Frentista abastasse carro em um posto de gasolina da Petrobras no Rio de Janeiro (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2014 às 18h34.
Rio de Janeiro - A gasolina vendida no Brasil pela Petrobras às distribuidoras de combustíveis está agora mais cara do que a média dos valores realizados no Golfo do México dos EUA, por conta da queda acentuada do petróleo, apontou um relatório do Credit Suisse nesta terça-feira.
Essa situação favorável para as contas da divisão de Abastecimento da estatal, que importa combustíveis para atender a demanda doméstica, não acontecia há anos.
Segundo analistas do banco, o preço da gasolina no mercado internacional está 1 por cento mais baixo do que os valores no mercado doméstico brasileiro, invertendo dramaticamente uma situação de defasagem que colabora com prejuízos bilionários seguidos à divisão de Abastecimento da Petrobras.
A diferença entre os preços internacionais da gasolina e os domésticos estava em 24,3 por cento em 25 de setembro.
A inversão na defasagem, segundo a instituição, foi movida principalmente pela redução de 19,2 por cento do preço da gasolina no mercado externo, de 25 de setembro a 13 de outubro, em uma situação de queda acentuada do preço do barril do petróleo.
Também contribuiu para o cenário de redução da defasagem a apreciação de 1,4 por cento do real no período.
No acumulado do ano até setembro, a defasagem dos preços da gasolina foi de 17,3 por cento, em média, segundo o Credit Suisse.
A instituição calculou que a curva de preços futuros mostra uma queda de 3 por cento no preço da gasolina no mercado internacional em dezembro, em relação ao nível atual.
"Assumindo uma taxa de câmbio constante, os preços futuros trazem a expectativa de que o preço do combustível doméstico será 4 por cento maior do que o preço internacional no fim do ano", disse o relatório.
Já no caso de o dólar subir a 2,60 reais até o final do ano, o valor da gasolina brasileira poderá ser 4 por cento mais baixo que os valores no Golfo do México (ponto de referência do mercado), de acordo com o Credit.
Para a instituição, a continuação do declínio dos preços internacionais da gasolina até dezembro, o que é compatível com a previsão de cotações e com um câmbio abaixo de 2,50 dólares, reduziria a necessidade de um aumento de preços dos combustíveis no Brasil em 2014.
Já o diesel, o combustível mais vendido no Brasil, segue mais caro no exterior. Segundo o Credit Suisse, a defasagem é de 5 por cento.
Impactos na Inflação
O cenário pode trazer um alívio para o governo, cobrado constantemente pelo mercado para autorizar reajustes nos combustíveis, para que a Petrobras venda gasolina nos patamares do mercado global.
"Nossa projeção de inflação medida pelo IPCA de 6,4 por cento no final do ano de 2014 não incorpora qualquer aumento nos preços da gasolina, uma vez que levaria a inflação IPCA para exceder o limite superior da meta de inflação", disse o relatório.
No exterior, os preços dos combustíveis flutuam seguindo as cotações do petróleo, diferentemente do Brasil, que são controlados pelo governo, o sócio majoritário da Petrobras, que evita repassar os preços do diesel e da gasolina com o objetivo de não aumentar a inflação.
O Credit Suisse calcula que um aumento de preços de 5 por cento na porta da refinaria até o início de dezembro elevaria a inflação medida pelo IPCA em 2014 em 0,15 ponto percentual.
A anulação da defasagem é positiva, mas o cenário de preços baixos pode prejudicar a empresa, já que a queda do preço do barril do petróleo reduz sua receita de exportações.
O petróleo Brent já recuou cerca de 25 por cento desde junho, quando a agitação no Iraque elevou os preços para cerca de 115 dólares por barril.
Nesta terça-feira, o petróleo Brent fechou a 85,04 dólares, queda de 4,33 por cento, enquanto o petróleo nos Estados Unidos fechou a 81,84 dólares por barril, queda de 4,55 por cento.