Amor aos Pedaços: a relação do fundo e das duas sócias da rede, Silvana Marmonti e Ivani Calarezi, está desgastada, segundo fontes (Divulgação/Amor aos Pedaços)
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2016 às 13h25.
São Paulo - O fundo Bozano Investimentos está em negociações avançadas para sair do Amor aos Pedaços, uma das maiores redes de doces do País, apurou o jornal O Estado de S. Paulo.
A saída ocorre quase três anos depois de o fundo Mercatto Alimentos, que foi incorporado pela Bozano em 2013, ter entrado no negócio, com 33% de participação.
A relação do fundo e das duas sócias da rede, Silvana Marmonti e Ivani Calarezi, está desgastada, segundo fontes a par do assunto.
Segundo a reportagem apurou, há um descontentamento dos investidores com a performance da rede, com 60 lojas, entre próprias e franquias.
A empresa não teria conseguido cumprir o plano proposto de expansão, que compreendia a inauguração de cem novas unidades franqueadas até o término deste ano.
O planejamento de longo prazo consistia em ampliar de 60 unidades para 240 lojas em cinco anos.
Pesou também na decisão o pouco entrosamento entre os gestores do fundo e as sócias do Amor aos Pedaços, que fundaram a rede em 1982.
As duas são conhecidas por um estilo de gestão centralizador e, segundo fontes, ao longo do tempo ficou evidente que os gestores do Bozano não conseguiram convencer as empresárias a adotarem novas estratégias que não as definidas por elas para a marca.
A expectativa é de que as duas recomprem a fatia da Bozano.
As negociações giram em torno do valor que será pago para a Bozano. "À época, o fundo assumiu as dívidas da rede (de cerca de R$ 20 milhões, ou um terço da receita)", disse uma fonte a par do assunto.
No momento da compra da participação, o faturamento da rede era de R$ 56 milhões. A empresa não divulgou sua receita total em 2015, mas a estimativa de fontes de mercado é de que tenha sido de R$ 64 milhões.
"Quando a transação do Amor aos Pedaços foi feita, o fundo comprador à época era o Mercatto Alimentos, que se fundiu depois com a Bozano. Os antigos gestores do fundo hoje não estão mais cuidando desse negócio", disse a mesma fonte.
A saída da companhia está sendo negociada há pelo menos seis meses. A Bozano Investimento é resultado da fusão dos fundos Mercatto e Trapezus, realizada no fim de 2013 e tem como investimentos empresas como a rede de estacionamentos Estapar, negócios de tecnologia e já foi sócia de outros empreendimentos, como a Anima Educação.
Em dezembro passado, a Bozano anunciou sua saída da Hortifruti, que vendeu 40% de participação por R$ 300 milhões para a gestora suíça Partners Group.
A Bozano detinha 33% do negócio e considerou, segundo fontes, a parceria com a rede de "sacolão de luxo" atrativa, saindo da operação com rentabilidade.
Agora, o fundo está em fase de captação de recursos para fazer novos investimentos em private equity (compra de participação em empresas).
Procurada, Silvana Marmonti - uma das fundadoras da Amor aos Pedaços - disse apenas que a parceria permanece em vigor. Ainda somos sócios.
Se vamos ficar juntos, não sei dizer, disse. A Bozano não comentou.
Desafios
Ainda no ano passado, em uma tentativa de impulsionar o negócio, a Bozano trocou o executivo que cuidava diretamente da rede, com objetivo de tentar reduzir a capacidade ociosa da planta industrial - em 2012, a rede inaugurou uma nova fábrica, três vezes maior do que a anterior, na cidade de Cotia, na grande São Paulo, ao custo de R$ 5 milhões.
O desafio das sócias é grande. Elas formataram uma opção econômica de franquia, no modelo de quiosques, que esperam comercializar por R$ 180 mil (a loja completa custa por volta de R$ 400 mil).
A rede também desenvolveu uma linha de bolos congelados, para começar a trabalhar dentro de uma faixa de renda um pouco mais popular.
"Vamos lançar no próximo mês. Teremos um bolo trufado, um bolo floresta negra. São produtos que não temos em nossa linha tradicional, por um preço médio de R$ 59", diz Silvana.
Além de ampliar o sortimento dos franqueados, a introdução das sobremesas congeladas também é vista como um teste para uma possível nova frente de receitas da empresa: a venda de produtos em supermercados.
Nos últimos anos, a rede anda de lado, presa no descontentamento da base de franqueados. O motivo para isso, na opinião de Marcus Rizzo, dono da Rizzo Franchising, reside no modelo de relacionamento com os franqueados.
"Esse é um problema que atinge 64% das redes no Brasil. Elas obrigam os franqueados a comprar 100% dos produtos de um único fornecedor, a franquia. Na hora do fechamento do contrato, tudo bem, a informação passa. Mas, ao longo do tempo, quando o empresário percebe que está pagando mais caro por uma forma de bolo, o descontentamento cresce. Ainda mais quando a venda não vai tão bem", diz o consultor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.