EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
Sudbury, Canadá - À frente de uma fila de caminhões carregados com minério de cobre, junto ao portão da usina Clarabelle, da Vale Inco, cinco grevistas famintos cercam um fogareiro a gás no seu abrigo improvisado, assistindo à fritura de um enorme omelete.
Faz nove meses que 3.100 trabalhadores abandonaram as operações de mineração e fundição em Sudbury e Port Colborne, na província canadense de Ontário, e não parece haver razão para duvidar de que a paralisação irá prosseguir por um ano, diante das posições inflexíveis da empresa e do sindicato.
"Depois de seis meses, virou uma coisa pessoal", disse Rob, operário da fundição Clarabelle, que funciona desde outubro com operários substitutos e não-sindicalizados. "E agora já estamos com nove meses", acrescentou ele, estendendo um prato de papel para que um colega servisse sua refeição.
No lado de fora, um caminhão ronca após os 15 minutos obrigatórios de espera no portão, enquanto seguranças monitoram os grevistas e anotam as placas dos veículos.
A greve --a primeira desde que a brasileira Vale adquiriu a mineradora canadense de níquel Inco, em 2006-- ultrapassou recentemente os 261 dias da greve de 1978-79, a mais longa na história do complexo minerador de Sudbury. É um recorde do qual ninguém se gaba.
Em outra mina da Vale no Canadá, a de Voisey Bay, que produz níquel, também há uma greve se aproximando dos nove meses. As duas paralisações já reduziram em 10 por cento a oferta global de níquel, mas graças aos estoques elevados os preços se mantiveram estáveis.
Como Rob, outros mineiros dizem que a disputa vai além das questões econômicas, embora o dinheiro --em particular as propostas de mudança na aposentadoria da categoria e um limite aos lucrativos bônus vinculados ao preço do níquel-- seja uma preocupação a respeito da qual ninguém parece disposto a ceder.
Os trabalhadores temem que a Vale tente reverter 65 anos de sindicalização, para operar essa mina nos moldes de outras do mundo. Em comparação com elas, Sudbury tem melhores salários e mais segurança trabalhista.
"Eles nos odeiam. Realmente acho que eles nos odeiam", disse Chris, um robusto operário da fundição Copper Cliff, à sombra da chaminé de 380 metros de altura.
"Não se trata de economia. Se fosse, isso aqui acabaria agora mesmo. Eles querem quebrar o sindicato."
Steve Ball, porta-voz das operações da Vale em Subdury, negou que seja assim, e disse que a viabilidade de longo prazo dessa operação depende de um "fundamental" corte de gastos.
"Há 30 ou 40 anos, a Inco era a Sudbury, e a Sudbury era a Inco, e a Inco era níquel. Não é mais", disse ele à Reuters, em um edifício longe dali, sem identificação (por razões de segurança), que lhe serve de escritório durante a greve.
Leia mais sobre Vale