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Jorge Gerdau: gestão austera de negócio de 110 anos

Para Jorge Gerdau, presidente do conselho de administração, empresa soube se adaptar a cada momento político e econômico que o Brasil enfrentou no período

Jorge Gerdau: "as pessoas são a parte mais importante do negócio" (Germano Lüders/EXAME)

Jorge Gerdau: "as pessoas são a parte mais importante do negócio" (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2012 às 17h35.

Porto Alegre - O grupo Gerdau, líder na produção de aços longos nas Américas, completa 110 anos em 2011 e está entre os destaques deste ano de Melhores e Maiores, de EXAME. 

Jorge Gerdau Johanpetter, presidente do conselho de administração, acredita que, entre as razões para a longevidade da companhia, estão a austeridade na gestão, a grande diversidade de clientes e a alta liquidez de curto prazo que o grupo vem apresentando.

Uma empresa centenária no Brasil atravessou diversos períodos econômicos e políticos: ditaduras e tempos de aperto, democracia e momentos como hoje, de crescimento. Para o patriarca da família, porém, o grupo sempre conseguiu achar oportunidades durante tempos adversos, se adaptando às condições.

O ex-CEO da companhia também ressalta a importância do mercado de capitais no crescimento da Gerdau. Segundo ele, a entrada na bolsa possibilita, além de o financiamento para os negócios, um benefício para empresas familiares, já que resulta em grande transparência e maior capacidade de cobrança nos resultados.

Confira a entrevista com Jorge Gerdau:

EXAME - Se o senhor precisasse eleger uma só característica responsável pela longevidade e sucesso da Gerdau, qual seria ela?

Jorge Gerdau - A excelência. A Gerdau sempre teve a missão de buscar a excelência em tudo o que faz, até no tempo em que fabricava pregos. O prego não podia ter pontas tortas, tinha que ter qualidade. Acredito que este seja o valor primeiro por trás do sucesso da Gerdau, que busca sempre a qualidade total.

EXAME - E que outros fatores ajudam a explicar a perenidade da empresa?

Jorge Gerdau - O fato de termos trabalhado sempre com uma alta liquidez de curto prazo e uma alta diversidade de clientes é um dos responsáveis. A austeridade, valor que vem de família, também ajudou bastante. A minha mãe, Helga, criou os filhos dentro de uma educação européia.


Isso foi particularmente importante para o sucesso da empresa. As pessoas normalmente se acomodam com a riqueza, mas nós somos cuidadosos, inclusive por respeito aos nossos acionistas. Precisamos oferecer crescimento com segurança, e segurança no crescimento.

EXAME - Quais foram as maiores dificuldades ao longo destes 110 anos de percurso?

Jorge Gerdau - As duas grandes guerras mundiais e as próprias dificuldades políticas pelas quais o país passou, como as ditaduras de 1937 e 1964. Mas a empresa sempre teve a capacidade e a agilidade necessárias para se adaptar a cada uma dessas adversidades, e em cima de cada uma delas buscar oportunidades.

EXAME - Em 1946, o seu pai, Curt Johannpeter, entrou no negócio da família da esposa, que era neta do fundador, Johann Gerdau. Ele havia trabalhado como inspetor do Deutsche Bank para a América Latina e foi o responsável por adquirir, em 1948, a Siderúrgica Riograndense, negócio que selou o início das atividades da Gerdau no ramo. O que explica esta grande virada? O que podemos aprender com ela?

Jorge Gerdau - A visão empreendedora e, ao mesmo tempo, financeira dele fez a Gerdau dar o salto que a levou a ser o que é hoje. Dono de uma visão empresarial moderna, vinte ou trinta anos à frente até do que estava sendo feito na própria Europa, ele comandava uma excelente política financeira e implantou a participação dos funcionários no capital da empresa quando este ainda era fechado.

Ele tinha uma filosofia comportamental fantástica, e vendeu todos os imóveis da família para colocá-los no negócio. Ele fez o oposto do que normalmente vemos por aí, que são as famílias ficando mais ricas e as empresas ficando mais pobres. E ele também nutria um profundo respeito pelos colaboradores, do mais humilde ao mais poderoso - isso é uma coisa típica do norte da Europa.

