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Fusão ExxonMobil e Chevron: o império de John D. Rockefeller de volta?

As conversas para a união de duas das maiores petroleiras do mundo, segundo noticiou o Wall Street Journal, acendem um alerta na indústria petrolífera

Futuro do petróleo é cercado de incertezas (Nick Oxford/File Photo/Reuters)

Futuro do petróleo é cercado de incertezas (Nick Oxford/File Photo/Reuters)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 2 de fevereiro de 2021 às 06h00.

O americano John D. Rockefeller construiu um dos maiores impérios do mundo no final do século XIX. A Standard Oil profissionalizou a indústria do petróleo e praticamente desenvolveu o mercado de contratos futuros na bolsa de valores dos Estados Unidos -- era tanto óleo sendo extraído de solo americano que foi preciso “criar” demanda para tamanha oferta. No entanto, seu reinado foi desmembrado após um longo processo antitruste. Daí nasceram inúmeras empresas, incluindo aquelas que deram origem à Chevron, Exxon e Mobil, entre outras.

Agora, as petroleiras do século XXI se movimentam para sobreviver, principalmente após os efeitos perversos da covid-19 no setor. Isso inclui eventuais discussões para uma fusão entre dois dos maiores descendentes da Standard Oil. Segundo noticiou o Wall Street Journal, ExxonMobil e Chevron iniciaram conversas para uma possível união dos negócios em meio à pandemia do coronavírus. Conforme o periódico, as tratativas foram encerradas, “mas podem voltar no futuro”.

A nova empresa teria mais de 350 bilhões de dólares em valor de mercado, com uma produção diária de 7 milhões de barris por dia. Se concretizada, a união resultaria na segunda maior petroleira do mundo, atrás apenas da estatal saudita Saudi Aramco.

As conversas teriam acontecido após a crise desencadeada pela pandemia do coronavírus. A demanda caiu drasticamente ao redor do mundo, impactando os preços do barril. Em meio a disputas geopolíticas, membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiram acelerar a produção, fazendo com que as cotações derretessem: pela primeira vez na história, os contratos futuros do WTI operaram no terreno negativo.

Paralelamente, as energias renováveis vêm ganhando cada vez mais competitividade frente aos combustíveis fósseis, agravando a situação das petroleiras.

Embora uma possível fusão entre as duas gigantes americanas possa parecer uma boa saída para os envolvidos, enfrentaria, de cara, a resistência dos órgãos antitruste ao redor do mundo, inclusive nos Estados Unidos. As conversas teriam acontecido durante o governo do então presidente Donald Trump, cuja agenda era declaradamente pró-petroleiras.

Agora, com a eleição do democrata Joe Biden, dificilmente haveria espaço para uma grande concentração no mercado de petróleo. A agenda do novo presidente americano procura desestimular os negócios de combustíveis fósseis e uma eventual fusão traria poder de barganha para a nova gigante do setor, em detrimento de suas concorrentes.

Sinal de alerta

Se os ventos sopram contrários à união entre Exxon e Chevron, a ideia do acordo soa como um alerta para a indústria petrolífera global. A recuperação da demanda não está vindo conforme o esperado, principalmente diante da segunda onda da covid-19 no mundo.

Enquanto a economia global patina, o caixa das petroleiras continua corroído. Além de cortes de investimentos no curto prazo para fazer frente à crise, as empresas estão reavaliando projetos de longo prazo, com  risco de comprometimento dos volumes futuros de produção usados somente para repor as perdas naturais do processo produtivo -- o chamado depletion

Na avaliação de Marcelo Assis, chefe de pesquisa da consultoria Wood Mackenzie na área de upstream na América Latina, o movimento de fusões e aquisições no setor de petróleo deve persistir nos próximos anos, principalmente envolvendo players endividados.

"O consumo de combustíveis continuará pressionado nos próximos anos, com montadoras e governos ao redor do mundo adotando medidas rumo à eletrificação", afirma o especialista.

Outro ponto que enfraquece as majors do setor é a questão da atração de investimentos, com as agências de classificação de risco avaliando downgrade de petroleiras. Isso dificulta o acesso a capital, na medida em que encarece o custo do dinheiro para estas empresas. "Tudo isso vem causando a erosão da rentabilidade das petroleiras", destaca Assis.

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