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Grupo Mateus: entre a promessa de IPO do ano e o acidente fatal

Com possibilidade de levantar mais de R$ 4 bi, varejista deu prazo até hoje para investidores desistirem do negócio

 (Grupo Mateus/Divulgação)

(Grupo Mateus/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 9 de outubro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 19 de novembro de 2020 às 11h18.

A oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do Grupo Mateus, varejista com presença forte nas regiões Norte e Nordeste do país, é uma das mais esperadas do ano pelo mercado. Com potencial para movimentar mais de 4 bilhões de reais, o IPO pode ser o maior da B3 em 2020 até agora.

Mas um acidente fatal a menos de quinze dias da data prevista para a abertura de capital nublou o horizonte do varejista. O acidente -- uma queda em cascata de prateleiras cheias de produtos -- ocorreu no dia 2 de outubro em uma unidade do Mix Atacarejo no Maranhão e deixou uma funcionária morta e outras oito pessoas feridas. O acidente ocorreu na loja aberta, com clientes. As causas estão sendo apuradas e o Ministério Público do Trabalho no Maranhão (MPT-MA) investiga o caso . Segundo o Grupo Mateus, foi o primeiro acidente relevante em 34 anos de história.

Em função do ocorrido, o grupo abriu um prazo para desistência aos investidores não institucionais que já tinham feito seu pedido de reserva de ações. O prazo para desistir termina hoje, às 16h. A partir daí será mais fácil enxergar os efeitos do triste acidente nos planos da companhia. O IPO está previsto para o dia 13.

O grupo é a maior rede varejista de alimentos do país com capital 100% nacional e a quarta maior empresa de varejo alimentar do Brasil. Tem operações de supermercados (com as marcas Mateus Supermercado, Mateus Hipermercado e Camiño), atacarejo (com a marca Mix Atacarejo), atacado (com o Armazém Mateus) e móveis e eletrodomésticos (Eletro Mateus). Possui também uma indústria de panificação (com o nome de Bumba Meu Pão) e uma central de fatiamento e porcionamento. Tem ainda o MateusCard, cartão de crédito em parceira com o Bradesco, que pode ser usado dentro e fora de suas lojas e tem hoje 215 mil contas.

No total são 137 lojas em 53 cidades nos estados de Maranhão, Pará e Piauí. O grupo também faz entregas para Tocantins, Bahia e Ceará. No segmento de atacado, atende mais de 19.415 pontos de venda. No ano passado, o faturamento do Grupo Mateus foi de 9,9 bilhões de reais e o lucro, de 365,7 milhões de reais (margem líquida de 4,51%). De 2013 a 2019, as vendas líquidas tiveram aumento de 6,4 bilhões de reais.

Dentre os diferenciais destacados pela companhia está a sua operação logística. O grupo possui nove centros de distribuição e faz suas entregas com uma frota de 926 caminhões, sendo 330 de frota própria. “A posição estratégica dos CDs garante atendimento ágil com baixo custo, além, claro, de permitir a abertura de novas lojas ao longo das rotas, o que gera otimização de viagens, redução de custos e aumento da competitividade”, diz a empresa no prospecto da oferta inicial de ações.

Com a pandemia do novo coronavírus, o grupo acelerou a implantação do seu e-commerce, com o lançamento de um app para vendas nas modalidades delivery e drive-thru.  Outros pontos destacados pelo varejista aos investidores são sua operação de crédito, o investimento em tecnologia, e a cultura organizacional.

O plano do grupo Mateus no longo prazo é fortalecer sua presença regional, ampliando de forma significativa o número de lojas, através da expansão orgânica. O foco da expansão são principalmente os formatos de atacarejo, com a marca Mix Atacarejo, e loja de vizinhança, com a marca Camiño. "Ainda existe muito espaço para crescer nessas regiões, e o Grupo Mateus tem toda possibilidade de atuar para identificar as cidades que ainda podem receber um dos seus modelos de loja", afirma Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da consultoria em varejo GS&Consult.

 

 

Com o acidente do último dia 2, porém, os fatores de risco para o negócio se ampliaram. Em novo prospecto apresentado após o acidente, a empresa destaca que o ocorrido gerou efeitos adversos para sua imagem e sua marca.

“Independentemente das causas do acidente, podemos ainda ser afetados por outros fatores decorrentes do acidente, incluindo mas não se limitando, danos a mercadoria e estoque, danos à estrutura da unidade afetada, imposição de responsabilidade civil e/ou à obrigação do ressarcimento às vítimas, inclusive por meio do pagamento de indenizações, punição aos nossos executivos, entre outros”, destaca o documento.

Com demanda forte desde o seu lançamento, a abertura de capital do Grupo Mateus tinha ordens perto de três vezes o volume oferecido, se considerado o piso da faixa indicativa de preço para as ações, estabelecida entre R$ 8,97 e R$ 11,66, segundo o jornal O Estado de S.Paulo. A princípio, portanto, há interesse de sobra nas ações da empresa. A ver como a demanda ficará agora.

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