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Hapvida suspende aquisições para enfrentar coronavírus

"Vamos nos focar em preservar liquidez”, disse o presidente da operadora de saúde, Jorge Pinheiro. O executivo está com coronavírus em isolamento em casa.

 (Hapvida/Divulgação)

(Hapvida/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 26 de março de 2020 às 14h31.

Última atualização em 5 de maio de 2020 às 23h22.

A operadora de planos de saúde Hapvida, maior do setor, suspendou todas as negocioações que mantinha sobre fusões e aquisições devido à pandemia do novo coronavírus. Os planos ficarão paralisados durante 60 dias. “Não vamos caminhar com projetos de aquisição que abram novas frentes de trabalho para a empresa. Vamos nos focar em preservar liquidez”, disse durante telefoconferência com analistas o presidente da companhia, Jorge Pinehiro, que está com coronavírus isolado em casa. "Tenho poucos sintomas que não me impedem de trabalhar. Desde segunda-feira tenho trabalho em isolamento de casa e estou trabalhando mais do que nunca", disse Pinheiro.

Com forte presença nas regiões Norte e Nordeste, ainda pouco afetadas pelo vírus, a Hapvida nao viu até agora aumento na demanda em suas unidades de atendimento. Ainda assim, está desmarcando todos exames e cirurgia eletivas de sua rede, a fim de liberar leitos para uma possível demanda de pacientes com coronavírus, com excessão para casos urgentes em áreas como oncologia e obstetrícia. A estimativa é de de 60% a 70% dos procedimentos da rede sejam eletivos.

A empresa conta hoje com 2.600 leitos na rede própria, sendo 555 leitos em unidades de tratamento intensivo. De acordo com o presidente, a operadora trabalha com uma folga considerável na ocupação de leitos, com taxa de ocupação de cerca de 60%. Ainda assim, além de cancelar procedimentos, a rede está ampliando sua capacidade de atendimento, com mais leitos e compra de equipamentos. Em caso de maior necessidade, a Hapvida considera usar ambulatórios e deslocar pessoal para atendimento. Férias marcadas para os meses de abril, maio e junho foram canceladas.

A rede criou uma equipe de monitoramento da pandemia que se reúne diariamente. Até agora, foram confirmados quinze casos de coronavírus entre pacientes da Hapvida: um no Amazonas, 4 na Bahia, 7 no Ceará e 3 casos no interior de São Paulo.

O impacto da crise do coronavírus sobre a companhia e o setor de saúde como um todo ainda é incerto. Um possível aumento da demanda pode ter impacto na sinistralidade das empresas, que também consideram ter de lidar com uma maior inadimplência. A orientação da ANS é de que operadoras de planos que não cancelem ou suspendam contratos durante o período de pandemia. Mas os executivos da Hapvida lembram que a empresa cresceu de forma expressiva durante a crise econômica, impulsionada por empresas em busca de planos de saúde mais baratos para seus funcionários.

A operadora divulgou ontem os resultados consolidados de 2019. A Hapvida terminou o ano com faturamento de 5,6 bilhões de reais, alta de 23% em relação a 2018. O lucro no ano foi de 866,6 milhões de reais, alta de 9,9% ante 2018. Os executivos da companhia comemoram uma melhora no índice de sinistralidade da empresa, que ficou em 60,7% no ano – 58,4%, se decontados os ressarcimentos feitos ao SUS (Sistema Único de Saúde). A visão da empresa é de que há espaço para melhorar ainda mais o indicador, tendo em vista que as empresas recém-adquiridas apresentaram snisitralidade maior que a geral da companhia, com 69,5%.

A operadora terminou o ano com 3,5 milhões de beneficiários nos planos de saúde, aumento de 49% em relação a 2018, considerando as aquisições feitas no período. Se considerado somente o crescimento orgânico, o aumento no número de beneficiários foi de 3,7%. Já o número de beneficiários de planos odontológicos foi de 2,8 milhões alta de 67,7% considerando as aquisições, e 7% no crescimento orgânico.

Após abrir capital em 2018, a Hapvida foi às compras em 2019. Em maio do ano passado comprou o Grupo São Francisco, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, por 5 bilhões de reais. A aquisição foi aprovada pelo Cade, órgão de defesa da concorrência, em setembro, e marca a entrada da Hapvida no Sudeste. Em junho, fechou acordo para aquisição do Grupo América, de Goiás, por 426 milhões de reais, processo que foi concluído em dezembro. A crise do coronavírus vai frear a expansão da companhia via aquisições, ao menos po ora.

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