Imóvel da GWI que virou fábrica de iPhones: fundo se desfez de ativo para equilibrar contas (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 19h08.
São Paulo – O fundo de investimentos GWI já fechou o negócio que poderá lhe ajudar a cobrir as pesadas perdas em bolsa registradas em agosto deste ano. O GWI Real Estate, braço imobiliário da gestora de recursos, vendeu o galpão em Jundiaí que foi alugado para a taiwanesa Foxconn montar uma fábrica de iPhones. A compradora é a Kinea, a empresa de investimentos de risco do Itaú. Procurados, o GWI e a Kinea não quiseram se manifestar.
Localizado no km 66 da rodovia Anhanguera, no interior de São Paulo, o galpão que pertencia à GWI tem como único inquilino a Foxconn, maior fabricante de componentes eletrônicos do mundo. A empresa taiwanesa está transformando o imóvel em uma fábrica onde já trabalham 1.400 funcionários. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí, neste momento apenas o iPhone tem sido produzido no local, em fase de testes. À Anatel, a Foxconn informou que vai produzir o iPhone 4 e o iPhone 4S na unidade. Há negociações com o governo federal que envolvem o BNDES e podem levar à produção de outros produtos ali no futuro.
O imóvel é dividido em dois pavilhões. Apenas um já está em funcionamento. O outro ainda passa por reformas, como o rebaixamento do teto e a instalação do sistema de ar-condicionado. A escolha do imóvel que abrigaria a fábrica foi feita de maneira muito cuidadosa. Apenas para que a Apple aprovasse o galpão do GWI, foram mais de seis meses de negociações. A Foxconn também teve de realizar diversas modificações no imóvel de forma a atender a todas as especificações da Apple para uma unidade terceirizada.
O contrato de aluguel fechado entre as partes tem duração de cinco anos e estipula o pagamento mensal de cerca de 700.000 reais ao proprietário. Com base nesse valor, especialistas estimam que o imóvel tenha sido vendido à Kinea por algo próximo a 65 milhões de reais.
O dinheiro levantado vai permitir que o GWI Real Estate retome a construção de novos empreendimentos imobiliários. No auge da crise, o fundo chegou a colocar todos seus imóveis à venda como forma de tapar o rombo originado pelos maus resultados de um de seus fundos, que teve perdas milionárias com posições alavancadas em papéis do frigorífico Marfrig.
Após a venda do galpão que abriga a Foxconn, o primeiro projeto a ser desengavetado deve ser o de outro condomínio logístico também localizado em Jundiaí. Além disso, o fundo poderá retomar a expansão do empreendimento que possui próximo ao aeroporto de Cumbica, que serve como lastro de um fundo imobiliário com quotas negociadas em bolsa - que, inclusive, tem sido bastante lucrativo para os investidores.
Já a situação dos fundos de ações continua indefinida. Segundo reportagem publicada nesta sexta-feira no Valor, o GWI tenta culpar a Socopa, que atuava como corretora para os fundos, pelas perdas em bolsa. A Socopa decidiu zerar posições em ações do Marfrig quando o patrimônio de um dos fundosdo GWI ficou negativo – ou seja, não haveria mais condições de honrar todos os compromissos sem mais uma nova injeção de dinheiro pelos quotistas.
Já o GWI diz que a decisão foi precipitada e lhe causou prejuízo porque agravou a desvalorização das ações do Marfrig. O processo de 40 milhões de reais será decidido na Câmara de Arbitragem da BM&FBovespa. Procurada, a Socopa não comentou.
Para a Kinea, o compra do condomínio logístico em Jundiaí também pode ter desdobramentos. Especialistas afirmam que a gestora de recursos do Itaú deve incluir o imóvel comprado do GWI em algum fundo imobiliário.
O segmento de condomínios logístico anda bem aquecido. Diversas instituições financeiras planejam lançar fundos imobiliários de galpões nos próximos meses, uma vez que há grande demanda de inquilinos, baixas taxas de vacância e alta rentabilidade com aluguéis.
A Kinea informou que não poderia comentar as informações porque está em período de silêncio devido à terceira oferta de quotas do fundo Kinea Renda Imobiliária. O período de silêncio é uma exigência da Comissão de Valores Mobiliários, o órgão regulador do mercado de capitais brasileiro. A Kinea não quis comentar nem ao menos se parte dos 306 milhões de reais que devem ser levantados na oferta poderão ser usados para pagar o GWI.