Sócios da Natura (Germano Lüders/Exame)
Mendoza, Argentina - As crises enfrentadas pela humanidade ficaram mais severas nas últimas duas décadas, apesar de alguns avanços conquistados. A opinião é de Guilherme Leal, um dos fundadores da fabricante de cosméticos Natura. A desigualdade social e as mudanças no clima são assuntos urgentes que precisam ser solucionados. “A crise climática é real, não é algo que os cientistas falam para provocar medo”, afirmou Leal, que participa de um evento do Sistema B, movimento global que defende a responsabilidade socioambiental nas empresas, realizado em Mendoza, na Argentina.
Diante do cenário, Leal defende que toda a sociedade deve assumir a responsabilidade de promover as mudanças necessárias, a começar pelas empresas. Desde o pós-guerra, a maneira como os negócios funcionam é baseada na ideia de criar necessidades com o objetivo de produzir e distribuir a maior quantidade possível de produtos. “Precisamos parar de pensar desse modo e focar em soluções quer permitam às pessoas terem uma vida melhor”, diz ele. Isso significa que as empresas devem deixar de fundamentar suas estratégias tendo como objetivo principal o retorno aos acionistas.
O posicionamento é semelhante ao adotado pelo The Business Roundtable, grupo que reúne cerca de 200 CEOs de algumas das maiores companhias e bancos americanos. Em agosto, o grupo divulgou uma carta refutando a visão de que o objetivo dos negócios é atender aos interesses dos acionistas. O papel das empresas, na realidade, é gerar benefícios para todos os stakeholders, incluindo funcionários, clientes e a sociedade em geral, sem excluir os investidores. Entre os signatários da carta estão Jeff Bezos, da Amazon; Tim Cook, da Apple, Mary Barra, da GM; e Larry Fink, da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, dona de uma carteira que ultrapassa os 6 trilhões de dólares.
Uma dificuldade em fazer essa mudança está na mensuração dos resultados não financeiros. Há vários movimentos propondo novas maneiras de fazer negócios. Como exemplo, Leal citou o próprio Sistema B e o Global Reporting Initiative (GRI), organização que desenvolve padrões para relatórios de sustentabilidade. Essa profusão de métodos e nomenclaturas dificulta a comunicação e gera dúvidas quanto à eficácia dos programas. “Sem medir, não conseguimos mudar nada”, diz o empresário. “Por isso, precisamos simplificar. Ficamos confusos com tantos termos novos.” Para Leal, as comunidades que advogam em favor de uma atuação responsável devem se unir para criar um modelo único de monitoramento.
A liderança política, no momento, é outro obstáculo. “Estamos diante de líderes que não se enquadram no que é ideal, de acordo com nosso senso comum”, afirmou Leal, pressupondo a opinião majoritária da plateia, mas sem mencionar a que líderes se refere. “Mas, se não gostamos de quem está lá, devemos trabalhar para estar lá.” Após o debate, Leal disse à Exame que sua intenção era passar a ideia de que a construção de uma sociedade mais justa e igualitária é uma responsabilidade coletiva. As empresas, embora se configurem como parte importante desse processo, não resolvem sozinhas. É preciso que a sociedade, em geral, esteja presente e que os governos façam sua parte. “Fazer política não é feio. Eu já estive lá e fiz minha parte”, afirmou o empresário.
Como exemplo de sua participação política atual, o empresário citou a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), organização criada por ele em 2012 que tem como objetivo atuar na formação de novas lideranças políticas. Entre os eleitos apoiados pela Raps estão os deputados federais Alessandro Molon (PSB-RJ), Tábata Amaral (PDT-SP) e Vinicius Poit (NOVO-SP), e a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP). Leal também fez elogios à ex-ministra Marina Silva, presente ao evento. “É uma mulher muito importante para a história do País”, afirmou. O empresário foi candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva em 2010, pelo Partido Verde.