Petróleo: maioria dos líderes regionais estão tendo que repensar investimentos, após o preço do barril cair pela metade nos últimos dois anos. (ThinkStock)
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2016 às 21h14.
As empresas petroleiras estatais da América Latina, cuja generosidade encheu os cofres dos governos do México ao Brasil durante a explosão do petróleo da década anterior, estão rapidamente se transformando em passivos perigosos em um momento em que os crescentes níveis de dívidas assustam os investidores.
Os líderes regionais estão sendo forçados a engavetar planos para investir dinheiro do petróleo em projetos populares após os preços do barril caírem mais de 50 por cento nos últimos dois anos e, em vez disso, lidam com contas cada vez maiores em suas campeãs apoiadas pelo Estado.
A carga está sendo amplificada pela desvalorização das moedas locais em relação ao dólar, aumentando o custo de pagamento da dívida externa.
Trata-se de uma preocupação universal. A gigante estatal do Brasil, a Petrobras, é a empresa petroleira mais endividada do mundo, enquanto os swaps de crédito mostram que os traders estão apostando que existe uma chance de 68 por cento de que a Petróleos de Venezuela SA, conhecida como PDVSA, esteja a caminho de um calote nos próximos 12 meses.
Ambas estão pesando sobre a economia da região que, segundo a projeção, registrará contração pelo segundo ano seguido em 2016.
“É desafiador, não há dúvida”, disse Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina. “Algumas dessas empresas acumularam uma grande quantidade de dívidas durante o período em que os preços do petróleo estavam altos”.
Embora muitos digam que o apoio implícito -- e em alguns casos explícito -- do Estado torna improvável um calote pelas empresas, a saúde financeira delas ainda é vista como cada vez mais precária.
O risco dos bonds, medido pelo mercado de swaps de crédito, aumentou para gigantes do petróleo latino-americanas de países como Venezuela, Brasil e México, que possuem dívidas mais pesadas que aquelas dos governos que as respaldam. Apenas a colombiana Ecopetrol tem uma carga menor.
A Petróleos Mexicanos, conhecida como Pemex, que possui a classificação de crédito mais elevada das quatro, já foi rebaixada uma vez pela Moody’s Investors Service em novembro e está sob revisão para outro corte.
A produtora com sede na Cidade do México, cuja produção caiu durante 11 anos seguidos, está sofrendo mais pressão para se desfazer de ativos.
No mês passado, a empresa prometeu cortar 100 bilhões de pesos (US$ 5,6 bilhões) de seu orçamento para 2016 após reportar um prejuízo recorde de US$ 32 bilhões no ano passado.
Enquanto isso, a Petrobras também está se desfazendo de alguns ativos e interrompendo projetos após anos investindo mais de US$ 40 bilhões por ano para explorar campos de petróleo gigantes nas profundidades do Atlântico Sul e subsidiar importações de combustível para o governo.
Sua carga de dívida se multiplicou quase por quatro nos últimos cinco anos.
A Petrobras, que emitiu bonds de 100 anos no ano passado, tem mais de US$ 13 bilhões em principal de bonds com vencimento nos próximos 24 meses.
A empresa garantiu um financiamento de US$ 10 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China no mês passado.
A colombiana Ecopetrol planeja reduzir os investimentos anuais nos próximos anos e está cada vez mais focada na exploração e na produção.
Enquanto isso, a empresa da Venezuela, em dificuldades financeiras, enfrentará US$ 13 bilhões em pagamentos de bonds nos próximos dois anos e considera-se que apresenta risco de calote, porque o governo enfrenta sua própria carga pesada de vencimentos de títulos soberanos próximos, diz a Standard Poor’s.
Embora o conjunto de problemas faça os analistas alertarem para que não se coloque todas as empresas estatais de petróleo da América Latina no mesmo cesto, combinadas elas ainda representam uma ameaça coletiva para a economia da região.