Walmart: varejista tem mais de 250 páginas sobre políticas de recursos humanos (Edgard Garrido/Reuters)
Maurício Grego
Publicado em 14 de novembro de 2016 às 17h26.
Betsy Marler gostava do emprego de assistente de vendas em um Walmart em Mobile, Alabama, nos EUA. Ela foi contratada em agosto de 2009 e três anos e meio depois foi promovida a gerente do departamento farmacêutico em outra sucursal e recebeu um aumento, passando a ganhar US$ 10,05 por hora.
Quando começou a trabalhar no novo cargo, em uma segunda-feira de janeiro de 2013, ela tinha 53 anos, era casada e tinha quatro filhos adultos, um dos quais também trabalhava no Walmart. Quatro dias depois, os médicos descobriram que ela tinha um tumor no pulmão.
Nos seguintes doze meses, Marler foi ao médico dezenas de vezes e foi operada três vezes. Ela teve que descobrir quais eram as políticas da empresa que se aplicavam ao seu caso, processo às vezes complicado para os funcionários do Walmart.
A varejista, a maior empregadora privada dos EUA, com mais de 1 milhão de funcionários, tem mais de 250 páginas sobre políticas de recursos humanos.
Quando Marler estava doente, essas políticas só estavam disponíveis na intranet do Walmart, chamada “the Wire”, e eram acessíveis apenas através dos computadores da empresa – e só quando os funcionários estavam no lugar e no horário de trabalho, diz ela.
Agora, Marler tem dois empregos: ela é uma das cerca de duas dúzias de funcionários e ex-funcionários que ajudaram a construir um aplicativo chamado WorkIt, que responde a perguntas sobre as políticas e os direitos trabalhistas do Walmart com o Watson, o robô de inteligência artificial da IBM.
Os chamados peritos, como Marler, ingressam informações em um banco de dados e fazem plantão para responder às perguntas que o Watson não consegue responder.
OUR Walmart, o grupo de funcionários e ativistas trabalhistas que faz campanha para melhorar salários e condições de trabalho, está por trás da iniciativa e lançará o aplicativo grátis em 14 de novembro.
Nos últimos quatro anos, o grupo organizou manifestações e greves perto do Black Friday, um dos dias de compras mais movimentados do ano, para chamar mais atenção para os problemas de funcionários com salários baixos. Neste ano, em vez disso, eles vão lançar o WorkIt.
“Isso nos dará evidências reais para conversarmos com a empresa sobre o que não está funcionando”, diz Andrea Dehlendorf, codiretora da OUR Walmart. “Temos que estar em posição de poder dizer: ‘Esta é a verdade. Temos muitíssimos dados’.”
Atualmente disponível em uma versão beta e apenas no sistema operacional Android, o WorkIt é capaz de responder a 200 perguntas com a inteligência artificial do Watson.
Se ele não conseguir responder a uma pergunta com 100 por cento de confiança, ele a encaminhará aos colegas peritos voluntários.
O Watson aprende com as respostas dos especialistas. O aplicativo também fornece links para leis federais e estaduais sobre proteção do trabalhador, assistência infantil e bancos de alimentos locais.
Por enquanto, o OUR Walmart prevê que 14.000 funcionários baixarão o aplicativo até o fim de 2017. Esse número equivale a cerca de 1 por cento dos funcionários do Walmart.