O meu pai implantou uma auditoria externa quando esse tipo de coisa ainda estava longe de existir na lei. Foi ele, inclusive, quem abriu, nos anos 60, o capital de todos os empreendimentos da Gerdau (operação que, depois, foi unificada). Ele defendia que abrir o capital era algo excelente para empresas familiares, porque resulta em grande transparência e em maior cobrança.

EXAME - E a Gerdau viu isso acontecer na prática?

Jorge Gerdau - Sim. A pressão externa é algo que não tem preço. O mercado aberto é muito desafiador e instrutivo. Construímos um modelo de negócio sem saber que ele seria internacionalmente vencedor.


E foi graças ao mercado de capitais que nós conseguimos criar esta empresa, neste tamanho. Frederico Johannpeter, meu irmão, dizia na época da abertura do capital que um dia a Gerdau iria chegar à Bolsa de Nova York. E assim foi.

EXAME - Qual a importância das pessoas dentro do projeto da Gerdau?

Jorge Gerdau - As pessoas são a parte mais importante do negócio. Os ativos físicos, se a gente perde, a gente reconstrói. Mas com pessoas, não é assim. Existe uma frase que a gente aprende em Harvard e que diz: "business is people". É exatamente isso. Uma empresa se faz com o entusiasmo dos seus colaboradores, dos operários aos executivos.

Nós precisamos ter pessoas realizadas dentro da empresa, mas a seleção precisa ser bem-feita. Você tem que ter pessoas que tenham vontade de crescer e de vencer, isso tem que estar no espírito das pessoas. Além disso, muitos funcionários vão parar na Gerdau porque se identificam com os valores da empresa, e por isso permanecem conosco por bastante tempo.

EXAME - Como uma empresa com mais de cem anos faz para transmitir o seu legado às novas gerações de funcionários?

Jorge Gerdau - Não há segredo nenhum nos nossos valores. Há dez anos, quando fiz o discurso para os funcionários em meio às comemorações pelo centenário da Gerdau, eu disse que só se faz uma empresa de cem anos com valores. E que valores são esses? São aqueles valores que você quer para os seus filhos, na sua casa: honestidade, integridade e respeito.

EXAME - É mais difícil transmitir este legado aos funcionários estrangeiros?

Jorge Gerdau - Este é um grande desafio, sem dúvida. Os grandes valores são sempre mundiais, mas é preciso entender as culturas locais: pensar globalmente e executar localmente, como diz aquela famosa frase. Mas, a rigor, nós já estávamos fazendo isso quando fomos do Rio Grande do Sul para Pernambuco, ainda em 1968. Liderar as pessoas ali foi bem difícil no começo.

EXAME - Levantamento de EXAME mostrou que, das mil maiores empresas presentes no país, 37 são centenárias. Se tirarmos deste grupo as multinacionais que vieram para cá e pensarmos apenas nas empresas brasileiras, veremos que quatro foram criadas por imigrantes alemães e três por imigrantes italianos. A imigração, pelo jeito, teve bastante importância no florescimento do capitalismo brasileiro.

Jorge Gerdau - Certamente. A Alemanha tem uma cultura de princípios empreendedores e empresariais muito fortes. Esta imigração de alemães e italianos na região sul do Brasil foi um verdadeiro presente.

Os meus antepassados chegaram ao Brasil em condições razoavelmente favorecidas quando comparados à maioria dos imigrantes que aqui desembarcavam, pois já chegaram como empresários. Um dos irmãos de Johann, o fundador, trabalhou no ramo da siderurgia na própria Alemanha, e o outro fundou uma trading em Nova York.

O próprio Johann, ao se estabelecer no interior do Rio Grande do Sul, comprou fazendas do governo e fez plantações de arroz nelas. Ele tinha uma mentalidade inquieta, não perdia nunca esta atitude empreendedora.

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