Rogério Perdiz e Sidnei Dutra, do Grupo Engenho: "Nosso plano é estruturar a empresa para, no momento certo, buscar um fundo de investimento e acelerar ainda mais o crescimento" (Grupo Engenho/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 29 de novembro de 2024 às 09h19.
Última atualização em 29 de novembro de 2024 às 14h04.
As atenções estão voltadas para o Norte do Brasil. Com a COP30 programada para acontecer em Belém no ano que vem e o aumento global do debate sobre sustentabilidade, a região tem ganhado destaque no cenário nacional e internacional.
Quem já está por lá busca aproveitar a oportunidade. É o caso do Grupo Engenho, uma rede de restaurantes fundada em Manaus que vai fechar 2024 faturando 63 milhões de reais e planeja crescer ainda mais, consolidando sua atuação na região.
Com oito operações, incluindo restaurantes e uma divisão de importação e distribuição de alimentos, o grupo atende 70.000 clientes por mês e projeta alcançar 100 milhões de reais em faturamento nos próximos três anos. E estando numa das regiões mais desafiadoras do país, pelo menos no que diz respeito à logística.
"A Amazônia desperta muito interesse, mas as pessoas precisam conhecer a realidade daqui, só então sabermos como é empreender por aqui", diz o sócio Rogério Perdiz, fundador do grupo. "A questões complicadoras, como os desafios logísticos. Mas há também muita oportunidade para quem está preparado".
O Grupo Engenho começou em 2009, em Manaus, com a inauguração de sua primeira unidade no Manauara Shopping. A aposta em um restaurante que entregasse não apenas boa comida, mas também uma "experiência completa". Na prática, significa investimento em decoração, treinamento contínuo de equipes e pratos com ingredientes de alta qualidade.
"A gente sempre entendeu a gastronomia como um tripé de produto, serviço e ambiente", diz Sidnei Dutra, outro sócio da empresa. "Desde o início, investimos em criar uma experiência completa para o cliente".
O sucesso levou a expansão para outras cidades, como Uberlândia, Fortaleza e Belo Horizonte. Mas o crescimento acelerado trouxe também desafios, como a dificuldade de logística e retenção de talentos.
Durante a pandemia, o Grupo precisou fechar duas operações fora do Norte e repensar sua estratégia. Foi então que decidiu focar exclusivamente na região, onde enxergou mais oportunidades e menos concorrência.
Hoje, além de restaurantes, o grupo possui uma operação de importação e distribuição que atende desde supermercados até outros restaurantes.
Atualmente, o Grupo Engenho opera oito unidades, incluindo as marcas Engenho Cozinha Brasileira, Boteco, Terra e Mar e a recém-lançada Sagrado Peixe, focada na culinária amazônica.
Cada marca atende públicos e perfis de consumo diferentes, o que Sidnei Dutra considera um diferencial estratégico.
"Com várias marcas, conseguimos atender diferentes expectativas e públicos. É uma maneira de nos adaptarmos a mercados específicos sem comprometer a qualidade", diz Dutra.
Para garantir eficiência e crescimento sustentável, o grupo implementou, em 2017, uma retaguarda robusta. A estrutura inclui o Centro de Desenvolvimento e Administração (CDA), que centraliza processos de compra, logística e gestão financeira e distribui para todas as unidades.
"Criamos uma gestão baseada em indicadores e controle rigoroso. Nunca precisamos antecipar receita de cartão de crédito, porque planejamos fluxo de caixa e avaliamos cada decisão com cuidado", diz Dutra.
Operar no Norte do Brasil traz oportunidades, mas também desafios únicos, e o Grupo Engenho precisa enfrentá-los para sustentar seu crescimento. A logística é, sem dúvida, o maior deles. A região depende fortemente de modais fluviais e rodoviários precários, e o transporte de mercadorias pode levar semanas para chegar a Manaus.
"Planejar o estoque aqui é diferente. Precisamos levar em conta o nível dos rios, os custos elevados de frete e o tempo de transporte. É uma operação que exige muito controle", afirma Dutra.
Outro obstáculo é a dificuldade de acesso a fornecedores nacionais e internacionais.
Para manter os altos padrões de qualidade, o grupo importa produtos como azeites e bacalhau diretamente da Europa. A empresa também lida com custos de armazenamento, mantendo um centro logístico que inclui câmaras frigoríficas de 400 metros quadrados.
A mão de obra é outro desafio. Embora a empresa tenha implementado um Plano de Cargos, Carreiras e Salários para atrair e reter talentos, a rotatividade do setor de restaurantes ainda é alta.
Por fim, há o contexto econômico da região. Apesar do crescimento de estados como Amazonas e Pará, boa parte da população do Norte ainda enfrenta limitações de renda, o que afeta diretamente o poder de consumo.
"Acreditamos no potencial do Norte, mas sabemos que o desenvolvimento humano e econômico precisa acompanhar nosso crescimento. É por isso que investimos tanto em planejamento e na gestão dos nossos negócios", diz Perdiz.
A meta do Grupo Engenho é alcançar um faturamento de 100 milhões de reais até 2027. Para isso, o plano inclui abrir mais duas unidades em 2025, como a já confirmada operação em Marabá, no Pará, e fortalecer a atuação em cidades do Norte, como Belém e Boa Vista.
"Queremos consolidar nossa presença no Norte antes de pensar em novos mercados", afirma Dutra. "Aqui há um enorme potencial ainda inexplorado".
Além da expansão geográfica, o grupo aposta na profissionalização contínua. Com práticas de governança corporativa, como código de ética e manual de compliance, a empresa também mira na preparação para atrair investidores no futuro.
"Nosso plano é estruturar a empresa para, no momento certo, buscar um fundo de investimento e acelerar ainda mais o crescimento", diz Dutra.
Com uma gestão sólida e um mercado local em expansão, o Grupo Engenho parece estar bem posicionado para liderar o setor de restaurantes no Norte do Brasil. "Temos um sonho grande: levar a experiência gastronômica do Norte para todo o país, de forma ética e sustentável", conclui Perdiz.