Negócios

Hotel flutuante mostra metas distantes da Petrobras

Estatal depende de mais plataformas para alcançar os vastos depósitos na costa brasileira após descumprir as metas por 10 anos seguidos


	Funcionários da Petrobras em uma plataforma de petróleo em construção na bacia de Angra dos Reis
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Funcionários da Petrobras em uma plataforma de petróleo em construção na bacia de Angra dos Reis (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2014 às 16h54.

Rio de Janeiro - As chances de a Petrobras cumprir suas metas de produção pela primeira vez em uma década estão diminuindo em um momento em que a pressa para despachar novas plataformas de petróleo está causando dores de cabeça a quilômetros de distância, no mar.

Um hotel flutuante ancorado no mês passado em sua plataforma P-62 simboliza a situação da estatal.

O chamado flotel abriga centenas de trabalhadores enviados para consertar a nova unidade que já está meses atrasada em relação à programação após um incêndio e uma manutenção de emergência.

Outras novas plataformas nos campos de Roncador, Sapinhoá e Lula Nordeste reportaram falhas de segurança e atrasos em equipamentos de fornecedores, o que desacelerou a produção.

A Petrobras, maior produtora em águas com mais de 300 metros de profundidade, depende de plataformas como a P-62 para alcançar vastos depósitos na costa brasileira após descumprir as metas de produção por 10 anos seguidos.

No ano passado, a empresa disse que a produção começaria a aumentar no quarto trimestre, já que as novas plataformas adicionaram um milhão de barris à capacidade diária.

Até junho, a capacidade é 1,4 por cento maior em comparação com uma meta de crescimento anual de 7,5 por cento.

“Estamos menos otimistas em relação ao crescimento da produção da Petrobras neste ano”, disse Auro Rozembaum, analista da unidade de banco de investimento do Banco Bradesco.

“A produção ficou praticamente estável nos primeiros quatro meses do ano com paradas para manutenção e atraso de equipamentos, ficou mais difícil”.

Recuperação das ações

Em uma resposta a questões enviadas por e-mail, a Petrobras disse que no segundo semestre 33 novos poços serão conectados à P-62 e à plataforma-irmã P-55, cada qual com capacidade de bombear 180.000 barris ao dia. A empresa reitera sua meta de crescimento.

“Novos sistemas de produção vão entrar em operação ao longo de 2014 para garantir o crescimento sustentado da produção, conforme o Plano de Negócios e Gestão da Petrobras 2014-2018, que prevê aumento de 7,5%, até o final de 2014, com margem de tolerância de um ponto percentual para mais ou para menos”, disse a companhia, que tem sede no Rio de Janeiro, no relatório de produção de maio.

A Petrobras, que tem as ações com pior desempenho nos últimos cinco anos entre 15 pares monitorados pela Bloomberg, recuperou 14 por cento de seu valor na bolsa, neste ano.

É mais que o dobro do ganho médio de 6,2 por cento de seus pares. O Brent Crude perdeu 4,9 por cento em 2014.

Trabalho apressado

Os investidores não confiam que a Petrobras vá cumprir suas metas neste ano, disse Eric Conrads, que ajuda a gerenciar US$ 500 milhões em ações latino-americanas como gerente financeiro do ING Groep NV.

A ação subiu com a especulação de que a eleição presidencial de outubro prenunciará políticas mais favoráveis aos investidores.

A pressa para lançar a P-62 e outras plataformas ao mar no ano passado contribuiu com os atrasos, segundo José Maria Rangel, líder sindical e ex-membro do conselho, que visitou a plataforma em 1º de julho.

Ele disse que testemunhou dificuldades para conectar o 3º e o 24º poços e que a empresa também estava consertando falhas em equipamentos e se preparando para receber um navio cheio de trabalhadores.

“A quantidade de reparos a serem feitos não é pequena”, disse por telefone.

“Estão com dificuldade para conectar poços na P-62 e na P-55. Obviamente se há atraso de interconexão de poços, isso se reflete no resultado final, sem sombra de dúvida”.

Na melhor das hipóteses, a Petrobras adicionará 200.000 barris ao dia por ano em média, contra os cerca de 300.000 previstos no plano de negócios da companhia, disse Bernardo Wjuniski, analista da Medley Global Advisers, que realiza pesquisas sobre a indústria petrolífera no Brasil, por telefone, de São Paulo.

A Petrobras superestima a velocidade com que pode tornar os novos poços operantes e subestima a queda de produção em campos mais antigos com reservas por esgotar, disse ele.

As taxas de declínio da companhia estão em linha com os níveis internacionais, disse José Formigli, diretor de exploração e produção da empresa, a repórteres, no mês passado.

A Petrobras pretende duplicar a produção local para mais de 4 milhões de barris ao dia até o fim da década.

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