André Florence (ao centro), Guilherme Azevedo (à dir.) e Matheus Moraes, fundadores da Alice: healthtech cria plano empresarial com limite de reajuste (Leandro Fonseca/Exame)
Mariana Desidério
Publicado em 7 de junho de 2022 às 08h00.
Última atualização em 7 de junho de 2022 às 14h18.
A empresa de saúde Alice vai passar a vender planos de saúde para empresas, voltando-se para o maior mercado do setor. O mercado de planos de saúde empresariais tem hoje 33,8 milhões de beneficiários, quase quatro vezes mais que o mercado de planos individuais, em que a startup atuava de forma exclusiva até agora, que possui 8,8 milhões de pessoas.
Capitalizada, healthtech Alice mira planos de saúde corporativos
Com prejuízo de R$ 70 mi, Prevent Senior volta a vender planos e diz que CPI é página virada
A expectativa é que, no médio prazo, o mercado de planos empresariais supere o de planos individuais para a startup, que hoje tem cerca de 10 mil beneficiários. Para atrair as empresas, a startup promete um serviço com foco na saúde do colaborador e limite para o reajuste anual. “Nosso modelo é diferente do de planos tradicionais, que em geral fazem a gestão de um sinistro”. “Somos uma gestora de saúde, e tudo o que fazemos tem como foco deixar o beneficiário mais saudável”, diz André Florence, CEO da Alice.
Um dos diferenciais do seu plano, segundo a healthtech, é o teto de reajuste. A empresa se compromete a reajustar os contratos de planos empresariais em no máximo duas vezes o IPCA do período. Para 2021, por exemplo, que teve IPCA de 10,06%, o reajuste máximo ficaria em cerca de 20%. “Nós garantimos que o reajuste nunca estará acima do teto, e na realidade esperamos que fique abaixo disso. Com isso, damos previsibilidade para as empresas”, diz.
Um dos grandes problemas dos planos empresariais está no reajuste, que para esta modalidade não tem limite e é negociado diretamente entre empresas e operadoras todo os anos. Há casos em que os planos têm aumentos de 50% ou 70%, de um ano para o outro. O plano empresarial funcionou em 2021 em versão beta, e a Alice já tem hoje cerca de 60 clientes corporativos em sua base. No período de teste, o reajuste foi de 10,5%.
Outro ponto de destaque do plano empresarial da Alice é o que a startup chama de Score Magenta. O indicador, que vai de 0 a 1.000 já é disponibilizado para os clientes com plano individual e mostra como está a saúde do beneficiário em frentes como saúde mental, alimentação e exercícios físicos. No plano empresarial, cada beneficiário terá acesso ao seu score pessoal, e a empresa terá acesso ao score daquela população, sem poder acessar os indicadores individuais.
Florence exemplifica com o score dos funcionários da própria Alice. “Hoje o score da Alice é 680. Consigo ver que estamos bem em saúde mental e nutrição, mas que estamos abaixo do ideal em atividade física”, diz.
A partir dessas informações a empresa pode criar programas de incentivo que ajudem os funcionários a cuidarem melhor da própria saúde. A ideia é que, ao incentivar maior cuidado com a saúde entre seus funcionários, além de ter uma equipe mais saudável, a empresa tenha um reajuste menor no plano, tornando o mercado mais sustentável.
O produto é voltado especialmente para empresas com sede em São Paulo, que tenham a partir de 30 funcionários (mas é possível aderir ao plano com uma equipe menor, segundo o CEO). A rede de cobertura é nacional, para atender os funcionários dessas companhias que atuem em outros estados de maneira remota.
A entrada no segmento empresarial era um plano antigo da startup, fundada em 2019. O plano inicial era oferecer um produto de saúde voltado para startups. Mas a empresa passou a conhecer melhor o setor e viu uma boa oportunidade no mercado individual. Florence diz que, com o novo produto, a tendência é que, com o tempo, os planos empresariais se tornem a maior parte da carteira da healthtech.
Com a novidade, a Alice passa a competir mais diretamente com operadoras já consolidadas, como Bradesco e Sulamérica, que vendem apenas planos coletivos. Para crescer sem perder qualidade, a Alice investe em ampliar o uso de tecnologia para integração de dados e gestão da saúde dos beneficiários. “O desafio é manter o nível de serviço com uma base maior de clientes e para isso estamos ampliando o uso de tecnologia e investindo em pessoas”, diz Florence.
A startup não divulga metas de crescimento com o novo produto. Isso porque o mercado de startups de tecnologia vive um momento delicado, com investimentos escassos e demissões em massa. Com isso, a Alice adaptou a estratégia e está focando menos em crescimento e mais na sustentabilidade do negócio.
A healthtech fez uma captação de R$ 728 milhões em dezembro do ano passado, liderada pelo Softbank, o que a deixa em uma situação mais confortável para atravessar o período de vacas magras. “Acredito que o humor do mercado para continuar investindo está muito diferente do que encontramos no final do ano passado e provavelmente vai ficar assim por algum tempo”, diz.
A previsão inicial era manter um crescimento mais agressivo e fazer uma nova captação no final deste ano ou no início de 2023. Com a mudança dos ventos, o plano foi adaptado. A empresa está com dinheiro em caixa e vai focar em construir produtos com atenção especial à sustentabilidade da operação.