Trabalhadores fazem manifestação em frente à sede da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro: a paralisação não afetou a produção de petróleo e derivados, segundo a estatal (Tânia Rego/ABr)
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2015 às 17h04.
São Paulo/Rio de Janeiro - A adesão à greve de trabalhadores da Petrobras, que teve início nesta quinta-feira, cresceu ao longo do dia e atingiu oito Estados, informou a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), que representa cinco sindicatos envolvidos no movimento.
A paralisação, que protesta contra o plano de venda de ativos da estatal, não afetou a produção de petróleo e derivados, segundo a Petrobras.
As atividades da companhia "são normais e não há qualquer prejuízo à produção ou ao abastecimento do mercado", disse a empresa em nota.
Segundo sindicalistas, a estatal manteve funcionários nas unidades, impedindo a troca de turnos.
O movimento também posiciona os petroleiros como favoráveis à manutenção da Petrobras como operadora única do pré-sal, em um momento em que se começa a discutir no Congresso Nacional a possibilidade de isso ser alterado, diante da crise na Petrobras.
"Na avaliação dos petroleiros, essas propostas (vendas de ativos e fim da obrigatoriedade da Petrobras ser a operadora única do pré-sal) atacam centralmente o caráter público da Petrobras, ameaçam postos e condições de trabalho e aprofundam a privatização do petróleo brasileiro", afirmou a FNP, em nota.
A greve, de pelo menos 48 horas, pode ganhar ainda a adesão de outros 12 sindicatos ligados à Federação Nacional dos Petroleiros (FUP), segundo o representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, Deyvid Bacelar.
Dentre os sindicatos da FUP, está o Sindipetro Norte Fluminense, que representa funcionários da Bacia de Campos, responsável por mais de 70 por cento do petróleo produzido no Brasil.
A FUP, federação ligada ao PT, deve anunciar ainda nesta quinta-feira a data de adesão ao movimento. Há paralisações em São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe, Pará, Amazonas, Maranhão e Amapá, com forte mobilização no litoral paulista, segundo informações da FNP. Em Santos, Cubatão e Litoral Norte, a "greve é total" em todas as bases de terra, segundo informações da FNP, incluindo a refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão.
O sindicato chegou a afirmar em nota que entraria com pedido de habeas corpus na Justiça para liberar trabalhadores que estariam impedidos pela Petrobras de deixar as unidades.
Também haveria adesão de trabalhadores em plataformas nos campos de Mexilhão e Merluza, na Bacia de Santos.
A pauta de reivindicações da FNP inclui ainda a luta pelo Acordo Coletivo de Trabalho sem cortes de direitos e com aumento real de salário, o estabelecimento da mesa de negociação unificada com todas as subsidiárias da Petrobras e o posicionamento contrário às demissões dos terceirizados da companhia.
Segundo o diretor da FNP Eduardo Henrique Costa, a greve segue em terminais, refinarias, usinas e prédios por pelo menos por 48 horas. Na sexta-feira à noite, assembleias e reuniões do Comando de Greve definirão sobre continuidade e próximos passos.
ADESÃO DA FUP
De acordo com Deyvid Bacelar, que também é presidente do Sindipetro Bahia, a FUP teria uma reunião nesta tarde com o Ministério Público do Trabalho (MPT) com o objetivo de cumprir as regras para a deflagração da greve. Segundo o representante, é a terceira audiência com o MPT com esse objetivo.
O estado de greve já foi aprovado em assembleias realizadas pelos sindicatos filiados à FUP há mais de um mês, portanto, a greve pode ser comunicada a qualquer momento. No entanto, os trabalhadores precisam apenas notificá-la 72 horas antes.
Apesar da proximidade da FUP com o PT, os principais pontos da pauta da federação buscam pressionar o governo federal por maior interferência nas decisões da empresa, tentando evitar demissões, em momento em que a estatal passa por uma reestruturação e faz cortes de custos.
Dentre as demandas da federação estão a reposição de empregados por meio de concurso público, reformulações da política e gestão de segurança, meio ambiente e saúde, continuidade de grandes obras da companhia e a revisão do plano de desinvestimentos da companhia.
"Estamos preocupados porque a nova gestão (da Petrobras) tem entendido que esse (venda de ativos) é o principal pilar para sanar a questão financeira da empresa, e nós entendemos que não, temos outras alternativas, precisamos revisar os ativos que foram negociados", afirmou Bacelar.
De acordo com ele, os ativos negociados são estratégicos para a Petrobras e para o país. Bacelar disse ainda que os representantes dos trabalhadores também estão se movimentando em Brasília para evitar que projetos tramitando no Senado e na Câmara derrubem a obrigatoriedade de a Petrobras ser operadora única do pré-sal.
Segundo a nota enviada por e-mail, a Petrobras encaminhou às entidades sindicais uma nova proposta para as cláusulas econômicas do acordo coletivo e que vai realizar reunião com os trabalhadores na tarde desta quinta-feira.