Presidente da maior produtora de açõ do Brasil diz apoiar o governo para alterar tributação sobre usinas e produtos siderúrgicos (MIRIAN FICHTNER/VEJA)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2010 às 19h20.
Buenos Aires - O governo brasileiro está tomando as medidas corretas para proteger produtores de aço locais, que vem sofrendo com uma leva de importações de aço abaixo do custo, além da alta do Real e uma política tributária doméstica prejudicial, afirmou o presidente-executivo do maior grupo siderúrgico do país nesta segunda-feira.
Os planos do governo para impor um preço mínimo sobre a importação de 16 tipos de produtos siderúrgicos, como aço laminado a quente e a frio, arames laminados e barras de reforço ainda este mês são um passo na direção certa, disse o presidente do Instituto Brasileiro de Aço (IABr), André Gerdau Johannpeter, à Reuters em entrevista.
Gerdau Johannpeter, que também é presidente-executivo da produtora de aços longos Gerdau, afirmou que o setor está pressionando o governo a alterar a tributação sobre usinas e alguns produtos siderúrgicos, que é tão alta que prejudica a posição competitiva do Brasil em relação a outros países, como a China.
"O Brasil está absorvendo muito mais (das importações de aço abaixo do custo) devido à sobrevalorização de nossa taxa de câmbio", disse Gerdau Johannpeter durante conferência em Buenos Aires. "Também estamos trabalhando com o governo para diminuir nossa carga tributária".
Os comentários de Gerdau Johannpeter sinalizam que o setor siderúrgico no Brasil vem sofrendo pressões com a perda de participação de mercado para o aço importado, além das margens de lucro desgastadas e o impacto do Real forte e do aumento no preço das matérias-primas sobre os custos de produção.
O executivo também afirmou que o custo unitário de uma barra de aço no Brasil inclui 47 por cento em impostos, em comparação com apenas 19 por cento na China. "Isso afeta nossa competitividade", disse Gerdau Johannpeter.
A Gerdau é a maior fabricante de produtos siderúrgicos para a construção civil no Brasil e maior siderúrgica da América Latina.
MERCADO DOMÉSTICO
Problemas no mercado doméstico, onde a demanda por produtos siderúrgicos cresceu a uma taxa de dois dígitos no primeiro semestre, graças às importações baratas, permitiram que distribuidores aumentassem seus estoque mais rapidamente.
Esse rápido acúmulo de estoques forçou algumas usinas nacionais a diminuírem sua produção e cortar os preço em até 20 por cento para não perder espaço para a produção chinesa, disseram executivos do setor recentemente.
A produção de aço bruto caiu 7 por cento em setembro em relação ao mês anterior, segundo o instituto. O uso da capacidade de produção caiu para 77 por cento no mês passado, 5,73 pontos percentuais abaixo do registrado em agosto. Já a produção de aço plano, usado em eletrodomésticos e automóveis, cresceu 1 por cento, enquanto que a produção de aços longos caiu 4 por cento ante agosto.
Os estoques em excesso de distribuidores de aço locais é "uma situação de curto prazo", segundo Gerdau Johannpeter, que está confiante de ver uma melhora no setor em breve.
Ele afirmou que espera uma alta de 8 por cento na demanda de produtos siderúrgicos na América Latina em 2011, mais de 5 por cento da previsão de expansão global.
As usinas também não irão adiar nem cancelar seus planos de investimento, uma vez que "a indústria está confiante de que irá crescer junto com a economia brasileira", disse o executivo.
(Reportagem adicional de Guillermo Parra-Bernal em São Paulo)