Sala de aula: setores como a educaçãose sairão melhor com a economia em estagnação (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2014 às 13h57.
São Paulo - Com o crescimento econômico mais lento em mais de uma década derrubando o valor das empresas no Brasil, os fundos de private equity, incluindo a unidade do JPMorgan Chase Co. no país e a Advent International Corp., estão investindo em saúde e em outros setores “defensivos”.
A Gávea Investimentos Ltda., do JPMorgan, planeja investir nos próximos seis meses pelo menos US$ 200 milhões de um fundo de US$ 1 bilhão criado para o Brasil, onde o foco se voltará para saúde, educação e alimentos básicos, disse Christopher Meyn, chefe de private equity da empresa com sede no Rio de Janeiro.
Esses setores se sairão melhor com a economia em estagnação, disse Meyn em entrevista no escritório da Gávea em São Paulo.
“Não há nada que vemos como provável de acontecer que realmente colocaria o Brasil de volta no caminho para um crecimento maior no curto ou médio prazo”, disse Meyn. “Os setores defensivos são sempre bons, resistem a qualquer ambiente”.
A economia do Brasil entrou em recessão neste ano em meio a uma contração no primeiro semestre e em uma pesquisa do Banco Central divulgada nesta semana os economistas reduziram a estimativa para o produto interno bruto de 2014 para 0,2 por cento.
Os fundos de private equity que buscam novos investimentos levantaram cerca de US$ 8 bilhões na América Latina neste ano, segundo a Associação Latino-americana de Private Equity e Capital de Risco, com sede em Nova York.
O Brasil será uma prioridade para a Advent, que administra US$ 34 bilhões, em um momento em que a empresa investe US$ 2,1 bilhões levantados em um novo fundo para a América Latina, segundo Juan Pablo Zucchini, sócio-gerente da empresa de private equity com sede em Boston.
Lafarge, Holcim
A Advent está avaliando a compra de uma participação nos ativos do setor de cimento que a Lafarge SA e a Holcim Ltd. estão vendendo no Brasil e também priorizará negócios nos setores de serviços financeiros, varejo, saúde, infraestrutura e parques nacionais, disse ele.
“Essas são empresas que podem crescer de forma agressiva, muito mais rapidamente do que o PIB”, disse Zucchini, citando a Dudalina SA, maior fabricante de camisas masculinas da América Latina.
“Mesmo em um ambiente geral difícil, sempre há empresas que têm desempenho acima do crescimento econômico do pais”.
Um consórcio liderado pela Advent adquiriu uma participação na Dudalina, com sede em Blumenau, Santa Catarina, em um negócio anunciado no dia 13 de dezembro, sem revelar os termos do acordo, e disse no mês passado que venderia a participação por US$ 598,2 milhões para a Restoque Comércio Confecções de Roupas SA.
A receita da Dudalina cresceu 16 por cento nos nove primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado.
“Ainda há muitas situações interessantes por aí e a Gávea está realizando diligências em algumas firmas no momento”, disse Meyn, acrescentando que os negócios de exportação ligados ao dólar poderiam ser atrativos, considerando o dólar americano valorizado e a perspectiva geralmente fraca para o real no médio prazo.
Desempenho da moeda
O real caiu 7,2 por cento neste ano frente ao dólar, para R$ 2,55. A previsão para o fim de 2015 é de R$ 2,83, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“Vai haver empresas que vão precisar de capital”, disse ele. “Em um ambiente de capital restrito pode haver oportunidades de preço interessantes”.
A associação de private equity da América Latina disse que a tendência está parecendo 2010 e 2011, quando os fundos levantaram montantes recordes.
Os negócios de fusão e aquisição envolvendo fundos de aquisições atingiram US$ 3,8 bilhões até esta altura do ano no Brasil, um incremento de 41 por cento na comparação com o mesmo período do ano passado.
“Os ganhos de eficiência são fundamentais para ajudar as empresas a reduzir os custos em ambientes mais difíceis e isso pode ser conseguido por meio de aquisições com a ajuda de investidores financeiros”, disse Jório Salgado Gama, diretor-gerente da Moelis Co. no Brasil.
‘Crescimento significativo’
O montante total levantado pelas empresas de private equity no Brasil não é “um enorme volume de capital, se relacionado com o tamanho da economia e com as empresas”, disse Otávio Guazzelli, que também é diretor-gerente da Moelis.
“O setor de aquisições teve um crescimento significativo nos últimos anos, mas ainda tem muito espaço para crescer”.
Meyn, da Gávea, que administra US$ 17 bilhões, disse que embora a arrecadação de fundos esteja crescendo, as empresas de private equity “não ampliarão suas equipes como fizeram nos últimos cinco anos”.
Ele disse que os negócios relacionados ao consumo e ao setor imobiliário serão mais desafiadores e que os fundos precisarão olhar para produtos de nicho, enquanto os setores de infraestrutura e energia oferecem maior risco por causa da pressão regulatória.