No Instituto Pactuá, executivos experientes orientam profissionais negros rumo à alta liderança, compartilhando vivências reais e fortalecendo uma rede de apoio essencial no mundo corporativo (Arquivo Pessoal)
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Publicado em 19 de março de 2025 às 13h00.
Última atualização em 19 de março de 2025 às 14h34.
Uma provocação foi suficiente para dar início a um movimento transformador. Quando Kwami Alfama, engenheiro e executivo experiente, natural de Cabo Verde, ocupava o cargo de CEO em uma grande corporação no Brasil, percebeu um fato inquietante: em toda a extensa rede de conexões profissionais, ele era o único executivo negro em sua posição.
Dessa vivência surgiu uma inquietação que rapidamente ganhou forma. Em 2021, nasceu o Instituto Pactuá com um propósito claro e direto: acelerar a ascensão de profissionais negros em cargos de alta liderança no mundo corporativo que, historicamente, sofre com a baixa representatividade de talentos negros nessas posições.
O coração do Instituto Pactuá pulsa nas mentorias. Mas não são apenas encontros casuais: trata-se de um processo estruturado no qual executivos experientes orientam profissionais em média gestão, discutindo desafios reais e compartilhando experiências concretas.
A dinâmica prevê que sejam realizadas sessões mensais, presenciais ou online, ao longo de seis a nove meses. Os mentorados trazem desafios específicos, enquanto os mentores compartilham suas experiências, estratégias e insights, sem oferecer fórmulas mágicas, mas guiando cada indivíduo rumo ao seu desenvolvimento pessoal e profissional.
"O mentor nunca dá a solução”, afirma Iris Pereira Barbosa Barreira, executiva com mais de 36 anos de experiência no mercado e vice-presidente do Instituto. “A ideia é sugerir caminhos, compartilhar experiências, mas a decisão cabe ao mentorado”, diz.
De acordo com ela, essa dinâmica não só impulsiona carreiras, como constrói uma rede sólida de apoio entre profissionais negros, antes isolados em seus ambientes corporativos.
Mas recentemente o Instituto ganhou uma nova dimensão com a parceria estratégica com a Saint Paul, uma das melhores escolas de negócios do mundo, segundo o Financial Times. Inicialmente, a instituição passou a oferecer bolsas para cursos específicos da Saint Paul como parte complementar às mentorias. Em 2024, porém, esse relacionamento evoluiu.
Com apoio de recursos obtidos via Termo de Ajuste de Conduta (TAC), direcionados pelo Ministério Público, nasceu um programa robusto de capacitação executiva. A iniciativa foi financiada pelo Juizado Especial Criminal da Barra Funda, Órgão do Tribunal de Justiça de SP, e intermediada pelo advogado Fernando Figueiredo.
Com temas que vão da liderança estratégica à inovação e ancestralidade, o curso desenhado pela Saint Paul exclusivamente para o Instituto Pactuá promete preparar profundamente 150 profissionais selecionados do próprio Instituto. A iniciativa prevê 27 horas de formação presencial e um conjunto adicional de atividades online, como os eventos Papo de Carreira e happy hours para networking e troca de experiências.
Essa nova etapa educacional traz benefícios tangíveis. Além da certificação, o curso promete criar oportunidades reais para os profissionais negros demonstrarem seu preparo.
Segundo Iris, o objetivo central não é apenas cumprir metas numéricas de inclusão, mas garantir que os participantes estejam genuinamente prontos para ascender por mérito próprio.
“Nosso objetivo é ampliar a presença de pessoas negras na liderança. As cotas são um passo importante, mas é preciso ir além. Há muitos profissionais negros qualificados e prontos para liderar, mas é fundamental investir em programas que os impulsionem até esses espaços.”
Kwami reforça essa visão. “A educação é fundamental”, diz ele. “Queremos que profissionais negros tenham as mesmas oportunidades de capacitação de qualidade que são oferecidas às pessoas não negras”, completa o executivo.
Na prática, o projeto com a Saint Paul, com duração de sete semanas presenciais, complementado por eventos online, representa um passo firme nessa direção.
A parceria entre o Instituto Pactuá e a Saint Paul garante capacitação de excelência para profissionais negros, preparando-os para ocupar posições estratégicas nas empresas
Para os co-fundadores, o Instituto Pactuá não é apenas um projeto pontual.
"Nosso objetivo é transformar estruturalmente as organizações", reforça Flavia Lisboa Porto, uma das co-fundadoras. Ela destaca que a missão ultrapassa o desenvolvimento pessoal e se volta para o impacto social. "Educação não é privilégio; é direito. Queremos que mais pessoas negras estejam no topo, influenciando decisões", conclui.
Kwami também enfatiza que a presença de profissionais negros em posições de destaque não é apenas simbólica. Para ele, que cresceu em Cabo Verde, país onde as referências negras eram predominantes, o impacto da representatividade é claro e incontestável.
"As pessoas precisam ver a materialização física dos seus sonhos. Se não encontram negros em posições de liderança, fica reforçada a mensagem de que esse lugar não é para elas."
O Instituto Pactuá não pretende parar por aqui. Além da expansão geográfica prevista para estados com forte presença negra, como Bahia e Rio de Janeiro, a organização quer ampliar sua atuação, incluindo empreendedores negros em seus programas.
A percepção é clara: ao fomentar líderes negros, a transformação transcende os limites individuais, influenciando toda a sociedade e o tecido econômico.
Ao olhar para frente, o Instituto Pactuá reafirma seu compromisso com a construção de uma sociedade mais equitativa e produtiva. A expansão em parceria com a Saint Paul consolida a visão de que diversidade não é apenas uma pauta social, mas uma estratégia de negócio.
Com ações concretas e resultados consistentes, o Instituto mostra que inclusão não é apenas uma bandeira ética: é um vetor estratégico e essencial para o sucesso das organizações no presente e, principalmente, no futuro.