A Gol é a segunda maior companhia aérea do Brasil (Divulgação/EXAME)
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2011 às 21h43.
São Paulo - A tentação de ingressar em uma campanha de fusões e aquisições ainda não faz parte do planejamento da Gol, apesar dos movimentos de concentração tomados por rivais dentro e fora do Brasil. A palavra de ordem segue sendo rentabilidade.
Para o presidente da empresa, Constantino de Oliveira Junior, o foco da companhia segue voltado à expansão de negócios no Brasil, mesmo que isso custe a perda de liderança no mercado doméstico, alcançada em fevereiro pela primeira vez desde a fundação da companhia 10 anos atrás.
"A oferta de nosso principal concorrente (TAM) é muito maior que a nossa, de 42 por cento do mercado, enquanto a nossa é de 37 a 38 por cento", afirmou Constantino durante o Reuters Latin American Investment Summit.
"Para a gente alcançar essa liderança (em fevereiro), precisamos de uma eficiência muito superior e até por isso é difícil imaginar que vamos manter essa posição por muito tempo", disse.
"Nós percebemos uma reação do concorrente, baixando preços, promoções agressivas para equilibrar essa equação e nós não vamos abrir mão de rentabilidade para manter a liderança", acrescentou, citando que a Gol tem como referência de desenvolvimento as empresas de baixo custo Southwest Airlines, dos Estados Unidos, e a irlandesa Ryanair.
A Gol elevou sua margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e aluguel de aeronaves (Ebitdar) de 20 por cento em 2009 para 22 por cento no ano passado. Enquanto isso, a TAM elevou seu Ebitdar de 13,9 para 18,9 por cento.
"Liderança (de participação de mercado doméstico) é importante, mas temos que pagar as contas todos os dias", afirmou o executivo.
Após reformulação da malha de voos da Gol, atualização de sistemas de tecnologia e de quadro de pessoal em 2010, que permitiram à empresa anunciar este mês economia de custos de 45 milhões de reais por ano, Constantino considera que grande parte das medidas de melhora operacional já foi executada.
"Não enxergo nenhum movimento grande ou relevante (de corte de gastos), mas dizer que terminou é complicado, porque custo é como unha: tem que cortar sempre."
A Gol comprou a Varig em 2007, mas só mais recentemente é que concluiu a integração dos sistemas do programa de milhagem Smiles da empresa. "Foi um período complicado. Talvez nós tenhamos subestimado essa complexidade, mas concluímos agora a migração do sistemas, o que abre uma série possibilidades de redução de custo."
A conclusão da digestão da Varig permitiu à Gol automatizar pela Internet o programa de milhagens, reduzindo em grande parte a necessidade de posições de call center para clientes do Smiles. "O autoatendimento absorveu praticamente todo o crescimento da Gol, em termos de infraestrutura aeroportuária, nos últimos dois anos, aliviando os balcões de check in."
A empresa deve lançar no segundo semestre novo site em que, além de passagens, venderá também serviços opcionais.
Consolidação?
Segundo Constantino, após a TAM ter anunciado nesta semana a compra de quase um terço da Trip, ficaram escassas as opções de parcerias com companhias aéreas regionais no Brasil.
Mas a empresa não teme ficar isolada em termos de poder de mercado diante de fornecedores, dado o porte que atingiu nos últimos anos, com uma frota de 115 jatos da Boeing em 2011 que crescerá de maneira padronizada para 131 em 2015.
"Para fazer acordo de codeshare com a OceanAir ou com a WebJet, provavelmente teria de haver uma mudança de estratégia da parte deles, por serem menores. As malhas deveriam ser complementares e não concorrentes. E a Azul é concorrente."
O executivo comentou que não vê problemas regulatórios por conta da associação de Trip e TAM, que está tentando ter sua fusão com a LAN aprovada por autoridades chilenas.
"Não vamos partir para fusões e aquisições em função desse acordo (TAM-Trip). Não vamos mudar de estratégia, continuaremos focados no mercado doméstico."
Se há espaço para novas empresas no Brasil, Constantino afirmou que o mercado brasileiro precisa ainda de muito estímulo. "Se olharmos o mercado atual, acho que está de bom tamanho."
Ele descartou voos mais longos da Gol para destinos latino-americanos como o México, para não desviar recursos da companhia na abertura de novas frentes no Brasil.
Na avaliação do executivo, o mercado brasileiro, apesar dos graves gargalos vividos pela infraestrutura aeroportuária poucos anos antes da Copa de 2014, tem condições de continuar crescendo dois dígitos por ano, entre duas a até 3,5 vezes a expansão do Produto Interno Bruto (PIB).
"A solução para os gargalos está por vir, o governo conhece as necessidades (...) Mas não percebemos ainda nenhuma mudança estrutural, construção de novos aeroportos", disse Constantino.