74,29 centavos de dólar. As notas, agora, estão desvalorizadas, rendendo 11,53 pontos porcentuais sobre títulos do Tesouro dos EUA com vencimento similar.
‘Mais atrativa’
Os títulos da Queiroz Galvão Oil Gás da emissão de US$ 700 milhões para 2019 despencaram 46 por cento no mesmo período, para 52,51 centavos de dólar. A 23,36 por cento, eles rendem três vezes a média das dívidas de mercados emergentes classificadas como junk.
Os bonds são uma pechincha porque os contratos de longo prazo oferecem visibilidade do fluxo de caixa e não contêm cláusulas que possam ser exploradas pela Petrobras para anular os contratos de afretamento se as empresas-mãe forem consideradas culpadas, disseram analistas do HSBC, liderados por Sarah Leshner, em um relatório no dia 4 de fevereiro.
“Os bonds garantidos por navios-sonda oferecem a relação risco-retorno mais atrativa para um investidor paciente”, escreveram.
As empresas de plataformas também tiram proveito do aluguel de equipamentos estrategicamente fundamentais para a Petrobras.
Sanjay Ranade, estrategista da Jefferies Group LLC, recomendou no mes passado que os investidores fiquem longe dos títulos.
‘Tempos voláteis’
“Nesses tempos voláteis não podemos descartar a possibilidade de uma renegociação”, disse ele, em uma nota a clientes, em 7 de janeiro.
Haugh, da Mizuho, disse que a maioria dos contratos que garantem os bonds da Queiroz Galvão Oil Gás expira em 2018, um ano antes de as notas vencerem, o que garante que os pagamentos de dívidas sejam cobertos por vários anos depois disso.
E embora tenha preferido não fornecer uma estimativa de valor justo para os bonds das fornecedoras de plataformas, ele disse que os investidores exigem muito em rendimento em relação às notas da Petrobras.
A dívida de 2019 da Queiroz Galvão Oil Gás rende 15,7 pontos porcentuais a mais que os títulos de vencimento similar da Petrobras, mostram dados compilados pela Bloomberg.
“Existe um valor suficiente de ativos para cobrir toda a dívida da Queiroz Galvão Oil Gás e de suas subsidiárias”, disse Haugh. “Esses bonds devem ser negociados com uma diferença menor em relação aos da Petrobras”.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)