Carro do Google: empresa não escondeu suas pretensões de revolucionar o transporte com veículos autônomos (Stephen Lam/Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2015 às 13h56.
O Uber enfrenta um conjunto cada vez maior de adversários, que inclui reguladores duvidosos, motoristas litigiosos, membros hostis da imprensa e alguns rivais bem financiados. No entanto, a ameaça mais relevante para a empresa do aplicativo de transporte poderia ser um inimigo muito mais próximo: um dos seus maiores investidores, o Google.
Google Ventures, o braço de capital de risco do gigante das pesquisas na internet, investiu US$ 258 milhões no Uber em agosto de 2013.
Foi o maior investimento da história do Google Ventures e a companhia colocou ainda mais dinheiro na segunda rodada de financiamento do Uber menos de um ano depois.
Naquela época, não era difícil que os observadores imaginassem que o Google estabeleceria uma parceria forte com o Uber, ou que até acabaria comprando a empresa. David Drummond, diretor jurídico do Google e vice-presidente sênior de desenvolvimento corporativo, entrou no conselho de administração do Uber em 2013 e tem participado dele desde essa época.
Agora, há indícios de que as companhias provavelmente se tornem rivais ferozes, ao invés de aliados. O Google está se preparando para oferecer seu próprio serviço para chamar um transporte, muito provavelmente, em conjunto com seu projeto de carros sem motorista, que vem sendo desenvolvido há muito tempo.
Drummond informou essa possibilidade ao conselho do Uber, de acordo com uma fonte próxima desse conselho, e os executivos do Uber viram capturas de tela do que parece ser um aplicativo de compartilhamento de transporte do Google, que atualmente está sendo utilizado pelos funcionários da empresa.
Essa fonte, que pediu para não ser identificada porque essas conversas são particulares, disse que o conselho do Uber agora está analisando se solicitará que Drummond peça demissão do cargo de membro do conselho da empresa.
O Google não escondeu suas pretensões de revolucionar o transporte com veículos autônomos. O CEO Larry Page é conhecido por seu fascínio com o desafio de fazer com que as cidades funcionem com mais eficiência.
A companhia disse recentemente que a tecnologia de carros sem motorista que está sendo desenvolvida pelo laboratório de pesquisa Google X ficará pronta para ser usada de modo generalizado dentro de dois a cinco anos.
No Salão do Automóvel de Detroit, no mês passado, o executivo do Google responsável pelo projeto, Chris Urmson, articulou uma hipótese em que veículos autônomos circulariam pelos bairros para buscar e levar passageiros.
“Estamos pensando muito sobre como, no longo prazo, isso poderia ser útil para a vida das pessoas e podemos imaginar várias formas possíveis”, disse Urmson em uma teleconferência com repórteres no dia 14 de janeiro.
“Uma delas é no sentido dos veículos compartilhados. A tecnologia possibilitaria que você chamasse um veículo, dissesse para onde quer ir e ele levasse você para lá”.
Esses comentários, de acordo com a fonte que conhece as deliberações do conselho do Uber, deixaram os executivos da empresa extremamente preocupados – e com razão.
O Google é um concorrente que tem muito dinheiro e tecnologia sofisticada, e a dependência do Uber em relação ao gigante das pesquisas vai muito além do capital.
Os aplicativos do Uber para smartphones se baseiam no Google Maps, o que dá ao Google uma enxurrada de dados sobre os padrões de transporte de uma cidade.
O Uber ficaria paralisado se perdesse o acesso ao aplicativo de mapeamento líder do setor e as alternativas — tais como MapQuest, da AOL, Apple Maps e uma miríade de ofertas regionais — são consideradas inferiores.
A entrada do Google no mercado de transporte compartilhado também deixaria o Uber sem parceiro em um futuro subitamente plausível, em que carros sem volante percorrerão as ruas.
O Uber terá que desenvolver essa tecnologia por conta própria, ou formar uma aliança com uma empresa que possa fazê-lo, se quiser oferecer veículos autônomos em sua frota.
Mercedes, Audi, Tesla e outros fabricantes de automóveis disseram que estão desenvolvendo carros sem motorista, mas não se sabe se eles são tão avançados quanto os do Google.
Já existe outro indício de divergência entre as empresas. Na semana passada, o Google anunciou que começaria a apresentar dados de aplicativos de terceiros dentro do Google Now, um serviço que exibe informações úteis na tela dos smartphones Android.
O Google disse que assinou acordos para extrair dados de aplicativos como Pandora, AirBnb, Zillow e do serviço de compartilhamento de transporte Lyft. Qual é a omissão mais óbvia entre as empresas dessa lista? O antigo e possivelmente ex-amigo do Google, o Uber.